Mais uma trapalhada de Bolsonaro para meter a mão no bolso do consumidor

By | 21/12/2021 3:30 pm

Desrespeito a uma agência de Estado

Governo atropela Aneel e toma para si atribuição de definir cobrança extraordinária nas contas de luz

(Editorial dO Estadão21 de dezembro de 2021)

Apéssima gestão do setor elétrico pelo governo ainda vai transformar a conta de luz em uma modalidade de crédito como o cheque especial. Pela terceira vez desde 2014, o País vai recorrer a um empréstimo bilionário para evitar um aumento nas tarifas. Um novo financiamento será embutido nas faturas e dividido ao longo de meses, uma pedalada nas despesas com a compra de energia cara. Mais do que um socorro às empresas ou um alívio para o bolso do consumidor, a edição de uma nova medida provisória (MP) tem o objetivo de conter danos políticos à tentativa de reeleição de Jair Bolsonaro.

Vale tudo para ajudar o presidente nessa tarefa, inclusive atropelar a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). É o que faz o governo ao aproveitar a MP para retirar uma atribuição do órgão regulador e transferi-la ao Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE). Caberá ao colegiado, presidido pelo Ministério de Minas e Energia (MME), “estabelecer bandeira tarifária extraordinária” para cobrir os custos decorrentes da seca.

A lei que criou a Aneel, em 1996, deixou claras as funções da agência reguladora: “Homologar reajustes e proceder à revisão das tarifas na forma desta lei, das normas pertinentes e do contrato”. O contexto de seu nascimento remete às privatizações de empresas que pertenciam aos governos estaduais. Em troca da renegociação de suas dívidas com a União, os Estados se comprometeram a vender as companhias. Antes, o Tesouro teve que arcar com uma operação de US$ 25 bilhões para saneá-las, depois de anos de tarifas artificialmente controladas. A Aneel surgiu, portanto, para dar segurança jurídica a esse processo, que passa, necessariamente, pelos reajustes anuais.

Em 2015, a agência estabeleceu as bandeiras tarifárias, que nada mais são do que o repasse do custo real de geração de energia. Elas funcionaram de forma adequada até a crise deste ano, quando o preço da eletricidade explodiu em razão das ações do governo para evitar blecautes. Foi quando o Executivo decidiu enviar ao Congresso outra medida provisória, a 1.055, que criou a Câmara de Regras para Gestão Hidroenergética (Creg), também presidida pelo MME.

Coube à Creg gestar a bandeira “escassez hídrica”, uma cobrança de R$ 14,20 a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos, que vigorará entre setembro e abril. A Aneel, desde o início, calculou que essa taxa deveria ser de até R$ 25 a cada 100 kWh para cobrir todos os gastos com geração de energia. Por razões políticas, o governo, no entanto, optou por um valor menor. O resultado não poderia ser outro: faltou dinheiro, e um novo empréstimo bilionário se tornou a solução para impedir uma crise nos pagamentos de toda a cadeia do setor elétrico.

A MP 1055 perdeu validade em novembro, e já há quem acredite que o destino dessa nova MP também será o arquivo. Disso tem vivido o setor elétrico, ao sabor de propostas que deveriam atender a pressupostos de relevância e urgência, mas que servem apenas para dar verniz de legalidade às improvisadas decisões do governo.

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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