Juros ao consumidor disparam com Selic em alta e temor de calote

By | 28/12/2021 6:43 am

As taxas cobradas das pessoas físicas descolaram da Selic e cresceram, em média, 15,8 pontos porcentuais entre janeiro e novembro, mais que o triplo do avanço do juro básico

A alta da taxa básica de juros (Selic) e o maior risco de calote, por causa da estagnação da economia, fizeram os juros ao consumidor, que já eram exorbitantes, dispararem em 2021. Entre janeiro e novembro, as taxas médias cobradas nos crediários do comércio passaram de 72,7% para 80% ao ano. Os juros do cheque especial, por sua vez, foram de 127,7% para 140,3%. E os do cartão de crédito, de 257,1% para 340,8%, segundo levantamento da Associação Nacional de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac). Nesse período, a Selic foi de 2% para 7,75% ao ano (em dezembro subiu mais um pouco e alcançou 9,25%).

Esse aumento forte é visto também em outras linhas, como empréstimo pessoal de bancos e financeiras e o crédito direto ao consumidor. Na média, as taxas nos financiamentos cobradas dos brasileiros subiram neste ano, até novembro, 15,81 pontos porcentuais, segundo a pesquisa da Anefac, que coletou as taxas junto às principais instituições financeiras, enquanto no mesmo período os juros básicos avançaram 5,75 pontos porcentuais.

“Os bancos repassaram mais do que a alta da Selic para a taxa ao consumidor por conta da piora do cenário econômico, da expectativa de um risco maior de crédito”, diz Miguel Ribeiro de Oliveira, diretor executivo da Anefac.

Segundo ele, a perspectiva de piora da inadimplência ocorre não só por causa da inflação, que corrói a renda dos cidadãos, mas também pelo desemprego em patamares elevados. Além disso, há mais uma alta dos juros de 1,5 ponto porcentual já sinalizada pelo Banco Central (BC) para fevereiro e a expectativa de retração da economia para o ano que vem. Isso sem falar de uma eventual onda da covid-19 por causa da nova variante do vírus, acrescenta.

Neste mês, depois de o Comitê de Política Monetária (Copom) do BC ter aumentado a Selic em 1,5 ponto porcentual, a Lojas Cem, por exemplo, rede de eletrodomésticos e móveis com quase 300 lojas no Sudeste do País, subiu 0,5 ponto porcentual os juros do crediário bancado com recursos próprios.

A varejista diz ter aumentado o custo dos financiamentos ao consumidor porque a inadimplência dos clientes está um ponto porcentual acima da média histórica. “Não dá para manter a taxa de juros com a inadimplência mais alta”, afirma o supervisor geral da rede varejista, José Domingos Alves.

Esse aumento generalizado de custos, porém, tem efeito direto sobre a atividade econômica, já que o consumidor acaba fugindo dos financiamentos para itens de maior valor. Isso já se reflete nos dados do BC. Em setembro e outubro, as linhas de crédito imobiliário, veículos, crédito consignado e crédito pessoal já recuaram em relação ao mês anterior na aprovação de novos empréstimos. Só o que subiu foram o cheque especial e o rotativo do cartão, que são créditos pré-aprovados.

Risco

Além da forte alta dos juros básicos e do aumento dos depósitos compulsórios, outro fator que tem pressionado para cima as taxas dos financiamentos ao consumidor é o risco de calote. Segundo Ribeiro de Oliveira, a inadimplência responde por um terço dos juros na ponta do consumidor.

Em razão de várias medidas adotadas pelos bancos desde o início da pandemia – como pausar contratos, oferecer carência, postergar parcelas e dar mais flexibilidade na renegociação das dívidas atrasadas –, a inadimplência não aumentou. Mas, agora, com as expectativas se deteriorando e o País em estagflação, os especialistas afirmam que será difícil adiar o calote novamente. “Do jeito que estamos, com tantos números negativos, vamos ver um aumento da inadimplência a partir do primeiro trimestre, e essas expectativas negativas já estão refletidas nas taxas atuais de juros dos empréstimos”, prevê Oliveira.

Nicola Tingas , economista-chefe da Acrefi, associação que reúne as financeiras, observa que sinais de aumento da inadimplência estão a caminho. O atraso entre 15 e 90 dias no pagamento das parcelas subiu em outubro especialmente na linha do rotativo do cartão de crédito e, em menor intensidade, no cartão parcelado, no cheque especial e no financiamento de veículos, segundo dados do Banco Central. “Há um risco alto de aumento da inadimplência no futuro”, alerta.

Para ele, o aumento do atraso no cartão é sintoma de falta de dinheiro e estrangulamento do orçamento. No momento, as pessoas estão tentando acomodar o orçamento: atrasam a parcela do veículo para fazer a compra do supermercado, exemplifica. Mas, na sua opinião, se não houver uma melhora da atividade e da renda, o quadro pode piorar até o final do primeiro trimestre.

Adiamento

Em setembro passado, a publicitária Loyde Cristina das Dores, de 24 anos, por exemplo, resolveu comprar um carro usado. Escolheu um Citröen C3 2015, que custava R$ 35 mil. Mas quando viu o efeito dos juros no financiamento, adiou os planos.

 

Loyde Cristina das Dores
A publicitária Loyde Cristina das Dores; alta dos juros fez Loyde desistir da compra de um carro financiado.  Foto: Taba Benedicto/Estadão

Com uma entrada de R$ 10 mil, o saldo de R$ 25 mil seria parcelado em 48 vezes de R$ 1.040. O total financiado sairia por R$ 49.920. “Por conta dos juros, o valor a ser financiado foi de R$ 25 mil para quase R$ 50 mil. É desanimador. A gente tenta se organizar, juntar uma boa quantia, na intenção de reduzir as parcelas. E a realidade é que os juros nos fazem desanimar da compra”, afirma. /COLABOROU HELOISA SCOGNAMIGLIO

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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