Nove estados da região têm mais de 39 milhões de eleitores, mais de um quarto do total do país
Após ser escolhido pelo PSDB como pré-candidato à Presidência, o governador de São Paulo, João Doria, vai intensificar nas próximas semanas as negociações em torno de apoios e alianças para as eleições de 2022.
Um dos focos de articulação será com aliados no Nordeste, onde o tucano precisa expandir o potencial de votos e de aliados com candidaturas competitivas para os governos estaduais.
Pesquisa Datafolha divulgada em setembro mostra que Doria tinha apenas 1% das intenções de voto no Nordeste. Juntos, os nove estados da região têm mais de 39 milhões de eleitores, mais de um quarto do total do país.
A primeira dor de cabeça para a campanha de Doria será montar palanques competitivos nos três principais estados da região em número de eleitores: Bahia, Ceará e Pernambuco.
Em maio, o ex-prefeito disse que Doria é “despreparado” para conduzir um projeto nacional de governo. A fala de ACM se deu em meio à insatisfação do DEM, partido do qual é presidente, com a articulação de Doria para filiar o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, ao PSDB.
Em outubro, ainda antes das prévias tucanas, ACM Neto disse que Doria quer ser candidato a presidente “a qualquer custo”.
Interlocutores de ACM Neto, no entanto, afirmaram à Folha reservadamente que o ex-prefeito soteropolitano poderá reatar pontes com Doria caso ele se viabilize como alternativa à polarização entre Lula e Bolsonaro no plano nacional.
O entorno de ACM Neto, porém, frisa que o gesto em prol do diálogo deve partir do governador paulista.
Em Pernambuco, o PSDB tem como pré-candidata ao governo Raquel Lyra, prefeita de Caruaru. Ela apoiou Eduardo Leite na votação interna da sigla, mas deu declarações de que agora estará ao lado de Doria.
Conforme a Folha revelou em novembro, Lyra estava mais propensa a ser candidata a governadora se Eduardo Leite fosse candidato a presidente, mas o governador gaúcho acabou derrotado nas prévias tucanas.
A tucana avaliava que o gaúcho seria a novidade na campanha eleitoral e poderia ajudar na transferência de votos no pleito pernambucano, que deverá ser duro para a oposição, que tem como objetivo tomar o poder após quatro governos seguidos do PSB.
Apesar disso, Raquel tem dito a aliados que está animada com a possibilidade de disputar o Executivo estadual. O problema pode ser uma aliança com o PL, partido de Bolsonaro e comandado em Pernambuco pelo prefeito de Jaboatão dos Guararapes, Anderson Ferreira.
Caso a cúpula do PL vete apoio à candidata do PSDB em Pernambuco, similar ao que ocorreu em São Paulo, a chapa de Lyra ficaria fragilizada, pois ela, além do partido de Bolsonaro, tem aliança com Cidadania e PSC, legendas com menores tempos de propaganda na televisão e em número de prefeitos.
No Ceará, o PSDB é comandado pelo grupo do senador licenciado Tasso Jereissati, que se afastou do mandato em Brasília para, entre outros, ajudar Leite nas prévias. Como o gaúcho perdeu, Doria terá que refazer pontes com o cearense.
Apesar de ter governado o Ceará em quatro ocasiões, o PSDB foi empurrado para a oposição em 2006 e não saiu de lá desde então.
Além disso, a eleição estadual está polarizada entre Roberto Cláudio (PDT), aliado de Ciro Gomes, e o deputado federal Capitão Wagner (Pros), defensor de Bolsonaro, o que dificulta a formação de um palanque competitivo para votar em Doria.
Em contraponto à tendência de dificuldade na formação de palanques aliados nos maiores colégios eleitorais do Nordeste, Doria deverá ter membros do PSDB como candidatos a governador no Piauí, no Maranhão e em Alagoas.
Apesar de ter ligação com Lula, Dino quer demonstrar lealdade a Brandão, por ter sido um dos primeiros a apoiá-lo na disputa de 2014, quando, juntos, venceram o grupo ligado à família Sarney.
Com Brandão candidato, Doria deverá ter mais musculatura política para percorrer as ruas de São Luís e do interior do estado.
Cenário similar deve ocorrer em Alagoas, onde o senador Rodrigo Cunha é o provável candidato do PSDB a governador. Tucanos do estado afirmaram à reportagem que não descartam a possibilidade do prefeito de Maceió, João Henrique Caldas (PSB), apoiar Doria na disputa nacional.
JHC, como é conhecido, é resistente à possibilidade que se avizinha da legenda socialista apoiar o ex-presidente Lula (PT) e pode se contrapor ao próprio partido apoiando um nome da terceira via, que poderá ser o governador de São Paulo.
No Piauí, o pré-candidato do PSDB a governador do estado é o ex-prefeito de Teresina Silvio Mendes. Mas o obstáculo para Doria ter um grupo com protagonismo ao seu lado no estado pode se esbarrar no próprio Mendes.
Isso porque, em entrevista à imprensa local, Mendes não descartou a possibilidade de deixar o PSDB e ir para o PP, que é liderado por Ciro Nogueira no Piauí.
O ministro da Casa Civil do governo Bolsonaro, inclusive, já fez acenos ao ex-prefeito de Teresina e disse publicamente, em julho, que Mendes foi “um dos maiores amigos que ele já fez na política”.
O deputado federal Pedro Cunha Lima (PSDB-PB) defende que a legenda apoie no estado o ex-prefeito de Campina Grande Romero Rodrigues (PSD).
Nos bastidores, o nome do parlamentar tem ganhado força para a disputa pelo governo da Paraíba, sobretudo após Romero flertar com o grupo do governador João Azevêdo (Cidadania), que tentará a reeleição e deverá apoiar Lula.
Apesar do favoritismo de Azevêdo para a reeleição, o PSDB nacional avalia que Pedro Cunha Lima tem potencial de votos, sobretudo perante o eleitorado jovem. Essa característica poderá, acreditam os tucanos, ajudar João Doria a conquistar eleitores paraibanos.