O que a XP vislumbra para o futebol brasileiro, após negócio entre Cruzeiro e Ronaldo
Banco agora busca comprador para Botafogo e diz que perfil de investidores interessados no Brasil não é o de bilionários árabes
A venda do Cruzeiro para o ex-jogador Ronaldo Nazário marca o início da era de transformação dos grandes clubes de futebol brasileiros em empresas. Mas, para que isso aconteça, há uma grande articulação nos bastidores para que bancos de investimento e consultorias tragam investidores para um mercado que ainda engatinha. Nessa disputa, quem marcou o primeiro gol foi a XP, que articulou a venda do Cruzeiro. E a empresa já corre atrás de novos negócios nessa área.
De acordo com Pedro Mesquita, sócio da XP e responsável por essa área dentro do banco criado por Guilherme Benchimol, as próximas operações devem acontecer em breve. Segundo ele, existem investidores interessados nos clubes brasileiros. A conta é a seguinte: investir em real nos times, que mesmo com todos os problemas ainda conseguem revelar diversos craques, para depois vender jogadores em dólar ou euro.
É a mesma lógica do setor de commodities. Até agora, diz Mesquita, o banco já tem na sua carteira o Botafogo, do Rio de Janeiro.
Para dar conta da demanda, a XP montou um time de cinco pessoas, dentro da sua área de banco de investimento, totalmente focado em esporte. Mas a equipe pode aumentar nos próximos meses. “É um mercado que não existia e que vai crescer muito. Estamos querendo ajudar o futebol brasileiro como um todo. Vemos isso como uma alavanca social. Por isso, não estamos restritos a times apenas da série A”, diz Mesquita. Segundo ele, o negócio com os clubes não difere de operações normais de fusão e aquisição com as quais o banco está acostumado.
O perfil dos investidores interessados, segundo o executivo, não tem sido o dos endinheirados dos países árabes, como é visto em times como o Manchester City, da Inglaterra, e o Paris Saint-Germain, da França. “São empresários que estão investindo no mundo inteiro e com uma cabeça de sustentabilidade e profissionalização, e que veem no Brasil um mercado amador e com grande potencial”, afirma.
Segundo Amir Somoggi, fundador da consultoria Sports Value, a XP está de olho em um mercado que movimentou US$ 5 bilhões nos últimos anos contando apenas compra e venda de clubes de futebol. “É pouco pensando no mercado de fusões e aquisições, mas está crescendo e é um mercado que está em bastante evidência”, diz Somoggi. “E a venda de um clube endividado como o Cruzeiro, como foi e para quem foi, ajuda na estratégia.”
Rivais
Além da XP, outros grupos também estão de olho nesse mercado. A consultoria EY já possui uma área dedicada a esportes há anos e auxiliou o Cruzeiro na concepção do projeto de clube-empresa. Além dela, a consultoria Alvarez & Marsal (que também trabalhou no projeto do Cruzeiro) e o banco BTG Pactual também estão atrás de clubes. “Diversos clubes estão procurando a nossa consultoria pensando nessa possibilidade de migrar para o modelo de SAF (Sociedade Anônima do Futebol)”, afirma Pedro Daniel, sócio da EY especializado no mercado.
Além de Cruzeiro e Botafogo, que estão sob a batuta da XP, o Estadão apurou que América-MG e Chapecoense também estão adiantados para realizar a venda dos seus departamentos de futebol.