PIB per capita levará anos para retomar o nível observado em 2013′

By | 30/12/2021 7:01 am

Um país conivente com a pobreza persistente

O PIB per capita, que mede o nível de bem-estar médio da população, levará anos para retornar ao nível observado em 2013

O empobrecimento da população, que se observa desde meados da década passada, deve se estender até o fim desta – isso se tudo correr bem. Numa projeção otimista, só em 2028 o Produto Interno Bruto (PIB) per capita do País – medida que indica qual parcela de tudo o que se produz num ano caberia a cada habitante se a distribuição fosse perfeita – deverá voltar ao nível observado em 2013. Terão sido 15 anos em que o brasileiro ficou mais pobre e lentamente conseguiu se recuperar para então retornar ao ponto de onde havia saído. Em uma década e meia, o nível de bem-estar médio do brasileiro não terá avançado nada.

Não faz muito tempo, as estatísticas econômicas e sociais sugeriam que o Brasil tinha optado por se tornar um país de renda média, situando-se entre as nações mais ricas e as que não conseguiram sair da pobreza e do subdesenvolvimento. Parecia uma opção medíocre para o potencial de que o País dispõe, como disponibilidade de fatores naturais que estimulam o crescimento ambientalmente responsável e densidade populacional que asseguraria um mercado interno invejável, entre outros. Números mostrados recentemente pelo Estado indicam que nem isso estamos conseguindo ser.

Mesmo que, nos próximos anos, a economia retome o crescimento firme e vigoroso – cenário não visível no momento –, a melhora do padrão de vida dos brasileiros será lenta. O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) estima que o PIB per capita deve fechar 2021 em R$ 36.661, com alta de 3,8% sobre o de 2020. O aumento expressivo deve ser relativizado, pois em 2020 a economia encolheu fortemente. O resultado de 2021 será cerca de 1% menor do que o de 2019.

Para que até 2028 o PIB per capita alcance o nível observado em 2013, o PIB precisa crescer, em média, 2,1% ao ano entre 2023 e 2028 (o resultado de 2022 deve ser igual ao de 2021), observa a economista do Ibre/FGV Silvia Mattos. Com o aumento estimado para a população, esse ritmo de crescimento propiciaria o aumento anual médio de 1,5% do PIB per capita no período.

É possível que essa evolução seja alcançada. Na década de 2000, o País conseguiu crescer nesse ritmo. Mas esse é um cenário otimista. Uma situação internacional altamente favorável, inflação e contas públicas sob controle e, em alguns momentos, o andamento de reformas sustentaram um ciclo de crescimento que não se observou nos anos posteriores. Desde 2015, quando começou a recessão decorrente do fracasso da política econômica lulopetista, o desempenho tem sido medíocre, com o crescimento mal ultrapassando 1% ao ano.

Talvez a cautela recomende que se projete a recuperação do PIB per capita para 2030 ou ainda mais tarde.

A estagnação do PIB per capita vem acompanhada da piora da distribuição de renda, uma chaga social com que o País aceitou conviver. A crise provocada pela pandemia tornou esse quadro ainda mais sombrio. Passou-se a produzir menos por habitante e o pouco que a economia produz a mais é apropriado por um número menor de pessoas.

O alto desemprego, que a pandemia piorou, deve persistir por alguns anos. Observam-se melhoras nos indicadores do mercado de trabalho, mas elas são lentas. A taxa de desemprego no Brasil estava em torno de 5% nas décadas de 1980 e 1990. Em meados da década de 2010, havia chegado a cerca de 9%; a recessão causada pelo governo Dilma Rousseff a elevou para acima de 10%. A mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua mostrou que ela está em 12,6% da força de trabalho. Aos cerca de 13,5 milhões de brasileiros sem ocupação somam-se os que trabalham em condições precárias e os que, por falta de oportunidades, saíram da população economicamente ativa.

Pobreza é assunto de que o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Economia, Paulo Guedes, querem distância, pois não sabem o que fazer com ela. A insensata transformação do Bolsa Família, de êxito reconhecido, em Auxílio Brasil, de frágil sustentação fiscal, mostra quanto falta para o País dispor de políticas sociais condizentes com suas imensas necessidades.

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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