Não é só incompetência

By | 25/01/2022 7:23 am

Não só a sociedade civil, como a comunidade médica reprovam a sabotagem do Ministério da Saúde

 

Se não bastasse o fato de que, com quase dois anos de pandemia, o País segue sem uma recomendação oficial de como tratar pacientes com covid, o Ministério da Saúde insiste em promover tratamentos com ineficácia comprovada e sabotar a principal arma contra o vírus. Uma nota “técnica” da pasta defendeu a eficácia da hidroxicloroquina e negou a segurança e a efetividade das vacinas. Ou seja: não é só omissão, não é só incompetência, é perversidade.

Em carta de repúdio, mais de 45 mil professores, pesquisadores e profissionais de saúde se disseram “perplexos” ante “a vasta lista de estultices” compiladas na nota, afirmando que a pasta “transgride não somente os princípios da boa ciência, mas avança a passos largos para consolidar a prática sistemática de destruição de todo um sistema de saúde”.

A Academia Brasileira de Ciências, a Ordem dos Advogados do Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e a Associação Brasileira de Imprensa criticaram esse “circo da insensatez”, em especial a “campanha de sabotagem” da vacinação pediátrica, “desprezando o direito à vida e à saúde de uma faixa etária com cerca de 69 milhões de brasileiros”.

Esses cientistas, juristas, jornalistas e clérigos representam a maioria da população que, contra as investidas do Planalto, aderiu massivamente aos protocolos sanitários e às vacinas. Ainda assim, impressiona a capacidade de Jair Bolsonaro não só de resistir aos consensos científicos e ao mais comezinho bom senso, mas de corromper profissionais outrora reputados.

O ministro Marcelo Queiroga foi presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Não se chega a essa posição sem provas de competência e perícia. Por isso, sua cumplicidade com a disseminação de informações fraudulentas para satisfazer as taras ideológicas de Jair Bolsonaro é ainda mais deletéria que a pusilanimidade de seu antecessor, o intendente Eduardo Pazuello. Assim, são louváveis as iniciativas de seus pares para dar um basta a essas sandices, como o pedido de impeachment do ministro ajuizado pelo Sindicato dos Médicos do Rio de Janeiro no Congresso ou a solicitação dos ex-secretários de Saúde do Município de São Paulo de um processo ético-profissional no Conselho Federal de Medicina.

Quem presta o juramento de Hipócrates se compromete a aplicar tratamentos para o bem dos doentes segundo seu “poder e entendimento”, nunca “para causar dano ou mal a alguém”, e a não dar “por comprazer” (e muito menos, vai implícito, por ambição política) “nem remédio mortal nem conselho que induza a perda”. A quem for fiel a esses preceitos, reza o juramento, que lhe seja dado “gozar felizmente da vida” e da sua “profissão”, “honrado para sempre entre os homens”. Mas, se deles se “afastar ou infringir, o contrário aconteça”.

Espera-se que os representantes do povo e os da classe médica sejam veículos dessas expectativas milenares e retribuam com a desonra o opróbrio que a fidelidade do ministro à necropolítica de Bolsonaro atrai para toda a população brasileira.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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