O mensageiro da morte, agora, ameaça levar a Covid-19 para o Suriname
Registre-se o empenho de Bolsonaro em retardar a vacinação, causando mortes que poderiam ter sido evitadas. Foi bem-sucedido desde que o vírus surgiu na China em dezembro de 2019.
Não foi naquele ano, nem em março de 2020 quando o vírus matou aqui pela primeira vez, nem em janeiro de 2021 quando o primeiro brasileiro foi vacinado, que Bolsonaro disse com orgulho:
“Da minha parte, eu não tomei vacina e não vou tomar vacina. É um direito meu e de quem não quer tomar. Até porque os efeitos colaterais e adversos são enormes”.
Como 79% dos brasileiros são a favor de vacinar as crianças, e 81% da apresentação de comprovante de vacinação para a entrada em locais fechados, Bolsonaro, ontem, deu o dito pelo não dito.
“Deixo bem claro, foi o nosso governo que comprou 400 milhões de doses de vacinas. Continuam me acusando de ser contra a vacina, mas como? Se comprei 400 milhões de doses?”
Um apanhado de 15 afirmações feitas por ele nos últimos 15 meses confirma o que Bolsonaro quer que esqueçamos:
2.set.2020 – “Ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”.
21.out.2020 – “Para o meu governo, qualquer vacina, antes de ser disponibilizada à população deverá ser comprovada cientificamente pelo Ministério da Saúde e certificada pela Anvisa. O povo brasileiro não será cobaia de ninguém”.
5.dez.2020 – “Como sempre, eu nunca fugi da verdade, eu te digo: eu não vou tomar vacina. E ponto final. Se alguém acha que a minha vida está em risco, o problema é meu. E ponto final”.
19.dez.2020 – “A pressa da vacina não se justifica porque você mexe com a vida das pessoas, você vai inocular algo em você”.
7.jan.2021 – “Vocês sabem quantos por cento da população vai tomar vacina? Pelo o que eu sei, menos da metade vai tomar”.
11.fev.2021 – “Quando eu falei remédio lá atrás, levei pancada. Nego bateu em mim até não querer mais. Entrou na pilha da vacina. O cara que entra na pilha da vacina, só a vacina, é um idiota útil. Nós devemos ter várias opções”.
4.mar.2021 – “Tem idiota que a gente vê nas redes sociais, na imprensa, [dizendo] ‘vai comprar vacina’. Só se for na casa da tua mãe. Não tem [vacina] para vender no mundo”.
17.jun.2021 – “Eu estou vacinado entre aspas. Todos que contraíram o vírus estão vacinados, até de forma mais eficaz que a própria vacina, porque você pegou vírus para valer. Quem pegou o vírus está imunizado, não se discute”.
14.out.2021 – “Por que obrigar criança a tomar vacina? Qual a chance de uma criança, por exemplo, contrair o vírus e ir a óbito? […] Parece, não quero afirmar, que é o lobby da vacina”.
7.dez.2021 – “A gente pergunta: por que o passaporte vacinal? Essa coleira que querem botar no povo brasileiro. Cadê nossa liberdade? Prefiro morrer do que perder minha liberdade.”
19.dez.2021 – “Vacina para criança: primeiro, só autorizado pelo pai. Se algum prefeito, governador, ditador aí quiserem impor é outra história. Mas por parte do governo federal tem que ter a autorização dos pais. Tem que ter uma receita médica”.
27.dez.2021 – “A questão da vacina para crianças é uma coisa muito incipiente, o mundo ainda tem dúvidas, e não vem morrendo crianças que justifique uma vacina emergencial”.
6.jan.2022 – “A vacina será de forma não obrigatória. Então, ninguém é obrigado a vacinar o teu filho. Se é não obrigatória, nenhum prefeito ou governador poderá impedir o garoto ou a garota de se matricular nas escolas por falta de vacina”.
12.jan.2022 – “300 e poucas crianças, lamento cada morte, ainda mais de crianças que a gente sente mais. Mas não justifica vacinação pelos efeitos colaterais adversos que essas pessoas têm”.
A próxima viagem internacional de Bolsonaro será ao Suriname nesta quinta-feira (20/1). Dos 52 integrantes da equipe precursora que voariam para lá, 10 contraíram o vírus.
Quer dizer: não basta ter dado passe livre ao vírus para que matasse quem tivesse de morrer no Brasil, ele pode pôr em risco no Suriname a saúde dos que o receberem, e à sua comitiva.
O mensageiro da morte não liga para a própria vida desde que escolheu ser paraquedista e antes de o Exército dispensá-lo por conduta antiética, acusado de pretender jogar bombas em quartéis.
O médico responsável pela internação de Bolsonaro no último dia 3º, o cirurgião Antônio Luiz Macedo, aconselhou Michelle, a primeira-dama, a pôr um cadeado na moto dele.
“O presidente não pode fazer força também por um bom tempo, a força pode fazer o abdome torcer”, explicou Macedo. Há dois dias, Bolsonaro passeou de moto em Brasília.
Se não tem amor à vida, o problema é dele. Ameaçar a vida alheia, porém, é um problema que afeta a todos os seus governados. Está próxima a hora de acertarmos as contas com Bolsonaro.