Os eleitores não estão alheios
Não se pode medir o impacto do populismo desbragado que se avizinha. Mas pesquisa revela que o descalabro do governo não passa despercebido
Para 55% dos entrevistados pelo Ipec entre os dias 9 e 13 deste mês, o governo Bolsonaro é “ruim ou péssimo”. O resultado é 2 pontos porcentuais maior do que o apurado na pesquisa anterior, em setembro. O governo é “ótimo ou bom” para apenas 19% dos entrevistados. Há três meses, 22% dos eleitores avaliavam o governo de forma positiva. Já para 25% das pessoas ouvidas pelo Ipec o governo é “regular” (eram 23% em setembro).
O Ipec também aferiu a avaliação da forma de Bolsonaro governar. Quando questionados a respeito da “maneira como o presidente Jair Bolsonaro está governando o Brasil”, 68% disseram desaprovar, mesmo resultado aferido na pesquisa anterior. Já 27% responderam que aprovam a atuação do presidente, uma queda de 1 ponto porcentual em relação à pesquisa realizada em setembro, dentro da margem de erro. Outros 4% não souberam ou não quiseram responder.
O dado da pesquisa que talvez mais preocupe Bolsonaro diz respeito à confiança da sociedade no presidente. A confiança é um atributo essencial para alguém que ocupa o mais elevado cargo do Poder Executivo federal. Pois nada menos do que 70% dos entrevistados pelo Ipec afirmaram que Bolsonaro não é uma pessoa confiável, um aumento de 1 ponto porcentual em relação à avaliação anterior. Outros 27% disseram confiar no presidente (eram 28% em setembro) e 3% não souberam ou não quiseram responder (o mesmo porcentual verificado há três meses).
A rigor, todos esses números tabulados pelo Ipec refletem a percepção da maioria da sociedade de que não há governo no País. Os achados da pesquisa evidenciam que os cidadãos não estão alheios à total paralisia do governo federal diante de problemas muito sérios, que afligem milhões de brasileiros, e que seguem intratados enquanto Bolsonaro se mantém ocupadíssimo em “motociatas”, praias e beiras de estrada cuidando de seus próprios interesses.
Não escapou aos olhos da maioria dos entrevistados pelo Ipec a total ausência de políticas públicas bem formuladas para enfrentar uma crise sanitária sem precedentes, que já custou a vida de mais de 617 mil brasileiros. A maioria dos eleitores também demonstrou não estar insensível à profunda crise econômica e social que aflige a população hoje e projeta um ano novo ainda mais sombrio, com inflação, juros altos, desemprego e fome. A reprovação da maneira de Bolsonaro governar, por sua vez, também sugere que práticas espúrias como a compra de uma base de apoio congressual por meio de “orçamento secreto” e, principalmente, o negacionismo tacanho do presidente no combate à pandemia de covid-19, desvirtuando a ideia de “liberdade” e agindo contra o interesse nacional, não contam com o apoio da maioria dos eleitores.
O que resta evidente a partir dos dados dessa nova rodada da pesquisa Ipec é que a maior parte dos brasileiros não está satisfeita com os rumos do País sob o comando de Jair Bolsonaro. Ao afirmarem que não confiam no presidente da República, demonstram também não nutrir esperanças, ao menos não por ora, de que Bolsonaro seja a pessoa certa para resolver os graves problemas que os afligem. Evidentemente, como já foi dito, o quadro apresentado hoje pode não ser o mesmo à época da próxima eleição. Os reflexos do populismo desbragado que se avizinha ainda serão medidos. Mas uma coisa é certa: os brasileiros estão atentos ao descalabro.