Bolsonaro está isolado em sua ameaça contra as eleições

By | 04/02/2022 6:42 am

O Congresso também resiste

Seguindo o exemplo do Judiciário, o Congresso fez contundente defesa da democracia. Bolsonaro está isolado em sua ameaça contra o processo eleitoral

Um dia depois da contundente defesa da democracia e do sistema eleitoral por parte da cúpula do Judiciário, os presidentes do Senado e da Câmara também rechaçaram qualquer possibilidade de contestação das eleições de outubro. Os discursos na abertura do Ano Judiciário e do Ano Legislativo mostram que a ameaça de Jair Bolsonaro contra as eleições não foi esquecida ou relevada. Confirmam também o total isolamento do chefe do Executivo federal em seu intento liberticida. Nem mesmo o fiel aliado do governo federal Arthur Lira, presidente da Câmara, deseja dar trela a esse delírio bolsonarista.Ao afirmar que um dos desafios do ano de 2022 será a “defesa da democracia”, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, alertou para a necessidade de estar vigilante “contra a mínima insinuação de investida autoritária” no País. No dia anterior, o presidente do Supremo, ministro Luiz Fux, tinha dito que “as agendas da estabilidade democrática e da preservação das instituições políticas do País” são uma das prioridades da pauta de julgamentos da Corte neste ano. É sintomático que as autoridades explicitem de forma tão incisiva sua preocupação com a democracia. Trata-se de um ambiente completamente diferente ao que se viu nas eleições anteriores.

Jair Bolsonaro conseguiu de fato retroceder a pauta institucional do País. O presidente do Senado precisou até mesmo lembrar que, na democracia, os perdedores aceitam a derrota. “Num ano de eleições gerais, caberá ao povo escolher bem seus representantes; aos vencedores, fazer de seu mandato um verdadeiro serviço; e aos perdedores, respeitar o resultado das urnas”, disse.

Ao alertar sobre os perigos que rondam atualmente a democracia, Rodrigo Pacheco citou uma das práticas habituais do bolsonarismo, a difusão de desinformação pelas redes sociais. “É fundamental garantir que o processo eleitoral não seja afetado por manipulação, por disparos que gerem desinformação”, lembrou.

Por sua vez, o presidente da Câmara, Arthur Lira, explicitou que até mesmo o seu alinhamento com o Palácio do Planalto – que assegura fartos nacos do Orçamento Federal a seus interesses políticos – tem limites. Não pactuará com retrocessos antidemocráticos. “Quero ressaltar que, independentemente da conjuntura futura, o que o Brasil conseguiu aqui é definitivo. E como Poder mais transparente e democrático da República não permitiremos retrocessos discricionários e quiçá imperiais”, disse Lira.

Perante esse cenário, é de justiça reconhecer o absoluto isolamento de Jair Bolsonaro quando o tema é a ameaça contra o processo eleitoral. A atual legislatura tem muitos defeitos. Têm sido frequentes, por exemplo, as ocasiões de flerte do Congresso com a irresponsabilidade fiscal, com o populismo irracional e com a manutenção de privilégios. No entanto, mesmo com todas essas deficiências graves, o Legislativo não quer nenhuma proximidade com a ameaça de Jair Bolsonaro de que, dependendo do resultado das eleições de outubro, poderá não aceitá-lo, em uma ridícula imitação da tentativa de golpe protagonizada por Donald Trump nos Estados Unidos.

Eis a conclusão inexorável. Mesmo a pior legislatura é muito melhor do que Jair Bolsonaro. Mesmo a composição atual do Congresso, que não deixará nenhuma saudade, é mais comprometida com o regime democrático do que o atual chefe do Executivo federal.

Diante da leviandade bolsonarista, atiçando por antecipação a turba para que não respeite a vontade a ser expressa nas urnas, é preciso recordar um elemento fundamental do Estado Democrático de Direito. Os ataques contra a democracia são passíveis de punição. Como disse o presidente do Senado, “esperemos (das instituições da República) a fiscalização e punição daqueles que atentem contra o processo eleitoral”.

A linha foi traçada. Não haverá tolerância com quem atentar contra o regime democrático e o sistema eleitoral. Jair Bolsonaro pode iludir-se achando que é imune ou que a lei não o atinge. Mas o Judiciário e o Legislativo alertaram que não é bem assim. Os atos têm consequências.

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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