Bezerra Coelho entrega cargo de líder de Bolsonaro após derrota para vaga no TCU

By | 15/12/2021 3:40 pm

Um dia antes o Senado escolheu Anastasia para vaga no tribunal, em vitória de Pacheco

(Renato Machado e Marianna Holanda, naa, Folha em
Após derrota na disputa pela vaga do TCU (Tribunal de Contas da União), o líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), decidiu entregar seu cargo nesta quarta-feira (15).

O gabinete do senador informou por meio de nota que a decisão foi comunicada pela manhã ao presidente Jair Bolsonaro.

“O senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) entregou nesta manhã o cargo de líder do governo no Senado. O pedido foi formalizado ao presidente Jair Bolsonaro a quem o senador agradece a confiança no exercício da função”, afirma o texto.

O senador Fernando Bezerra (MDB-PE)
O senador Fernando Bezerra (MDB-PE) – Kleyton Amorim/UOL/Folhapress

Auxiliares do presidente defendem para substituir Bezerra o senador Marcos Rogério (DEM-RO), que atuou na linha de frente em defesa do governo durante a CPI da Covid.

A consequência, de acordo com os parlamentares, é que o governo teria ainda mais dificuldade de diálogo com a oposição.

A entrega do cargo acontece um dia após a disputa pela vaga aberta no TCU, com a aposentadoria do ministro Raimundo Carreiro.

Apesar de contar com a influência de ser líder do governo e o apoio de governistas e alguns ministros, Bezerra obteve apenas 7 votos, de um total de 78 senadores que participaram da sessão e votaram.

Os senadores deram a vitória a Antonio Anastasia (PSD-MG), que recebeu 52 votos. Ele era o candidato do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que foi o grande vencedor da disputa e mostrou a sua força.

Kátia Abreu (PP-TO), que era apoiada por alguns ministros e também pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL), obteve 19 votos.

Bezerra foi o último a entrar na disputa, mas seus aliados vinham afirmando nos bastidores que sua candidatura ganhava força.

Ainda que líder do governo, Bezerra não contou com o empenho do Planalto na sua eleição. O próprio presidente deixou claro a ele, segundo relatos, que não se envolveria na disputa.

Um dos apoios alardeados nos bastidores era do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), filho do presidente da República. Alguns aliados chegaram a divulgar previsões irrealistas de que ele terminaria a disputa com 35 a 40 votos.

Bezerra ainda precisou passar pelo desgaste de enviar uma certidão negativa a todos os senadores, uma vez que sua candidatura havia sido questionada. Isso porque uma resolução do TCU aprovada recentemente impede a nomeação de ministros que sejam réus por improbidade administrativa ou ações penais por crime doloso contra administração pública.

Nos últimos dias, a Folha publicou uma série de reportagens que mostraram como emendas do então líder do governo viraram moeda de troca em sua base eleitoral, a região do município de Petrolina (PE). A entrega de caixas d’água com recursos de emendas não atende necessariamente a quem mais precisa, e sim a quem a aceita como moeda de troca ou é mais próximo dos políticos.

Outra reportagem mostra que asfalto pago com recursos públicos derretiam e ganhou o apelido de farofa.

A vaga no TCU é almejada pelos parlamentares, pois oferece salário alto, estabilidade e poder político.

Os nove ministros que compõem a corte têm cargo vitalício e só se aposentam compulsoriamente aos 75 anos. O salário também é bem atrativo. Os integrantes do tribunal ganham uma remuneração bruta de R$ 37.328,65,​ mais uma série de benefícios.

Politicamente, a corte tem relevância por atuar como fiscal do Poder Executivo. Cabe ao TCU julgar as contas do governo federal realizar inspeções e auditorias de repasse de verbas, por exemplo.

O novo ministro do TCU vai relatar processos de interesse do governo, como a auditoria dos gastos com cartão corporativo do presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus parentes.

A disputa atual pela vaga do Senado no TCU foi a primeira vez em 13 anos que terminou em votação opondo senadores. Normalmente, as indicações são decididas por meio de acordo e consenso, com os votos apenas chancelando a situação.

Um aliado governista analisa em reservado que Bezerra é um homem pragmático e que provavelmente avaliou que não teria o prestígio para continuar na liderança após a derrota de terça-feira.

Também acredita que a decisão de entregar o cargo tenha a ver com uma mágoa com o Planalto, por não ter recebido o apoio adequado para o seu pleito, após mais de dois anos atuando para apagar os incêndios do governo.

O então líder do governo também foi o relator da proposta.

Muitos senadores ficaram incomodados porque haveria um acordo para que houvesse um “fatiamento” da proposta —com a promulgação das partes em comum, aprovadas tanto por Câmara e pelo Senado —desde que fossem incluídos alguns mecanismos acrescentados pelos senadores.

Em especial, mencionam a vinculação dos gastos, para evitar dar carta-branca para o governo gastar os recursos livremente em ano eleitoral. Essa parte não foi inicialmente promulgada.

Senadores governistas também reclamaram que não houve uma articulação para defender a indicação de André Mendonça para uma vaga no STF (Supremo Tribunal Federal), embora houvesse uma forte oposição liderada pelo senador Davi Alcolumbre (DEM-AP).

A indicação de Mendonça acabou aprovada, mas atribui-se o feito à própria atuação do indicado e, principalmente, para a pressão exercida pelos evangélicos.

Os questionamentos a Bezerra também se davam pela resistência do Senado de avançar a pauta prioritária do governo.

Apenas as medidas de cunho econômico enviadas pela equipe de Paulo Guedes obtinham espaço, por se juntar à vontade dos integrantes da Casa.

Por outro lado, o Senado ainda resiste a dar aval para a chamada pauta de costumes, que avançam com relativa tranquilidade na Câmara dos Deputados.

Folha esteve há três semanas em Petrolina (PE), reduto eleitoral do senador, e constatou como estão sendo aplicadas localmente as verbas federais destinadas pelo congressista por meio de emendas do relator e outros tipos de transferência orçamentária.

Na região, a entrega de cisternas compradas com recursos carimbados com a marca do parlamentar tem sido condicionada ao apoio político ao grupo do filho do senador, o prefeito do município Miguel Coelho (DEM), como a Folha revelou em 5 de dezembro.

Essa indicação pessoal e sem critérios objetivos por meio de emendas ocorre ao mesmo tempo em que é realizado um desmonte do programa federal de entrega de cisternas, intitulado Programa Cisternas, que possui regras gerais e fiscalização social por conselhos municipais, associações e ONGs.

O senador também direcionou verbas para obras de pavimentação na cidade, mas o asfalto entregue ganhou até apelidos. É chamado de farofa ou Sonrisal, em referência ao esfarelamento dos trechos pavimentados.

O material usado derrete com o forte calor e gruda nos calçados dos moradores e, quando ele se quebra em pedaços, começa a esfarelar.

Verbas também foram enviadas pelo congressista para a aquisição de cisternas, caixas-d’água, tratores, implementos agrícolas e tubos de irrigação.

Porém dezenas desses equipamentos são mantidos amontoados em depósitos do órgão federal Codevasf e já dão sinais de desgaste com o tempo. Alguns deles, como canos e reservatórios de água, estão lá há mais de um ano, segundo relato de moradores da região.

Nossa opinião

A derrota acachapante que sofreu na votação para uma vaga no Tribunal de Contas da União não o recomendava muito como líder do Governo no Senador. Se não foi capaz nem de cabalar votos para ele próprio, que condições tinha de convencer os outros senadores a apoiar o Governo em votações que a interessavam ao presidente? Sua derrocada pode sepultar outros sonhos de seus filhos na política pernambucana, além da sua própria possibilidade de reeleição. (LGLM)

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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