Aproximação com ex-presidente do Banco Central Affonso Pastore agradou empresários e acionistas; Guedes perde confiança do público
A avaliação é de especialistas ouvidos pelo Metrópoles, que ressaltam, contudo, que Moro só deve consolidar o apoio do mercado se trouxer um segundo “posto Ipiranga” ao poder, como costumava ser chamado Guedes durante a campanha eleitoral de 2018. Em entrevista ao programa Conversa com Bial, o ex-juiz federal revelou a aproximação com Pastore, considerado por ele um dos “melhores nomes do país”.
Ao analisar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) na disputa, especialistas explicam que o mercado teme o retorno da equipe econômica do governo Dilma. Em razão disso, Lula fica de fora da lista dos preferidos para o cargo, mesmo que instituições financeiras e empresas tenham ganhado muito dinheiro durante os dois mandatos do petista no Planalto.
“Tende a vencer aquele que tiver o discurso mais liberal”, avalia o ex-secretário de Assuntos Estratégicos do governo Sarney Raul Velloso.
“Hoje, Lula precisa ainda mostrar a cara, porque desde que foi eleito aconteceu muita coisa. Veio o governo Dilma, que foi um desastre no sentido econômico, por exemplo. Resta saber: O Lula de hoje é mais próximo do Lula antigo ou de Dilma?”, indaga Velloso.
Outro impeditivo do namoro entre o ex-presidente e o mercado são os escândalos de corrupção envolvendo a Petrobras, que foram descobertos durante seu governo. De acordo com o economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, os acionistas acreditam que Lula teve ingerência sobre a estatal.
“Além disso, ele usa bancos públicos para fazer o trabalho que bancos privados poderiam fazer. Lula gera gastos maiores do que o necessário. Mas é inegável, ele foi bem em seu mandato, mas com grande ajuda do que já havia sido feito no governo de Fernando Henrique Cardoso”, diz Perfeito.
A ex-diretora do BNDES no governo FHC Elena Landau lembra que ainda “falta gente para aparecer no jogo”. Segundo ela, o candidato a ser escolhido pelo PSDB pode dividir as opiniões do mercado. A legenda tenta encerrar o conturbado processo de prévias entre o governador de São Paulo, João Doria (PSDB-SP), e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB-RS).
“Todo mundo está escapando do Bolsonaro. Por outro lado, Lula tem radicalizado nas suas conversas, não tem mostrado aceno ao centro. Ele vem falando da mesma equipe que já deu tudo errado outra vez [governo Dilma]. Moro ainda tem que se mostrar, mas falou de responsabilidade fiscal e de precatórios. Porém, ainda falta gente nesse jogo, falta o PSDB aparecer”, afirmou.
Divórcio com Paulo Guedes
Segundo fontes ouvidas pela reportagem, Guedes está cada vez “mais queimado” no mercado financeiro. O descrédito do ministro se intensificou no mês passado, quando os principais técnicos da equipe econômica pediram exoneração do cargo.
A debandada ocorreu na esteira da oficialização do furo no teto de gastos. Para viabilizar a promessa de Bolsonaro de distribuir um Auxílio Brasil de R$ 400, Guedes admitiu ter uma “licença” para gastar acima do limite fiscal. Essa sinalização caiu como uma bomba sobre o Ibovespa. No fechamento do dia, o índice desabou 2,75%, aos 107.735,01 pontos. Desde então, a bolsa vem patinando.
“Bolsonaro, ainda que tenha levantado bandeira liberal, é liberal-gastador, e Guedes não consegue segurá-lo. Por esse motivo, ele não é a razão dos amores do mercado financeiro. É muito difícil Guedes recuperar a confiança novamente. Eles deram total apoio ao Paulo Guedes, mas o tempo foi passando e eles foram se decepcionando”, explica o ex-secretário de Assuntos Estratégicos do governo Sarney Raul Velloso.
O economista-chefe da Necton Investimentos, André Perfeito, concorda com essa avaliação e acrescenta que bolsa em baixa e os juros muito elevados são os principais motivos de desencanto do mercado com o ministro. “Bolsonaro ainda não tem força para fazer preço dos ativos subirem. Além disso, essa PEC dos Precatório [que viabiliza o Auxílio Brasil], é uma novidade eleitoral. Está dando superpoderes para o presidente em ano da eleição”, complementa.
“Queridinho” do mercado financeiro, e mais novo conselheiro de Moro, Affonso Celso Pastore também não poupa críticas à gestão de Paulo Guedes no Ministério da Economia. Em entrevista ao UOL, em setembro desse ano, ele afirmou que o economista opera como “cheerleader” de Bolsonaro e deu “nota zero” à sua condução da economia do país.