Orçamento corrompido

By | 29/12/2021 8:08 am

Justiça dirá se houve corrupção no governo. Mas já se sabe que princípios orçamentários estão sendo corrompidos sem pudor

Como revelou reportagem do Estado, a distribuição sem transparência ou critérios técnicos dos mais de R$ 16 bilhões das emendas de relator, o chamado “orçamento secreto”, privilegiaram municípios governados por aliados dos caciques do Congresso.

Em 2020, entre as indicações de Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), até há poucos dias líder do governo no Senado, estava, por exemplo, o asfaltamento de um trecho de estrada em Lagoa do Barro. A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), estatal federal controlada por parlamentares do Centrão, contratou uma empresa por R$ 7,3 milhões.

Ocorre que não apenas a obra era de competência estadual, como a mesma empresa já havia vencido uma licitação do governo de Pernambuco. O valor previsto pela Codevasf era nada menos que 354% maior que o acordado pelo governo pernambucano.

A ordem de serviço da Codevasf foi suspensa, mas R$ 95 mil, bancados com emendas do deputado Fernando Filho (DEM-PE), filho de Bezerra, foram desperdiçados em estudos realizados por uma empresa sem permissão para operar no local. Só em 2020, Bezerra encaminhou ao menos R$ 150 milhões à Codevasf, dirigida por seu ex-assessor Aurivalter Cordeiro. A maior fatia foi para Petrolina, município governado por outro filho do senador, Miguel Coelho (MDB). Tudo em família.

No mesmo dia em que essas manobras foram reveladas pelo Estado, o presidente Jair Bolsonaro gravou seu pronunciamento de fim de ano. Já prevendo um panelaço – do qual deve participar boa parte dos cerca de 60% de cidadãos que, segundo pesquisas recentes, consideram seu governo ruim ou péssimo –, o presidente ironizou: “Convoco o pessoal da esquerda para fazer um superpanelaço para comemorar três anos sem corrupção”.

A Justiça dirá se é ou não cedo demais para comemorar. Desde já, no entanto, é certo que poucas vezes se viu um governo criar condições tão propícias para gerar corrupção, a começar pela falta de transparência.

De resto, se a corrupção é um tipo penal, em sua acepção geral significa deterioração, putrefação. Neste sentido, não resta dúvida de que o Orçamento público foi brutalmente corrompido. Princípios orçamentários básicos, como pertinência, relevância ou impessoalidade são violentados a plena luz do dia pelo governo e seus aliados.

A degradação salta aos olhos. Aumentos expressivos de verbas aos partidos ou de privilégios corporativos levaram ao maior encolhimento da história nos investimentos federais. Verbas sociais são enxugadas para dar espaços a projetos eleitorais. Enquanto a Bahia, por exemplo, era devastada por tormentas sem precedentes, governo e Congresso pactuavam uma redução de 43% nos recursos para a Defesa Civil, responsável, entre outras coisas, pela prevenção de enchentes e socorro às populações afetadas.

Diz-se que “a corrupção dos melhores é a pior” (corruptio optimi pessima est). Ao menos desse mal o governo está escusado. Mas, ao distribuir dinheiro público sem transparência ou critérios técnicos, está facilitando como nunca a disseminação da corrupção entre os piores.

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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