Bolsonaro, o boquirroto
Alguém pode dizer ao presidente para ouvir e pensar, antes de falar?
(Eliane Cantanhêde, collunista do Estadão, em 07/12/2021)
Em boca fechada não entra mosca, mas o presidente Jair Bolsonaro não para de falar absurdos que têm imenso impacto, ora na saúde e na vida das pessoas, ora na credibilidade do Brasil, ora diretamente na economia brasileira. Impressionante!
Por sorte, os brasileiros confiam nas vacinas, antes para o combate a doenças que foram praticamente erradicadas, agora para resistir à covid-19. Se tivessem seguido a orientação e o exemplo do presidente, a pandemia teria sido ainda mais drástica.
Por sorte também, o Brasil tem história, tradição, excelentes institutos, um bom sistema público e profissionais muito capacitados na área de saúde pública. Nossos epidemiologistas são incansáveis, um consolo.
Nem eles nem a Anvisa, porém, estão decidindo a reação nacional à variante Ômicron. Diz o ditado, fundamental na medicina, que é melhor prevenir do que remediar. Aparentemente, a Ômicron contagia muito, mata pouco e não é tão perigosa quanto se temia, mas não se pode abrir a guarda antes de ter certeza com base em estatísticas e estudos de laboratório.
A Anvisa recomenda a suspensão de voos de novos países da África e a exigência de vacinação para quem entrar no País. Mas nem estava na lista da reunião de ontem, que acabou cancelada, entre os “cientistas” Ciro Nogueira (Casa Civil), Anderson Torres (Justiça), Tarcísio Freitas (Infraestrutura) e Marcelo Queiroga (Saúde).
Era uma reunião só para dizer amém a Jair Bolsonaro, que não quer medida nenhuma? Além de não se vacinar, ele já divulgou fake news espantosas: máscaras fazem mal às crianças, a segunda dose causa Aids… E a do jacaré?
Bolsonaro, que já atacou China, países árabes, presidentes e ex-presidentes de França, Chile, Argentina e até Joe Biden, adora criar confusão com órgãos e empresas públicas, a última com a Petrobras. E foi um tiro no pé. Ele anunciou queda nos preços de combustíveis nesta semana, mas a Petrobras desmentiu, dizendo que não tem nada decidido.
Se haveria redução de preços, não há mais, para não confirmar o vazamento de informações estratégicas e sigilosas para uso político. A Comissão de Valores Mobiliários abriu processo administrativo para apurar.
O Supremo investiga Bolsonaro por ingerência política na Polícia Federal, o TCU desmentiu um estudo fake alardeado por ele sobre mortes por covid, a PF apura o vazamento de informações sigilosas sobre um ataque hacker ao TSE, numa live dele, e o próprio TSE abriu inquérito sobre fake news do presidente contra as urnas eletrônicas. Ufa! O que Bolsonaro tem na cabeça?