Pacheco acelera votações, ganha antipatia de Lira e patina como presidenciável

By | 28/12/2021 3:31 pm

Presidente do Senado fez de tudo para barrar a CPI da Covid, mas depois liderou articulação para a compra de vacinas

Renato Machado, na Folha, em

Rodrigo Pacheco (PSD-MG), 45, começou seu mandato como presidente do Senado adquirindo uma notoriedade instantânea, ao liderar articulações para a compra de vacinas e para destravar o Auxílio Emergencial.

Passou a ser visto como o ator ideal para liderar o enfrentamento da pandemia, preenchendo o vácuo deixado por Jair Bolsonaro, que preferia se apegar a teses negacionistas.

Seu nome passou a figurar na lista de pré-candidatos ao Planalto em 2022. No entanto não demorou para os holofotes se voltarem para outra parte do Senado, com a instalação da CPI da Covid.

O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG)
O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG) – Adriano Machado/Reuters

Em paralelo, no plano eleitoral, o senador ainda não passa de 1% das intenções de voto e um dos seus desafios para 2022 será se mostrar um candidato viável.

Além da solução para a compra da vacina da Pfizer e Janssen, Pacheco foi o articulador da tentativa de unir todos os Poderes em uma frente contra a pandemia. Conseguiu a façanha de colocar Bolsonaro em uma mesa para discutir e presidir um comitê de crise.

Mas seus esforços naufragaram na medida em que Bolsonaro manteve postura negacionista, tirando toda a credibilidade do comitê. Cresceu então a pressão pela instalação da CPI, que o senador buscou evitar o quanto pôde, até que uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) o obrigou.

As cobranças por soluções para enfrentar a pandemia e a condenação do negacionismo passaram então para a CPI da Covid, que se tornou um fenômeno de mídia e nas redes sociais, fazendo com que o presidente do Senado perdesse espaço.

A instalação da comissão também estremeceu a relação com os bolsonaristas, que queriam que ele descumprisse a decisão do STF. Flávio Bolsonaro o acusou de “ingratidão”, lembrando o apoio de seu pai para a sua eleição em fevereiro.

“Pacheco é um parlamentar tecnicamente preparado e de trato pessoal educado, estes são os pontos positivos da sua atuação”, afirma o líder do Cidadania, Alessandro Vieira (SE).

“A defesa do orçamento secreto [emenda de relator] e o descumprimento do acordo sobre a PEC dos Precatórios são pontos negativos que devem ser registrados. Também não dá para esquecer que ele dificultou ao máximo a instalação da CPI da Covid.”

Longe dos holofotes, Pacheco imprimiu um forte ritmo de votações, avançando principalmente a pauta econômica de interesse do governo. Dados da Secretaria-Geral da Mesa mostram que a Casa analisou, apenas nos 100 primeiros dias de mandato, 107 propostas —a maior produtividade desde 1995.

“Entendo que a produtividade do ano foi mais do que positiva, porque além de todo esse trabalho, nós tivemos que ficar atentos às medidas sanitárias de prevenção ao coronavírus”, afirma o aliado e líder do PSD, Nelsinho Trad (PSD-MS).

Não houve acordo, entretanto, para a votação da privatização dos Correios, e o próprio Pacheco se mostrou contrário à proposta de mudanças no Imposto de Renda, capitaneada pela Câmara, o que lhe rendeu a inimizade de Arthur Lira (PP-AL).

Senadores apontam que um dos motivos para avançar as pautas foi a decisão de Pacheco de fortalecer o colégio de líderes de bancada, com reuniões semanais.

Melhorou, assim, a articulação para incluir na pauta esses assuntos polêmicos, ao mesmo tempo em que a oposição se viu parcialmente contemplada com algumas agendas.

“Rodrigo Pacheco soube botar a bola no chão e jogar junto com os seus pares, respeitando e sabendo construir com as divergências”, afirma o líder do PL, Carlos Portinho (PL-RJ).

Por outro lado, Pacheco conseguiu segurar o avanço da pauta de costumes do bolsonarismo, engavetando projetos relacionados a porte de armas, homeschooling, entre outros. Também ganhou novamente a antipatia de Lira ao deixar morrer a reforma eleitoral aprovada na Câmara.

Pacheco enfrentou momentos de pressão interna, com alguns senadores chegando a questionar sua autoridade.

Um dos episódios mais delicados foi o período de espera de quatro meses que o presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Davi Alcolumbre (DEM-AP), levou para pautar a sabatina de André Mendonça, indicado ao STF por Bolsonaro.

Pacheco marcou um esforço concentrado para a sabatina de diversas autoridades, mas o próprio Alcolumbre dizia nos bastidores que estava agendando a análise de Mendonça porque tinha os votos para derrubá-la, embora tenha terminado derrotado.

Outro episódio de desgaste foi o acordo para fatiar a PEC dos Precatórios, promulgando inicialmente apenas a parte em comum aprovada por Câmara e Senado. Esse trecho, no entanto, não continha a vinculação incluída pelos senadores para evitar dar carta-branca ao governo para gastar livremente.

Senadores afirmaram que Pacheco cedeu a Lira e rompeu acordo firmado com líderes do Senado. O senador mineiro teve um embate no plenário com a também presidenciável Simone Tebet (MDB-MS), talvez a única vez que Pacheco se exaltou publicamente.

Durante uma semana, os senadores comentaram nos bastidores que Pacheco não teve “punho” para enfrentar Lira. Uma semana depois, no entanto, a Câmara dos Deputados concluiu a votação e foi possível promulgar a segunda parte da PEC, incluindo as alterações feitas pelo Senado.

Outro momento de desgaste, desta vez com a opinião pública, se deu quando Pacheco saiu em defesa das emendas de relator, usadas como moeda de troca pelo governo para a aprovação de projetos de seu interesse.

A prática adentrou o ano de 2021, sem que os líderes do Congresso vissem necessidade de abordar o assunto, até que decisão da ministra Rosa Weber congelou a execução de todas as emendas e exigiu transparência.

Como presidente do Congresso, Pacheco então precisou tomar a frente, negociando com o Supremo, defendendo as emendas de uma forma geral e patrocinando atos polêmicos para dar mais transparência ao processo.

Se por um lado o senador encerra o ano com menos brilho do que nos primeiros meses do ano, por outro lado deu demonstração de força ao conseguir eleger seu aliado Antonio Anastasia (PSD-MG) para a vaga aberta no TCU (Tribunal de Contas da União), em uma vitória humilhante sobre o então líder do governo Fernando Bezerra (MDB-PE), que obteve só sete votos e entregou o cargo na sequência, e o grupo de Renan Calheiros (MDB-AL), que apoiava Kátia Abreu (PP-TO).

VITÓRIAS

  • Autor de projeto de lei que destravou compra das vacinas Pfizer e Janssen
  • Articulação para aprovar a PEC que destravou o Auxílio Emergencial
  • Avanço de reformas econômicas no Senado
  • Congelamento da pauta de costumes
  • Eleição de Antonio Anastasia (PSD-MG) para o Tribunal de Contas da União

PERCALÇOS

  • Resistência à CPI da Covid e derrota ao ser obrigado instalá-la
  • Quatro meses para a sabatina de André Mendonça
  • Defesa das emendas RP9
  • Dificuldades em alavancar sua pré-candidatura ao Planalto

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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