Bolsonaro não é claro na comunicação sobre qual é sua religião e beneficia-se da dúvida do eleitorado há anos
Sobre a ocasião, disse Everaldo: “As pessoas não entendem que batismo não é coisa de evangélico ou católico, mas de todos que creem que Jesus é seu salvador.” A explicação, para quem a via, solucionava a dúvida. Mas e quem não viu?
Até então, nunca havia sido um parlamentar religioso. A pauta do Bolsonaro dos anos 1990 e dos primeiros anos do novo século era a defesa de benefícios para militares e suas famílias e o choro de viúva da ditadura, falando frases de efeito aqui e ali com o objetivo de, como ele mesmo admitiu para mim certa vez, ficar em evidência e ser percebido.
Essa visão torta sobre a laicidade do Estado fundamentou a indicação do “terrivelmente evangélico” André Mendonça ao STF, promessa que Bolsonaro fez espontaneamente, sem que lhe fosse pedido, e que fez pastores que pensam da mesma maneira se empenharem tanto para a marcação da sabatina e a posterior aprovação. Daí a falta de pudor de Mendonça em abertamente se credenciar como um evangélico no Supremo, quase admitindo que chegou lá não por seu currículo, mas por sua religião — e uma extensa lista de servicinhos prestados a Bolsonaro quando ministro da Justiça e advogado-geral da União.
Tem dado certo. O eleitorado evangélico também reprova seu governo, mas a taxas bem mais suaves do que as de católicos ou de integrantes de outras religiões. A última pesquisa Ipespe, encomendada pela XP Investimentos, mostrou que 38% do eleitorado evangélico considera seu governo ruim ou péssimo e 37% o avaliam como ótimo ou bom. Entre os católicos, o ruim ou péssimo é de 56% e o ótimo e bom é de 23%. Entre fiéis de outras religiões, 70% consideram o governo ruim ou péssimo e apenas 13% o avaliam como ótimo e bom.
Não vale a pena para Bolsonaro, ainda mais em campanha pela reeleição, esclarecer qual sua religião. O brasileiro ainda vai ter que recorrer muito ao Google.