Movimentação é vista em ala do PSL contrária a Bolsonaro e atinge ainda PSDB, MDB, Cidadania, PSD, Podemos e outros
A menos de um ano das eleições, a decisão do presidente Jair Bolsonaro de se filiar ao PL e a provável entrada do ex-juiz Sergio Moro na disputa de 2022 levaram o bloco de partidos que defendem a terceira via a tentar promover expurgos de bolsonaristas.
Essa movimentação é vista na ala do PSL contrária a Bolsonaro e atinge também PSDB, MDB, Cidadania, PSD e Podemos, entre outros partidos menores.
Apesar disso, cenários regionais podem falar mais alto, já que Bolsonaristas dessas siglas têm resistido a sair por medo de não conseguirem se reeleger.
A movimentação foi explicitada durante as prévias do PSDB para escolha do candidato do partido à Presidência. Mesmo se declarando oposição a Bolsonaro, a legenda tem acompanhado o governo em votações importantes no Congresso.
“Meu partido ter uma bancada de bolsonaristas? Mas tem tanto partido para eles se abrigarem. Ele [Bolsonaro] não vai para o PL agora do [Valdemar] Costa Neto? Vai junto”, disse no final de novembro. “Não aqui. Para nós, aqui, não serve. Eu não estou medindo o número de deputados, eu quero qualidade.”
Nas prévias, o ex-senador recebeu somente 1,35% dos votos tucanos —na prática, ele estava alinhado com o vencedor, João Doria (SP), um dos principais opositores a Bolsonaro no campo da centro-direita.
Apesar de menos incisivo que Virgílio, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, reconheceu que o partido, rachado nas prévias, precisava de uma reconstrução interna.
“E o importante não é só a construção interna, é imediatamente dialogando com os conjuntos das forças de centro, para que possamos oferecer uma alternativa ao brasileiro de estarmos no segundo turno e vencermos a eleição presidencial para cuidar de emprego, cuidar de renda, e o país parar de discutir e se reunificar para os temas importantes na vida de todos.”
No partido, a ala identificada como mais próxima ao bolsonarismo é liderada pelo deputado Aécio Neves (MG) —chamado por Virgílio durante as prévias de “maçã podre que estraga as outras”.
O PSDB virou ainda a casa de detratores de Bolsonaro, como a ex-líder do governo no Congresso Joice Hasselmann (SP) e o deputado Alexandre Frota (SP). Viu também a saída de um ministro do presidente, Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), que se filiou ao PL no mesmo dia que Bolsonaro.
No PSL (que forma a União Brasil, ao lado do DEM), alguns aliados do presidente, como o deputado Coronel Tadeu (SP), já falam abertamente que devem migrar para o novo partido de Bolsonaro.
No entanto isso só aconteceria na janela partidária, prazo de 30 dias para que parlamentares troquem de partido sem risco de perder o mandato. Esse período começa em março e se encerra em abril.
Antes de bater o martelo, o bolsonarista ainda vai avaliar a questão estadual —o próprio PL tem restrições em alguns estados para receber os novos deputados. Isso se dá porque alguns atuais deputados temem perder a reeleição para os novatos que ingressarem na sigla.
O PSD, que tem como candidato ao Palácio do Planalto o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), deve ver o ministro Fábio Faria (Comunicações) trocar o partido pelo PP, do também ministro Ciro Nogueira (Casa Civil).
Outros aliados de Bolsonaro devem fazer o mesmo, como o deputado Éder Mauro (PA). “Vou me filiar ao PL, mas só posso fazer isso na janela [de troca partidária], em março”.
O parlamentar ainda não definiu seus planos eleitorais para 2022, pois, afirma, o presidente gostaria que ele saísse para governador do Pará. Se isso não for viável, tentará a reeleição.
Segundo Éder Mauro, a conversa com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, foi “supertranquila” e as portas do partido continuariam abertas para ele.
Alguns parlamentares do Nordeste já estavam costurando apoio ao PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto outros do Sul conversavam sobre aliança com o grupo de Bolsonaro.
Na avaliação do deputado José Medeiros (MT), a filiação do Bolsonaro ao PL marca oficialmente o início do período eleitoral e a definição de parlamentares que ainda não sabiam para onde ir.
“No meu caso, eu gostaria de ficar no Podemos. Mas eu tenho quase certeza que o partido vai mandar eu passear”, disse.
“Eu creio que o Podemos vai acabar mandando eu sair por causa da candidatura a presidente do Moro, e eu sou candidato ao Senado em Mato Grosso. Também não tem como eu ir para o PL, porque o PL tem um candidato ao Senado lá”, afirmou.
No estado, o partido de Valdemar Costa Neto tem como possível candidato à reeleição o senador Wellington Fagundes. Sem a opção de migrar para o PL, ele cogita ir para o Republicanos ou o PTB, ambos base do governo.
Em outros partidos, essa pressão para saída de bolsonaristas não é tão perceptível. No MDB, que deve lançar a senadora Simone Tebet (MS) como pré-candidata à Presidência na próxima quarta-feira (8), alguns quadros alinhados ao presidente fazem planos de continuar na legenda.
É o caso do ex-ministro do Desenvolvimento Social Osmar Terra (RS). “Pretendo continuar no MDB, continuo apoiando o presidente. O MDB sempre deixou a gente à vontade”, afirmou. “Sou Bolsonaro, admiro muito o presidente.”
Na linha contrária, antibolsonaristas, como o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), discutem saída do centrão. Mesmo ligado a um partido do centrão, Ramos é uma das principais vozes críticas ao presidente dentro da Câmara.
No dia da filiação, ele escreveu, em uma rede social, que não estaria no palanque de Bolsonaro, mas que respeitava o partido.
“Há um desejo da bancada e até do presidente Valdemar de que eu fique no partido, mas todos reconhecem a dificuldade por conta da minha contraposição ao presidente e dos conflitos no Amazonas”, afirmou, à Folha.