Os riscos de 2022 para o futuro de Doria num PSDB sem alma; leia análise

By | 28/11/2021 7:25 am

Com início meteórico na política partidária, João Doria, no intervalo de dois anos (2016-2018), saiu da condição de prefeito de São Paulo, primeiro cargo eletivo que disputou, para a de governador do Estado, alcançando protagonismo no seu partido e na cena política nacional. Agora, torna-se presidenciável ao vencer as prévias do PSDB numa disputa marcada por acusações e muita tensão entre os concorrentes. A pergunta que se faz é: qual será o PSDB que vai conduzir a campanha de 2022? O conjunto de contendas que acompanham a recente trajetória sobre a vida partidária de Doria lança dúvidas sobre se o PSDB marchará unido para o próximo pleito presidencial.

 

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Os candidatos do PSDB Arthur Vigílio, João Doria e Eduardo Leite ao lado do presidente da sigla, Bruno Araújo, no centro de Convenções Brasil 21, participam das prévias do PSDB. Foto: Gabriela Biló/Estadão

Eleito prefeito de São Paulo graças ao apoio pessoal do então governador Geraldo Alckmin, João Doria passou a atuar fortemente na política partidária atropelando seus adversários no partido. Sua ambição presidencial já se explicitava quando, ainda prefeito, passou a ser apresentado por simpatizantes como provável presidenciável tucano em 2018, entrando em rota de conflito com Alckmin, cujo nome já era tido como certo para ser o candidato a presidência do ninho tucano.

Doria acabou disputando o governo do Estado com uma retórica típica das hostes bolsonaristas, além de se distanciar da campanha tucana à Presidência da República. No segundo turno vinculou sua imagem com a de Jair Bolsonaro, de quem hoje é desafeto, lançando a aliança Bolsodoria, o que causou calafrios em tucanos históricos.

O acúmulo de conflitos no PSDB suscita dúvidas se a campanha presidencial de João Doria será capaz de juntar os cacos do passado e superar as divisões que alimentaram essas prévias, muitas feridas ainda estão expostas. Heterogêneo, a razão de existência do grupo de Eduardo Leite, que unia aecistas, tucanos bolsonaristas e outros segmentos do PSDB, era ser uma frente anti-Doria.

Desconfia-se, inclusive, que parte desse grupo queria ver Leite vice de outro candidato a presidente com mais chances de derrotar Lula e Bolsonaro, assim também como tucanos bolsonaristas certamente não estarão apoiando Doria e dificilmente marchariam com Leite. O PSDB não apenas se tornou menor nos últimos anos, mas perdeu a alma que uniu o grupo na motivação para criar o partido em 1988.

Patinando nas pesquisas e vendo Moro se consolidar como alternativa a Bolsonaro, João Doria corre o risco de fracassar como presidenciável e de ver Geraldo Alckmin, seu desafeto, voltar a governar São Paulo. O capital político por ele acumulado nesses poucos mais de cinco anos de disputa eleitoral poderá se esvair rapidamente. Caso fique sem governo e sem recursos de poder, a conta certamente vai chegar. Ter feito política eliminando companheiros de partidos e possíveis aliados deixou João Doria com uma legião de inimigos. A sorte está lançada, mas é bom lembrar, em política não é sempre que se ganha.

*CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE GESTÃO PÚBLICA DA FGV EAEP, ONDE COORDENA O MESTRADO PROFISSIONAL EM GESTÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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