A má qualidade do debate político, marcado pelo ódio ao diferente, tem afastado muitos jovens da política. É preciso resgatá-los
O que é aferido por pesquisas recentes, no entanto, é um movimento diametralmente oposto, e muito preocupante. Sem regulação pelo poder público das empresas de tecnologia por trás das redes sociais ou moderação efetiva do conteúdo de ódio e desinformação que circula por meio dos aplicativos, a virulência das discussões políticas e a disseminação de mentiras têm afastado os jovens de um debate que eles reconhecem dizer-lhes respeito, mas no qual muitos não se sentem à vontade para se engajar. Trata-se de algo extremamente ruim para qualquer país democrático, mas em particular para o Brasil, pois há quase uma década o País está aprisionado por uma cisão social que interdita o diálogo racional em torno de propostas para resolver mazelas históricas e projetar um futuro mais auspicioso para aqueles mesmos jovens.
A fim de entender as razões do afastamento de muitos jovens de 15 a 25 anos da política e, sobretudo, pensar em soluções para atraí-los para o bom debate político, a 11.ª turma do Curso Estadão de Jornalismo Econômico, em parceria com a Escola de Economia da Fundação Getúlio Vargas/São Paulo, criou o Pirililili, projeto de educação política voltado primordialmente aos adolescentes que votarão pela primeira vez. Os jornalistas do projeto Pirililili criaram uma enquete digital, à qual 604 adolescentes e jovens de todas as regiões do País responderam. Depois, foram abertos grupos de discussão pelo Zoom. Ao final do processo, foram realizadas entrevistas individuais. A maioria dos respondentes tinha 16 anos, idade em que o voto é facultativo. Mais da metade deles (54%), no entanto, afirmou que irá às urnas no ano que vem. Para 58%, “o voto é uma chance de mudar o futuro”.
A bem da verdade, embora indiquem maioria, ainda são porcentuais baixos. Tanto um resultado como outro devem servir de alerta para a necessidade de qualificação da educação política no Brasil e, em especial, para a qualificação do debate político travado nas redes sociais. Uma coisa depende essencialmente da outra. É difícil imaginar que as empresas de tecnologia mudarão a estrutura de seus algoritmos por boa vontade e espírito público. Há um sem-número de estudos mostrando que a polarização política extremada e mensagens de ódio e desinformação aumentam o tempo de permanência dos usuários nas redes, o que significa muito dinheiro para as Big Techs. Logo, o melhor antídoto para esse veneno é a educação digital dos cidadãos.
Cerca de 25% dos jovens ouvidos pelo Pirililili afirmaram se incomodar com o clima de “brigas e polarização” que marca o debate político nas redes sociais. Na idade em que a aceitação pelos pares e o pertencimento são críticos, muitos desses adolescentes manifestaram receio em se posicionar politicamente temendo ser vítimas de bullying ou da famigerada “cultura do cancelamento”, uma espécie de linchamento virtual. Um dos jovens de 16 anos que participaram da pesquisa, declarando-se alinhado ao centro-direita, disse ser tachado de “comunista” quando reconhece publicamente o “mérito de uma política de esquerda”. Outra participante, de 19 anos, classificou como “terrível” a polarização política extremada. De fato é. Pesquisa similar realizada pelo Ipec apurou que o medo do “cancelamento” foi o motivo alegado por 59% dos jovens entrevistados para evitar a participação no debate político nas redes sociais.
Os jovens querem participar da política. Isso precisa ser estimulado. Mas, hoje, a má qualidade do debate os repele. É preciso combater o ódio e resgatar consensos mínimos, como o respeito a visões de mundo e valores diferentes. E só a política pode servir à concertação civilizada entre eles.