O presidencialismo está ferido de morte?

By | 24/01/2022 9:32 am

O Brasil requer um presidente que saiba como o presidencialismo multipartidário funciona

(Carlos Pereira, colunista dO Estadão, 24 de janeiro de 2022)

Imagem Carlos PereiraTem havido grande preocupação sobre riscos de disfuncionalidades do presidencialismo brasileiro com as mudanças ocorridas nas emendas individuais e coletivas dos parlamentares, que passaram a ter sua execução obrigatória.

Com as emendas impositivas, o Executivo perdeu uma ferramenta decisiva que, além de baixo custo, proporcionava liquidez e transparência nas suas negociações com os legisladores. Como resultado, o preço do apoio legislativo foi inflacionado quando os parlamentares perceberam que não mais necessitavam votar consistentemente com o presidente para terem as suas emendas executadas.

Congresso Nacional
Líderes do Congresso se mobilizam para evitar cortes nas emendas de comissão Foto: Dida Sampaio/Estadão

O Executivo foi obrigado a encontrar outras ferramentas de formação e manutenção de maiorias legislativas. A saída encontrada foi as emendas de relator, que além de caras não são transparentes. Os presidentes da Câmara e do Senado passaram a definir quem seria beneficiado, ao invés do Executivo. A consequência foi o enfraquecimento da disciplina partidária, pois os legisladores não precisam mais seguir as preferências dos líderes dos seus partidos para terem acesso a tais recursos.

Por ter uma base eleitoral nacional, a coordenação da execução de emendas parlamentares pelo presidente tem o potencial de seguir uma lógica virtuosa, de busca de aprovação de políticas universais. Já a coordenação da execução das emendas pelos próprios parlamentares, por estes terem uma base eleitoral muito mais circunscrita, tende a privilegiar políticas locais com maiores riscos de predação e ingovernabilidade.

Estaria o presidencialismo multipartidário “ferido de morte” diante da obrigatoriedade da execução das emendas individuais e coletivas e, especialmente, após a ressurreição das emendas de relator?

O vencedor em 2022 terá que montar uma coalizão se quiser governar.

Já sabemos que os modelos de gerência de coalizão de Lula, que sempre monopolizou recursos para o próprio PT e tratou os parceiros como apêndice a partir de trocas ilegais e não republicanas, e de Bolsonaro, que inicialmente ignorou os partidos e os legisladores e depois, em situação de grande vulnerabilidade, ressuscitou o pântano das emendas de relator, fracassaram.

Mas ninguém sabe ainda quais serão as estratégias e termos de negociação dos outros candidatos.

Pretendem governar, de facto, via coalizão por meio de um programa comum, tratar aliados como verdadeiros parceiros e dividir poder e recursos de forma proporcional? Terão força política para rever a impositividade das emendas individuais e coletivas? O que vão fazer com as emendas de relator?

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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