Ofensiva de Moro para atrair evangélicos inclui ajuda de Deltan e reuniões com líderes

By | 21/12/2021 8:43 pm

Campanha do ex-juiz calibra discurso para atrair neopentecostais, cujas lideranças midiáticas flertam com bolsonarismo

Igrejas protestantes tradicionais, pentecostais, mórmons, pastores influenciadores e escolas confessionais. A campanha do ex-juiz da Operação Lava Jato Sérgio Moro, presidenciável do Podemos, traçou esses grupos como prioritários na estratégia para tentar o voto conservador evangélico. A ofensiva vai ser lançada a partir da virada do ano. Moro também mira em alguns nichos neopentecostais, hoje aliados do presidente Jair Bolsonaro. Interlocutores do ex-ministro fizeram contato para marcar reuniões com representantes políticos da Igreja Internacional da Graça de Deus, liderada pelo missionário RR Soares, e da Igreja Universal do Reino de Deus, do bispo Edir Macedo.

As principais estratégias foram traçadas pelo advogado da campanha Uziel Santana, convidado por Moro para assumir o núcleo evangélico e conservador da pré-campanha. Ele presidiu até poucos meses atrás a Associação Nacional de Juristas Evangélicos (Anajure), entidade fundada em 2012. Ligada a organismos internacionais de juristas cristãos, a associação é dirigida por membros das chamadas igrejas protestantes históricas, com destaque para a Presbiteriana, a Batista e a Metodista, entre outras.

A campanha calibrou o discurso para atrair os neopentecostais, cujas lideranças mais midiáticas hoje orbitam o Palácio do Planalto e flertam com o bolsonarismo. Cientes dos compromissos das denominações com Bolsonaro, o comitê de Moro quer mostrá-lo como alternativa ao presidente com bandeiras conservadoras. Dirigentes de distintas alas da maior denominação pentecostal do País, a Assembleia de Deus, manifestam reserva com a aproximação, porque as igrejas têm apoio declarado ao governo Bolsonaro. Um deles disse ao Estadão que o ex-juiz terá “dificuldades”.

Sergio Moro filiação podemos
O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro durante cerimônia de filiação ao Podemos, em Brasília; interlocutores do pré-candidato à Presidência marcam reuniões com representantes políticos da Igreja Internacional da Graça de Deus e da Igreja Universal do Reino de Deus Foto: Dida Sampaio/ Estadão

“O segmento evangélico não pode depender apenas de uma via. Nesse sentido, Moro também é uma possibilidade aos neopentecostais. Ele é um conservador, mas é moderado e não um desequilibrado que quer impor uma sharia (lei islâmica) evangélica à sociedade. Isso ele não vai querer, e nenhum segmento evangélico sério vai querer”, afirma Uziel Santana. “O que não queremos é a volta do PT ao poder.”

Igreja Internacional da Graça tem uma série de pendências junto ao Fisco, enquanto a Universal não conseguiu ver alguns interesses solucionados pelo governo. Entre eles, estão duas iniciativas no campo diplomático: a disputa pelo controle da Universal em Angola, onde os brasileiros ligados à cúpula foram expulsos, e o governo não conseguiu aval para que o bispo Marcelo Crivella, ex-prefeito do Rio, assumisse como embaixador na África do Sul.

Anajure ampliou a influência durante o governo Bolsonaro

Com acesso ao Planalto, Uziel Santana e a Anajure ampliaram a influência durante o governo Bolsonaro. Eles foram ouvidos, por exemplo, na indicação do procurador-geral da República, Augusto Aras, apoiaram a escolha do ministro André Mendonça, o “terrivelmente evangélico”, ao Supremo Tribunal Federal, da advogada Maria Claudia Bucchianeri Pinheiro como juíza-substituta do Tribunal Superior Eleitoral, e do defensor Daniel Pereira como chefe da Defensoria Pública da União.

 

Uziel Santana
O advogado Uziel Santana, ex-Anajure, assume o núcleo evangélico da campanha de Moro; ‘O segmento evangélico não pode depender apenas de uma via’, afirma Foto: Claudio Andrade/Câmara dos Deputados

O afastamento começou com a demissão de Moro, em abril do ano passado, e as denúncias de interferência em órgãos de Estado, principalmente os de controle e investigação. Segundo Santana, as igrejas históricas têm dado grande receptividade a Moro.

“Os neopentecostais são numerosos, mas não representam a totalidade no lugar de teologia dominante. Todo mundo se decepcionou. Bolsonaro não representa os anseios dos evangélicos. Ele mentiu, traiu a pauta anticorrupção, de mudança no sistema político, de acabar com o patrimonialismo e o fisiologismo. Ele se apropriou e se abraçou ao Centrão, isso para igreja evangélica é uma traição”, diz Uziel Santana, que é membro da Igreja Presbiteriana de Aracaju. “Até a forma como Bolsonaro lidou com a pandemia, nenhuma igreja séria concorda com aqueles discursos.”

Campanha de Moro conta com ajuda de Deltan

Moro é católico, mas sempre teve diálogo com lideranças evangélicas e frequentou núcleos jurídicos ligados ao segmento religioso. Um de seus principais aliados, o ex-procurador da República Deltan Dallagnol, potencial candidato pelo Podemos, frequenta a Igreja Batista do Bacacheri, em Curitiba (PR), o que ajudará a expandir a presença do pré-candidato ao Palácio do Planalto.

O entorno de Moro trabalha para atrair o apoio público de pastores influenciadores nas redes sociais. Dois nomes são vistos como simpáticos a Moro. O ex-juiz já conversou em privado, por exemplo, com o reverendo Augustus Nicodemus, um formulador e influente no YouTube, integrante da Primeira Igreja Presbiteriana de Recife e vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil. Outro rosto popular é o pastor batista Carlito Paes, líder da Igreja da Cidade, fundada em São José dos Campos (SP). Ele é simpático à Lava Jato e crítico de Bolsonaro, a quem apoiou nos primeiros meses do governo.

Por duas vezes, Moro se reuniu em Brasília com o ex-deputado Ronaldo Fonseca, ex-deputado e ex-ministro da Secretaria Geral da Presidência, no governo Michel Temer. Atualmente sem partido, ele preside a Assembleia de Deus de Taguatinga (ADET), no Distrito Federal. Como foi do Podemos, o ex-ministro afirma que a direção da legenda pediu os encontros com Moro.

“Represento um segmento importante dentro dos evangélicos e qualquer decisão de cunho político será uma decisão conjunta. Moro tem um projeto interessante para o Brasil, mas me reservei em ouvi-lo”, disse o ex-ministro e pastor ao Estadão.

Moro já esteve com um comitê de membros da Aliança Evangélica, com pastores batistas, presbiterianos e metodistas, com dirigentes de agências missionárias e vai também organizar encontros com representantes das escolas confessionais.

Mórmons devem organizar encontro com Moro em janeiro

O pré-candidato do Podemos tenta ainda expandir o espectro religioso. A campanha já estabeleceu canais discretos com os mórmons, da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, que costuma apresentar “neutralidade política”, segundo um de seus dirigentes que confirmou o contato. Eles devem organizar um encontro institucional com Moro em janeiro.

Também buscam aproximação com a renovação carismática católica (RCC), outro bastião do conservadorismo, e um dos nichos católicos que têm proximidade com o Palácio do Planalto. O elo para este tipo de diálogo costuma ser o deputado Eros Biondini (PROS-MG), parlamentar hoje mais ligado à cúpula da Canção Nova.

Pesquisa Ipec: Lula e Bolsonaro empatam no voto evangélico

Os aliados de Moro entendem que a tarefa de crescer entre os evangélicos não é simples e têm manifestado discordância de pesquisas de intenção de voto que mostram uma predileção ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), semelhante ou até superior à de Bolsonaro (PL).

A mais recente pesquisa do Ipec mostrou Lula com 34% das intenções de voto entre evangélicos, enquanto Bolsonaro tem 33%. Moro aparece com 7%. Na última rodada do Datafolha, 43% dos evangélicos entrevistados apontaram Lula como o melhor presidente da história do Brasil. Essa posição seria de Bolsonaro para 19% deles.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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