A agonia da indústria

By | 04/12/2021 10:52 am

Dedicada ao atraso, gestão bolsonariana acelera o retrocesso histórico e a desindustrlalização do Brasil

(Editorial do Estadão, em 04/12/2021)

 

A produção industrial caiu 0,6% em outubro, acumulou cinco quedas seguidas e ficou 4,1% abaixo do patamar de fevereiro de 2020, último mês antes do choque inicial da pandemia. Com resultados negativos em oito de dez meses, neste ano, a indústria se manteve como o setor menos dinâmico de uma economia já enfraquecida. O desempenho industrial de outubro foi divulgado um dia depois do desastroso balanço geral do terceiro trimestre, quando o Produto Interno Bruto (PIB) caiu 0,1% e o País ingressou em uma recessão técnica. O fiasco econômico prosseguiu, portanto, no início do trimestre final de 2021. Mas o Brasil está decolando, disse o ministro da Economia, Paulo Guedes, sem dar importância, aparentemente, a duas quedas trimestrais do PIB. Em contrapartida, os fatos parecem dar pouca importância às fantasias ministeriais.

O volume produzido encolheu, em outubro, em 19 dos 26 segmentos cobertos pela pesquisa industrial do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A escassez de insumos, consequência dos desarranjos causados pela pandemia, explica apenas em parte, portanto, o desempenho da indústria. O setor industrial brasileiro já estava enfraquecido antes da covid-19 e assim continua. A produção acumulada no ano foi 5,7% superior à de igual período de 2020, mas isso decorre principalmente da base de comparação muito baixa. Ainda assim, o resultado de outubro foi 7,8% inferior ao de um ano antes e ficou 20,2% abaixo do pico atingido em maio de 2011.

Parte dos problemas da indústria tem origem externa. O desarranjo das cadeias produtivas é fenômeno global e afeta o suprimento de insumos e os custos de produção. Mas fatores internos também são importantes e estão relacionados a ações e omissões do poder federal. O desemprego de 12,6% da força de trabalho, a baixa remuneração da maior parte dos trabalhadores, a supervalorização do dólar e a inflação superior a 10% em 12 meses são desajustes made in Brazil. Juros altos também atrapalham a atividade, mas são o principal instrumento do Banco Central contra o aumento de preços.

A fraqueza da indústria é problema tanto de curto quanto de longo prazo. A curto prazo, o baixo dinamismo do setor dificulta o crescimento econômico e a criação de empregos, principalmente de empregos formais e de qualidade acima da média. Na perspectiva mais ampla, a debilidade industrial empobrece as perspectivas da economia brasileira e, mais que isso, pode resultar num retrocesso histórico. Depois de um século de notáveis conquistas, o Brasil vem-se caracterizando, há cerca de uma década, como um país em desindustrialização. Não seria excessivo falar de uma reversão do desenvolvimento. Essa reversão se acentuou a partir de 2019 com as atitudes anticientíficas do presidente da República, o desmonte das instituições e das políticas educacionais e, de modo mais amplo, com a depreciação e a quase criminalização da cultura. O retrocesso antes atribuível a erros de governo é hoje intensificado pela valorização deliberada do atraso.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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