Um país conivente com a pobreza persistente
O PIB per capita, que mede o nível de bem-estar médio da população, levará anos para retornar ao nível observado em 2013
Não faz muito tempo, as estatísticas econômicas e sociais sugeriam que o Brasil tinha optado por se tornar um país de renda média, situando-se entre as nações mais ricas e as que não conseguiram sair da pobreza e do subdesenvolvimento. Parecia uma opção medíocre para o potencial de que o País dispõe, como disponibilidade de fatores naturais que estimulam o crescimento ambientalmente responsável e densidade populacional que asseguraria um mercado interno invejável, entre outros. Números mostrados recentemente pelo Estado indicam que nem isso estamos conseguindo ser.
Mesmo que, nos próximos anos, a economia retome o crescimento firme e vigoroso – cenário não visível no momento –, a melhora do padrão de vida dos brasileiros será lenta. O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima que o PIB per capita deve fechar 2021 em R$ 36.661, com alta de 3,8% sobre o de 2020. O aumento expressivo deve ser relativizado, pois em 2020 a economia encolheu fortemente. O resultado de 2021 será cerca de 1% menor do que o de 2019.
Para que até 2028 o PIB per capita alcance o nível observado em 2013, o PIB precisa crescer, em média, 2,1% ao ano entre 2023 e 2028 (o resultado de 2022 deve ser igual ao de 2021), observa a economista do Ibre/FGV Silvia Mattos. Com o aumento estimado para a população, esse ritmo de crescimento propiciaria o aumento anual médio de 1,5% do PIB per capita no período.
É possível que essa evolução seja alcançada. Na década de 2000, o País conseguiu crescer nesse ritmo. Mas esse é um cenário otimista. Uma situação internacional altamente favorável, inflação e contas públicas sob controle e, em alguns momentos, o andamento de reformas sustentaram um ciclo de crescimento que não se observou nos anos posteriores. Desde 2015, quando começou a recessão decorrente do fracasso da política econômica lulopetista, o desempenho tem sido medíocre, com o crescimento mal ultrapassando 1% ao ano.
Talvez a cautela recomende que se projete a recuperação do PIB per capita para 2030 ou ainda mais tarde.
A estagnação do PIB per capita vem acompanhada da piora da distribuição de renda, uma chaga social com que o País aceitou conviver. A crise provocada pela pandemia tornou esse quadro ainda mais sombrio. Passou-se a produzir menos por habitante e o pouco que a economia produz a mais é apropriado por um número menor de pessoas.
O alto desemprego, que a pandemia piorou, deve persistir por alguns anos. Observam-se melhoras nos indicadores do mercado de trabalho, mas elas são lentas. A taxa de desemprego no Brasil estava em torno de 5% nas décadas de 1980 e 1990. Em meados da década de 2010, havia chegado a cerca de 9%; a recessão causada pelo governo Dilma Rousseff a elevou para acima de 10%. A mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua mostrou que ela está em 12,6% da força de trabalho. Aos cerca de 13,5 milhões de brasileiros sem ocupação somam-se os que trabalham em condições precárias e os que, por falta de oportunidades, saíram da população economicamente ativa.
Pobreza é assunto de que o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, querem distância, pois não sabem o que fazer com ela. A insensata transformação do Bolsa Família, de êxito reconhecido, em Auxílio Brasil, de frágil sustentação fiscal, mostra quanto falta para o País dispor de políticas sociais condizentes com suas imensas necessidades.