Terceira via tenta se ‘desbolsonarizar’, mas esbarra em entraves regionais

By | 06/12/2021 1:30 pm

Movimentação é vista em ala do PSL contrária a Bolsonaro e atinge ainda PSDB, MDB, Cidadania, PSD, Podemos e outros

A menos de um ano das eleições, a decisão do presidente Jair Bolsonaro de se filiar ao PL e a provável entrada do ex-juiz Sergio Moro na disputa de 2022 levaram o bloco de partidos que defendem a terceira via a tentar promover expurgos de bolsonaristas.

Essa movimentação é vista na ala do PSL contrária a Bolsonaro e atinge também PSDB, MDB, Cidadania, PSD e Podemos, entre outros partidos menores.

Apesar disso, cenários regionais podem falar mais alto, já que Bolsonaristas dessas siglas têm resistido a sair por medo de não conseguirem se reeleger.

Filiação do presidente Jair Bolsonaro no PL
Filiação do presidente Jair Bolsonaro no PL, partido de Valdemar Costa Neto – Pedro Ladeira/Folhapress

A movimentação foi explicitada durante as prévias do PSDB para escolha do candidato do partido à Presidência. Mesmo se declarando oposição a Bolsonaro, a legenda tem acompanhado o governo em votações importantes no Congresso.

“Meu partido ter uma bancada de bolsonaristas? Mas tem tanto partido para eles se abrigarem. Ele [Bolsonaro] não vai para o PL agora do [Valdemar] Costa Neto? Vai junto”, disse no final de novembro. “Não aqui. Para nós, aqui, não serve. Eu não estou medindo o número de deputados, eu quero qualidade.”

Virgílio defendeu ainda que o PSDB rompesse “qualquer laço com o bolsonarismo”. “Não tem qualquer circunstância que valha a pena isso.”

Nas prévias, o ex-senador recebeu somente 1,35% dos votos tucanos —na prática, ele estava alinhado com o vencedor, João Doria (SP), um dos principais opositores a Bolsonaro no campo da centro-direita.

Apesar de menos incisivo que Virgílio, o presidente do PSDB, Bruno Araújo, reconheceu que o partido, rachado nas prévias, precisava de uma reconstrução interna.

“E o importante não é só a construção interna, é imediatamente dialogando com os conjuntos das forças de centro, para que possamos oferecer uma alternativa ao brasileiro de estarmos no segundo turno e vencermos a eleição presidencial para cuidar de emprego, cuidar de renda, e o país parar de discutir e se reunificar para os temas importantes na vida de todos.”

No partido, a ala identificada como mais próxima ao bolsonarismo é liderada pelo deputado Aécio Neves (MG) —chamado por Virgílio durante as prévias de “maçã podre que estraga as outras”.

O PSDB virou ainda a casa de detratores de Bolsonaro, como a ex-líder do governo no Congresso Joice Hasselmann (SP) e o deputado Alexandre Frota (SP). Viu também a saída de um ministro do presidente, Rogério Marinho (Desenvolvimento Regional), que se filiou ao PL no mesmo dia que Bolsonaro.

No PSL (que forma a União Brasil, ao lado do DEM), alguns aliados do presidente, como o deputado Coronel Tadeu (SP), já falam abertamente que devem migrar para o novo partido de Bolsonaro.

No entanto isso só aconteceria na janela partidária, prazo de 30 dias para que parlamentares troquem de partido sem risco de perder o mandato. Esse período começa em março e se encerra em abril.

Antes de bater o martelo, o bolsonarista ainda vai avaliar a questão estadual —o próprio PL tem restrições em alguns estados para receber os novos deputados. Isso se dá porque alguns atuais deputados temem perder a reeleição para os novatos que ingressarem na sigla.

O PSD, que tem como candidato ao Palácio do Planalto o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), deve ver o ministro Fábio Faria (Comunicações) trocar o partido pelo PP, do também ministro Ciro Nogueira (Casa Civil).

Outros aliados de Bolsonaro devem fazer o mesmo, como o deputado Éder Mauro (PA). “Vou me filiar ao PL, mas só posso fazer isso na janela [de troca partidária], em março”.

O parlamentar ainda não definiu seus planos eleitorais para 2022, pois, afirma, o presidente gostaria que ele saísse para governador do Pará. Se isso não for viável, tentará a reeleição.

Segundo Éder Mauro, a conversa com o presidente do PSD, Gilberto Kassab, foi “supertranquila” e as portas do partido continuariam abertas para ele. ​

Alguns parlamentares do Nordeste já estavam costurando apoio ao PT do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, enquanto outros do Sul conversavam sobre aliança com o grupo de Bolsonaro.

Na avaliação do deputado José Medeiros (MT), a filiação do Bolsonaro ao PL marca oficialmente o início do período eleitoral e a definição de parlamentares que ainda não sabiam para onde ir.

“No meu caso, eu gostaria de ficar no Podemos. Mas eu tenho quase certeza que o partido vai mandar eu passear”, disse.

“Eu creio que o Podemos vai acabar mandando eu sair por causa da candidatura a presidente do Moro, e eu sou candidato ao Senado em Mato Grosso. Também não tem como eu ir para o PL, porque o PL tem um candidato ao Senado lá”, afirmou.

No estado, o partido de Valdemar Costa Neto tem como possível candidato à reeleição o senador Wellington Fagundes. Sem a opção de migrar para o PL, ele cogita ir para o Republicanos ou o PTB, ambos base do governo.

Em outros partidos, essa pressão para saída de bolsonaristas não é tão perceptível. No MDB, que deve lançar a senadora Simone Tebet (MS) como pré-candidata à Presidência na próxima quarta-feira (8), alguns quadros alinhados ao presidente fazem planos de continuar na legenda.

É o caso do ex-ministro do Desenvolvimento Social Osmar Terra (RS). “Pretendo continuar no MDB, continuo apoiando o presidente. O MDB sempre deixou a gente à vontade”, afirmou. “Sou Bolsonaro, admiro muito o presidente.”

Na linha contrária, antibolsonaristas, como o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), discutem saída do centrão. Mesmo ligado a um partido do centrão, Ramos é uma das principais vozes críticas ao presidente dentro da Câmara.

No dia da filiação, ele escreveu, em uma rede social, que não estaria no palanque de Bolsonaro, mas que respeitava o partido.

“Há um desejo da bancada e até do presidente Valdemar de que eu fique no partido, mas todos reconhecem a dificuldade por conta da minha contraposição ao presidente e dos conflitos no Amazonas”, afirmou, à Folha.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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