Investigações sobre clã Bolsonaro travam, mas podem ganhar fôlego em 2022

By | 26/12/2021 8:09 am

Houve arquivamento em 2021 de apurações sobre Jair Renan e Michelle; provas sobre Flávio foram anuladas

(Constança Rezende, na Folha,

O ano de 2021 foi positivo para o presidente Jair Bolsonaro (PL) em relação a investigações sensíveis para ele e sua família e que incomodaram o Palácio do Planalto.

Suspeitas que repercutiram na opinião pública ficaram travadas, caminharam a passos lentos ou foram arquivadas, em diferentes órgãos de investigações.

Entre eles, o caso envolvendo o suposto favorecimento à empresa de eventos de Jair Renan Bolsonaro, a investigação de “rachadinha” e compra de uma mansão pelo senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), além do uso do cartão corporativo do presidente.

Bolsonaro e os filhos Flávio, Carlos, Eduardo e Jair Renan; investigações sobre família do presidente travam em 2021
Bolsonaro e os filhos Flávio, Carlos, Eduardo e Jair Renan; investigações sobre família do presidente travam em 2021 – 3.dez.20 – @BolsonaroSP no Twitter

Os mais de cem pedidos de impeachment contra Bolsonaro na Câmara também seguiram travados pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL). E, apesar do desgaste político com a série de acusações da CPI da Covid, que propôs o indiciamento do presidente por nove crimes na gestão da pandemia, as providências adotadas pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, foram, por ora, protocolares.

Algumas das vitórias mais importantes de Bolsonaro em 2021 foram obtidas no TCU (Tribunal de Contas da União).

A corte, por exemplo, recebeu em março e arquivou em maio, sem investigação, um processo para apurar suposto favorecimento à empresa do filho mais novo do presidente, Jair Renan.

O caso foi aberto após reportagens revelarem indícios de tráfico de influência envolvendo a abertura da empresa Bolsonaro Jr Eventos e Mídia, em outubro de 2020.

A revista Veja mostrou em novembro daquele ano que Jair Renan e seu sócio Allan Lucena ganharam um carro elétrico de um grupo empresarial que apoiou o empreendimento.

Já a Folha mostrou que a cobertura com fotos e vídeos da festa de inauguração da Bolsonaro Jr Eventos e Mídia foi feita gratuitamente por uma produtora de conteúdo digital e comunicação corporativa que presta serviços ao governo federal, a Astronautas Filmes.

A representação pedindo investigação sobre o caso ganhou relatoria do ministro Raimundo Carreiro, que foi indicado por Bolsonaro para assumir a embaixada do Brasil em Portugal. A nomeação foi aprovada no final de novembro pelo Senado.

O relator sustentou que o pedido se baseava em matérias jornalísticas e que “são requisitos de admissibilidade de representação, dentre outros, a apresentação de indícios suficientes da ocorrência das irregularidades arguidas”.

“No caso em exame, conforme evidenciado pela unidade técnica, a representação está desacompanhada de elemento indiciário hábil a ensejar seu processamento”, afirmou Carreiro.

Segundo o então ministro, “de fato, inexiste indicativo, nos autos, de que a produtora Astronautas Filmes tenha sido remunerada pelo erário federal para prestar serviços ao sr. Jair Renan Bolsonaro”.

“Ausentes, pois, os elementos mínimos necessários a ensejar o processamento do feito, não conheço da representação”, afirmou o relator.

A Astronauta afirmou, em nota divulgada à época da publicação da reportagem da Folha, que o objetivo do trabalho era divulgar a marca da empresa, cujo foco é o setor privado, não o público. Jair Renan e o governo não se manifestaram.

Também foi para a relatoria de Carreiro o julgamento da auditoria dos gastos com cartão corporativo do presidente e seus parentes. O caso está em banho-maria, após pressão para que Carreiro não julgasse o caso antes da análise do processo de suspeição contra ele em processos sobre o presidente.

Em dezembro do ano passado, Folha mostrou que a média de gastos da Presidência da República com cartão corporativo seguia alta mesmo diante da pandemia da Covid-19, com uma média mensal de desembolso superior à de Michel Temer (MDB) e próxima à de Dilma Rousseff (PT).

Em agosto daquele ano, Bolsonaro havia prometido mostrar aos veículos de imprensa o extrato de seu cartão corporativo pessoal, mas não o fez. “Eu vou abrir o sigilo do meu cartão. Para vocês tomarem conhecimento quanto gastei de janeiro até o final de julho. Ok, imprensa? Vamos fazer uma matéria legal?”, afirmou à época.

Em setembro, o tribunal também decidiu não investigar a revelação feita pela Folha de que o governo Bolsonaro desviou a finalidade de R$ 7,5 milhões doados especificamente para a compra de testes rápidos da Covid-19.

Os valores foram repassados a uma conta da Fundação Banco do Brasil para o programa Pátria Voluntária, liderado pela primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

O tribunal acatou o voto do ministro Benjamin Zymler, que considerou que os recursos doados “não são recursos públicos federais, de modo que o exame de sua regularidade não se inclui dentre as competências desta corte de contas”. O caso foi arquivado.

O governo sempre negou ter havido desvio.

A compra de uma mansão por R$ 6 milhões por Flávio, em área nobre de Brasília, levantou questões sobre a origem do dinheiro da transação e as taxas praticadas no financiamento concedido pelo BRB (Banco de Brasília), já que a parcela inicial equivalia a mais da metade da renda declarada do senador e de sua mulher.

O Ministério Público do Distrito Federal chegou a abrir procedimento inicial de investigação, mas o caso foi arquivado por considerar que a oposição já havia pedido abertura de uma ação popular com o mesmo objeto.

Este processo, por sua vez, tramita desde março no TJDFT (Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios), e ainda está em fase de citação —início da tramitação.

Em sua última movimentação, em novembro deste ano, o Ministério Público se manifestou defendendo que o BRB informasse se Flávio tem pago as parcelas do imóvel, mas a medida ainda precisa ser decretada pelo juiz do caso.

Flávio afirmou, à época da revelação do caso, que usou recursos da venda de um imóvel no Rio de Janeiro para comprar a mansão, e que “qualquer coisa além disso é pura especulação ou desinformação por parte de alguns veículos de comunicação”.

Além disso, o filho mais velho do presidente teve vitória recente no STJ (Superior Tribunal de Justiça). A Quinta Turma da corte anulou provas da investigação da “rachadinha” contra o senador e devolveu a apuração ao estágio inicial.

Contudo, há documentos incluídos no início da apuração que permanecem válidos mesmo após a decisão dos ministros do STJ. Essas provas ainda permitem a recuperação de parte das evidências contra o senador e que embasaram a denúncia no caso.

Flávio sempre negou participação ou conhecimento de esquema de “rachadinha” em seu gabinete.

Já na Polícia Federal as investigações relacionadas ao presidente e parentes começaram a ganhar fôlego mais para o fim deste ano.

Jair Renan, por exemplo, foi convocado na sexta-feira (17) para prestar explicações sobre sua empresa, um ano depois de o caso vir à tona, mas ele não compareceu, alegando problemas de saúde.

Em 23 novembro, a ministra Rosa Weber, do STF (Supremo Tribunal Federal), também prorrogou por mais 45 dias o inquérito que apura se o presidente cometeu o crime de prevaricação no caso da vacina Covaxin.

Outro possível problema para Bolsonaro para o próximo ano foi um relatório divulgado em 16 de dezembro em que a Polícia Federal sugere, na apuração sobre a live de 29 de julho com ataques às urnas eletrônicas, que ele seja investigado no inquérito das milícias digitais voltada a desacreditar a democracia e as instituições.

O entendimento da investigação é que a live é mais um evento promovido pela suposta organização criminosa que ataca as instituições e a democracia e, portanto, deve ser apurado dentro do mesmo procedimento que está em andamento e que recentemente pediu a prisão de Allan dos Santos.


INVESTIGAÇÕES TRAVADAS CONTRA ENTORNO DE BOLSONARO

  • Suposto tráfico de influência de Jair Renan Bolsonaro
  • Processo instaurado sobre a abertura da Bolsonaro Jr Eventos e Mídia foi arquivado sem investigação no TCU
  • Já a Polícia Federal chamou o filho do presidente para se explicar sobre o caso quase um ano depois, mas ele faltou à audiência
  • Doação para testes em programa de Michelle Bolsonaro
  • O TCU arquivou o caso de suposto desvio de finalidade de recursos por considerar que os valores “não são recursos públicos federais, de modo que o exame de sua regularidade não se inclui dentre as competências desta corte de contas”
  • Empréstimo para a compra da mansão de Flávio Bolsonaro
  • O Ministério Público do Distrito Federal chegou a abrir procedimento inicial de investigação, mas arquivou porque a oposição já havia pedido abertura de ação popular com o mesmo objeto
  • Este processo tramita desde março no Tribunal de Justiça do DF e dos Territórios (TJDFT)

OUTROS CASOS QUE PODEM RESVALAR NO PRESIDENTE

Fake news contra Judiciário
A investigação iniciada em 2019 busca identificar autores de notícias falsas disseminadas nas redes sociais contra ministros do Supremo e já resultou em busca e apreensão contra apoiadores de Bolsonaro. A pedido do TSE, o ministro Alexandre de Moraes incluiu o presidente entre os alvos. É provável que a apuração prossiga 2022 adentro

Fake news sobre urnas eletrônicas
Por sugestão do corregedor-geral eleitoral, ministro Luís Felipe Salomão, o TSE abriu inquérito administrativo para apurar a conduta de Bolsonaro, que, sem apresentar provas, afirma que o sistema eleitoral é vulnerável a fraude. Já a Polícia Federal sugeriu que Bolsonaro seja investigado no inquérito das milícias digitais

Prevaricação no caso da vacina Covaxin
Em 23 de novembro, a ministra Rosa Weber, do STF, prorrogou por mais 45 dias o inquérito que apura se o presidente cometeu o crime de prevaricação no caso da vacina Covaxin, ao ser informado sobre irregularidades no processo de aquisição e não acionar órgãos de investigação

Quadrilha digital
Fruto do inquérito dos atos antidemocráticos, arquivado a pedido da PGR, a apuração busca identificar grupo por trás de ataques à democracia na internet. Apoiadores do presidente são alvos, incluindo assessores palacianos do chamado gabinete do ódio. Ao determinar a apuração, Alexandre de Moraes fez menção ao próprio Bolsonaro e a seus filhos. A polícia abriu o inquérito em julho

Interferência no comando da PF
Apuração aberta após o ex-ministro da Justiça Sergio Moro atribuir a Bolsonaro tentativa de implementar mudanças na cúpula da PF com o objetivo de proteger parentes e aliados.

Vazamento de inquérito sigiloso
A pedido do TSE, Alexandre de Moraes mandou apurar o vazamento de informações sigilosas de inquérito instaurado em 2018 pela PF sobre uma invasão hacker a sistemas eletrônicos da Justiça Eleitoral. As informações desse inquérito foram divulgadas por Bolsonaro em live com o propósito de sustentar a acusação que faz ao sistema eleitoral

Manifestações do 7 de Setembro
Um inquérito foi aberto para apurar a mobilização e a organização dos atos realizados no Dia da Independência. São alvos o cantor Sergio Reis e caminhoneiro Marco Antônio Pereira Gomes, conhecido como Zé Trovão, além de associações de produtores rurais​

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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