Jantar mostra avanço na chapa Lula-Alckmin, mas também expõe arestas

By | 20/12/2021 3:13 pm

Principal obstáculo é SP; há tentativa de atrair PSD e MDB para aliança com Solidariedade e PC do B

(Carolina Linhares, na Folha, em

O jantar que reuniu o ex-presidente Lula (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), no domingo (19), explicitou o avanço da chapa conjunta para a Presidência da República na eleição de 2022, mas também evidenciou arestas a serem aparadas.

O principal obstáculo é o acerto em São Paulo que deriva da aliança nacional —o ex-prefeito Fernando Haddad (PT) e o ex-governador Márcio França (PSB) são pré-candidatos ao Governo de São Paulo, e um dos dois teria que abrir mão desse plano.

A reunião do ex-presidente Lula (PT) e do ex-governador Geraldo Alckmin (ex-PSDB) em um jantar, neste domingo (19), promovido pelo grupo de advogados Prerrogativas – Ricardo Stuckert / Divulgação

A amplitude e os limites da aliança em torno de Lula também foram simbolicamente desenhados —a maior parte dos políticos presentes era ligada ao PT ou ao PSB, que discutem a formação de uma federação para as eleições.

Parlamentares e dirigentes petistas e pessebistas se mostraram, no jantar do grupo de advogados Prerrogativas, animados com a possibilidade de que Alckmin concorra como vice de Lula. Mais do que isso, parte deles dava a aliança como certa e a ser anunciada no início do ano que vem.

Quando a pergunta era sobre Haddad ou França, porém, não havia acordo. Da parte dos petistas, a avaliação é a de que o partido não pode deixar de lançar um candidato em São Paulo —principalmente porque Haddad tem chances de vencer.

​​Pesquisa Datafolha mostra que, num cenário sem Alckmin e com França, Haddad lidera com 28%. O pessebista marca 19% e lidera com 28% em cenário sem o petista. Já na hipótese em que os três concorrem ao Palácio dos Bandeirantes, Alckmin tem 28%; Haddad soma 19% e França, 13%.

Aliados do ex-prefeito afirmaram que a candidatura dele ao Governo de São Paulo está consolidada e não há volta atrás. Um argumento evocado por parlamentares do PT, além da dianteira de Haddad na pesquisa, é a maior estrutura e capilaridade do PT em São Paulo em comparação ao PSB.

Deputados estaduais do PSB, por exemplo, fazem parte da base do governo João Doria (PSDB), pré-candidato à Presidência, e devem apoiar seu sucessor, o vice-governador Rodrigo Garcia (PSDB), na corrida estadual.

Já membros do PSB apostam na candidatura de França e afirmam haver vantagens em relação a Haddad, como a menor rejeição (34% contra 16%). A leitura, nesse caso, é a de que Haddad não agregaria votos a Lula em São Paulo, pois são votados nos mesmos grupos.

França, por sua vez, poderia, como palanque de Lula, agregar votos do interior de São Paulo e de policiais.
A equação tem ainda Guilherme Boulos (PSOL), que também é pré-candidato ao Governo de São Paulo e pode dividir votos com Haddad e até com França.

Entusiastas da chapa Lula-Alckmin minimizavam o embate entre Haddad e França, prevendo um entendimento ao final, com ou sem Boulos. Mas havia também quem apontasse o potencial de mágoas e feridas abertas ao longo do processo.

Uma questão é a do eleitor de esquerda que torce o nariz para Alckmin. Na entrada, um grupo de apoiadores de Lula gritava “Alckmin não!”, o que foi mencionado por presentes como um “desconforto”. Por outro lado, o ex-governador foi também bastante tietado com pedidos de fotos.

“Eu tenho que respeitar o Alckmin. Ele deixou o PSDB, ele ainda não tem partido, não sei a qual partido ele vai se filiar. E quem vai dizer se a gente pode se juntar ou não é o partido dele e o meu partido. Então a gente tem que ter paciência”, afirmou o ex-presidente.

Para ser vice de Lula, Alckmin se filiaria ao PSB, de França. O Solidariedade também fez o convite ao ex-governador.

Outra opção é o PSD, mas, nesse caso, a candidatura mais provável de Alckmin seria para o Governo de São Paulo. Isso porque, no plano nacional, o PSD lançou o senador Rodrigo Pacheco (MG) à Presidência.

Embora o partido se mantenha próximo de Lula, filiar Alckmin e bancá-lo como vice seria abraçar de vez o plano petista, algo que o partido não assumiria agora. De acordo com petistas, um apoio do PSD pode vir só no segundo turno.

PT, PSB, PC do B e Solidariedade formam a parte convertida do projeto, que acenou para fora com as presenças dos presidentes do PSD, Gilberto Kassab, e do MDB, Baleia Rossi.

A ausência de nomes importantes do PSD, como Pacheco e o prefeito do Rio, Eduardo Paes, foram lidas como um sinal de que a presença de Kassab representava antes sua boa relação com Lula do que um embarque em sua candidatura desde já.

A presidenciável do MDB, senadora Simone Tebet (MS), também faltou. Saudado pelos presentes como o próximo presidente do Brasil, Lula foi o único pré-candidato ao Planalto presente no restaurante A Figueira Rubaiyat, em região nobre da capital paulista.

Questionado pela Folha, Rossi respondeu apenas que o jantar era “apolítico e não eleitoral”, também evitando vincular seu MDB a Lula.

No jantar, a ponte de Lula para fora da esquerda foi construída também pela cúpula da CPI da Covid presente no evento —os senadores Renan Calheiros (MDB-AL) e Omar Aziz (PSD-AM). Opositor de Bolsonaro, o deputado Marcelo Ramos (PL-AM) também esteve no local.

Falando sobre o PSD e o MDB, petistas afirmam que a presença de Kassab e Rossi foi uma boa sinalização, mas que Lula também deve respeitar a decisão dos partidos de lançarem candidatos —estratégia usada para alavancar a bancada de deputados.

Um apoio no segundo turno e no governo já seria importante e, por isso, é preciso mantê-los próximos. Com larga vantagem sobre Bolsonaro nas pesquisas, Lula já estaria preocupado com a governabilidade, de acordo com políticos próximos a ele.

“Sei que o Brasil que vou pegar em 2023 é muito pior que o país que eu peguei em 2003”, disse o petista em seu discurso.

O jantar delimitou ainda o campo adversário a Lula —formado notadamente por Bolsonaro, Sergio Moro (Podemos) e Doria, considerados “personas non grata” pelo coordenador do Prerrogativas, o advogado Marco Aurélio Carvalho. O grupo é progressista e crítico da Lava Jato.

No Twitter, Moro ironizou o jantar: “Impressão minha ou ontem assistimos a um jantar comemorativo da impunidade da grande corrupção?”.

Nomes próximos a Doria, porém, foram ao evento, como o ex-senador Arthur Virgílio (AM), que fez dobradinha com o governador paulista nas prévias do PSDB, e o secretário da gestão do tucano e ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia (sem partido-RJ).

O jantar tampouco alcançou o entorno de Ciro Gomes (PDT), pré-candidato ao Planalto que vem se descolando de Lula com duras críticas ao petista —apesar de acenos entre ambos na última semana, após o pedetista ter sido alvo da Polícia Federal.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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