Doria, neófito na sigla e na política e com rejeição alta, tem uma missão desafiadora de unir a tucanada
A sucessão presidencial vai ganhando forma e nomes e a definição do governador João Doria como candidato do PSDB é um novo fator relevante, pela tradição do partido e a determinação do candidato, mas há uma forte divisão e uma corrida de obstáculos.
Começou com o fiasco das prévias, que jogaram luzes não no PSDB e em Doria, mas na incompetência da votação, na guerra interna, que não é novidade, e nas fragilidades dos candidatos, que ficaram mais em evidência do que as qualidades.
Doria bateu o também governador Eduardo Leite por 54% a 45%, ou seja, sai das prévias com um partido dividido exatamente ao meio e com um histórico de ciúmes e guerras internas entre os paulistas e, por fim, entre paulistas e o mineiro Aécio Neves. Como unir os cacos agora?
Todos tinham profunda ligação com o PSDB, o que não é o caso de Doria, neófito no partido e na política e com rejeição alta, o que torna sua missão de unir a tucanada ainda mais desafiadora. Alckmin já está fora, Aécio detesta Doria, Tasso Jereissati não vai com Doria. E não está sozinho.
Por outro lado, Doria teve vitórias surpreendentes: para a Prefeitura de São Paulo num inédito primeiro turno e para o Palácio dos Bandeirantes, embalado, diga-se, pelo “BolsoDoria”. E tem a alavanca de São Paulo e o trunfo de ter saído na frente na vacinação contra covid. Isso, ninguém tira dele.
O obstáculo seguinte é a disputa pela raia da terceira via, para lá de congestionada e com o ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro largando bem. Doria, Moro e Luiz Henrique Mandetta ensaiaram um acordo: quem tiver mais chance arrasta os outros.
Se fosse hoje, o acordo favoreceria Moro, mas isso é coisa para meados de 2022 e, sabem como é, acordo em política tem validade curta, como a memória do eleitor. Mais: é coisa de Doria, não do PSDB.
E, se Doria passou raspando pelas prévias e enfrenta uma pedreira para ultrapassar Moro e Ciro Gomes para ser o “candidato de centro”, o pior vem depois: a eleição. Treino é treino, jogo é jogo.
Há uma muralha até o segundo turno, com o ex-presidente Lula favorito nas pesquisas e o presidente Jair Bolsonaro com a caneta. Nenhum presidente perdeu a reeleição desde 1998. Nem Dilma Rousseff, alvo de impeachment logo depois.
Para o PSDB, está em jogo não só uma eleição, mas o seu futuro. Nocauteado em 2018, perde seus líderes, sua cara e sua alma e tem duas opções: ou cerrar fileiras para o que der e vier com Doria e depois com Moro e os demais na terceira via, ou dispersar, fechar o livro e virar história.
COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA