Morte de Olavo de Carvalho acelera crise do bolsonarismo

By | 25/01/2022 6:42 pm
(Marcos Strecker, em Istoé, em 25/01/2022)

A morte de Olavo de Carvalho acontece quando sua influência no governo Bolsonaro já tinha acabado. Era um desfecho previsível. Logo após ganhar as eleições (para sua própria surpresa), o presidente precisava criar um plano de governo e preencher a administração com quadros de confiança. Na economia, pinçou Paulo Guedes e suas ideias ultraliberais e autoritárias. Para o resto, imaginou que poderia usar os seguidores do autointitulado filósofo que ganhou fama ao cristalizar a crise do petismo por meio de teses radicais copiadas dos neoconservadores americanos. Era um repertório que surfava no fenômeno das redes sociais e no velho supremacismo branco (derrotado mas não enterrado na Guerra de Secessão).

Foto: Alan Santos/PR© Fornecido por IstoÉ Foto: Alan Santos/PR

Bolsonaro achou que teria algum sucesso com os seguidores de Olavo em ministérios estratégicos: Educação, Relações Exteriores e Meio Ambiente, sem contar o gabinete do ódio.  Os admiradores do guru praticaram uma política de destruição e fragilizaram o governo. Nas cordas, Bolsonaro demitiu todos e tentou se escorar nos militares. Mas a militarização foi rechaçada pelas Forças Armadas e também fracassou. O presidente então entregou o poder ao Centrão, que até esse momento ainda procura estender suas garras para toda a administração. É a terceira e, provavelmente, última fase do governo.

Assim como o trumpismo, o bolsonarismo pode continuar existindo após a provável derrota de Bolsonaro em outubro. Mas o movimento está esfacelado. Escanteada, a ala ideológica (representada por nomes como Abraham Weintraub e Ricardo Salles) está em pé de guerra com a ala política. As eleições devem selar o divórcio. Cada vez mais distantes, os militares estão mais à vontade para criticar o governo e exercer sua independência institucional (vide o caso das declarações do diretor-presidente da Anvisa, um contra-almirante).

O Centrão abraçou o bolsonarismo com avidez e por oportunismo, mas já acena para Lula. O bolsonarismo parece voltar à sua feição original, sem força para sustentar um projeto de poder (o partido Aliança pelo Brasil nem saiu do papel). É um mau sinal para Lula. O PT precisa brandir a ameaça da reeleição de Bolsonaro para apagar seu passado e voltar ao poder. Com o derretimento de Bolsonaro, essa tarefa vai ser mais difícil.

 

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Category: Blog

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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