Qual a religião de Jair Bolsonaro? Confusão o beneficia há tempos; análise

By | 09/12/2021 12:28 pm

Bolsonaro não é claro na comunicação sobre qual é sua religião e beneficia-se da dúvida do eleitorado há anos

Rafaela Felicciano/Metrópoles
“Qual a religião de Jair Bolsonaro?”. Esta é uma das perguntas mais feitas ao Google com o nome do presidente. A dúvida na cabeça do brasileiro não é à toa. Bolsonaro de fato não é claro na comunicação sobre qual é sua religião. Beneficia-se dessa dúvida há anos, fazendo o eleitorado evangélico acreditar que tem no presidente um fiel como ele. E seu comportamento de fato leva à conclusão errada.

Sobre a ocasião, disse Everaldo: “As pessoas não entendem que batismo não é coisa de evangélico ou católico, mas de todos que creem que Jesus é seu salvador.” A explicação, para quem a via, solucionava a dúvida. Mas e quem não viu?

Bolsonaro se aproximou da bancada evangélica devido ao projeto de lei 122, que criminalizava a homofobia, em 2006, e a que os deputados evangélicos se opuseram ferrenhamente. A parceria se renovou em 2010 no caso do kit gay. Bolsonaro percebeu ali que poderia crescer seu eleitorado se adotasse o discurso religioso.

Até então, nunca havia sido um parlamentar religioso. A pauta do Bolsonaro dos anos 1990 e dos primeiros anos do novo século era a defesa de benefícios para militares e suas famílias e o choro de viúva da ditadura, falando frases de efeito aqui e ali com o objetivo de, como ele mesmo admitiu para mim certa vez, ficar em evidência e ser percebido.

Essa visão torta sobre a laicidade do Estado fundamentou a indicação do “terrivelmente evangélico” André Mendonça ao STF, promessa que Bolsonaro fez espontaneamente, sem que lhe fosse pedido, e que fez pastores que pensam da mesma maneira se empenharem tanto para a marcação da sabatina e a posterior aprovação. Daí a falta de pudor de Mendonça em abertamente se credenciar como um evangélico no Supremo, quase admitindo que chegou lá não por seu currículo, mas por sua religião — e uma extensa lista de servicinhos prestados a Bolsonaro quando ministro da Justiça e advogado-geral da União.

A defesa da pauta de costumes reacionária também ecoa entre os evangélicos mais conservadores. Embora não tenha conseguido implementar nada do que prometeu nessa seara, Bolsonaro segue a defendendo e animando a torcida que roda na mesma sintonia.

Tem dado certo. O eleitorado evangélico também reprova seu governo, mas a taxas bem mais suaves do que as de católicos ou de integrantes de outras religiões. A última pesquisa Ipespe, encomendada pela XP Investimentos, mostrou que 38% do eleitorado evangélico considera seu governo ruim ou péssimo e 37% o avaliam como ótimo ou bom. Entre os católicos, o ruim ou péssimo é de 56% e o ótimo e bom é de 23%. Entre fiéis de outras religiões, 70% consideram o governo ruim ou péssimo e apenas 13% o avaliam como ótimo e bom.

Não vale a pena para Bolsonaro, ainda mais em campanha pela reeleição, esclarecer qual sua religião. O brasileiro ainda vai ter que recorrer muito ao Google.

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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