Governos ruins temem a realidade. E tentam escondê-la!

By | 13/12/2021 7:30 am

O que se pretende com a criação da Secretaria Especial de Estudos Econômicos é, em português cristalino, subjugar o IBGE e o Ipea

O ministro da Economia, Paulo Guedes, não tem poder para alterar os dados da realidade que desmentem um Brasil inventado sob medida para suas palestras e entrevistas, no qual só ele parece acreditar. Ao invés de assumir o cargo de uma vez por todas e trabalhar para tornar perceptível para os brasileiros aquele país fiscalmente responsável, que não para de crescer e gerar empregos, Guedes, ao contrário, parece disposto a insistir na fantasia. É o que se conclui do anúncio de criação de uma nova secretaria especial do Ministério da Economia que tem tudo para servir de fonte oficial dos chamados “fatos alternativos”.

No dia 3 passado, Guedes anunciou que pretende criar “em breve” o que chamou de “think tank” para produzir relatórios, estudos e dados para o governo. Trata-se de uma nova secretaria especial da pasta – chamada de “Secretaria Especial de Estudos Econômicos”, a cargo do atual secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida – que abrigará sob uma mesma estrutura administrativa o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e a atual Secretaria de Assuntos Econômicos, além de incorporar o departamento de estudos microeconômicos da Secretaria Especial de Produtividade e Competitividade (Sepec). O ministro ainda não disse como pretende viabilizar a união desses órgãos do ponto de vista legal.

Dado o histórico de Paulo Guedes no Ministério da Economia, uma espécie de Midas às avessas, a medida tem tudo para dar errado, a começar pelo objetivo de fundo que a inspira. É evidente que a intenção de Guedes com a nova secretaria especial não é outra senão intervir diretamente na produção do IBGE e do Ipea, hoje duas usinas de más notícias para o governo federal. Guedes é um notório crítico de instituições que publicam dados que desagradam a ele ou ao presidente da República. No entanto, o ministro não compreende – ou não quer compreender – que se há dados negativos para o governo federal é porque o próprio governo os produz aos borbotões.

Há muitas décadas, tanto o IBGE como o Ipea são centros de excelência na produção de relatórios, estudos e dados que ajudam a compreender o Brasil e que servem de material fidedigno para a formulação de políticas públicas nas mais variadas áreas. Os relatórios do IBGE, por exemplo, fornecem informações relevantíssimas nos campos da demografia, do trabalho, da saúde, da educação, do comércio e da indústria, entre outros. Qualquer debate sério no País sobre desigualdade e distribuição de renda passa, necessariamente, pelos estudos elaborados pelos economistas do Ipea. Nem durante o período da ditadura militar houve intervenções nestes dois órgãos para moldar o resultado de seus estudos aos interesses de ocasião do governo federal. No pior dos casos, os dados eram “apenas” ignorados.

Como se vê, não faz sentido o ministro Paulo Guedes defender a criação de uma “fábrica de ideias e estudos”, pois ela já existe. O governo do qual faz parte é que não gosta das ideias e dos estudos que a “fábrica” produz. Portanto, o que o governo do presidente Jair Bolsonaro pretende é muito diferente. Pouco a pouco, Bolsonaro está convertendo – ou tentando converter – órgãos de Estado e de governo em estruturas próprias para o atendimento de seus interesses particulares. Foi assim com a Procuradoria-Geral da República, foi assim com a Polícia Federal, foi assim a Agência Brasileira de Inteligência, entre tantos outros órgãos vinculados a Ministérios. O que se pretende com a criação da Secretaria Especial de Estudos Econômicos é, em português cristalino, subjugar o IBGE e o Ipea.

A mera intenção de fazê-lo já diz muito sobre este governo que aí está. Contudo, trata-se de uma medida de difícil implementação no prazo de um ano, tempo que falta para o término do mandato de Bolsonaro. Caso o presidente não seja reeleito, é muito provável que a nova secretaria especial deixe de existir ou sirva a melhores propósitos. Já se Bolsonaro for reeleito o País tem muito mais a temer.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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