Em conversas reservadas, integrantes do partido dizem ser “ilusão” achar que Lula vencerá no 1.º turno e observam que a disputa presidencial será a mais dura desde a redemocratização
Dirigentes do PSB têm feito críticas à cúpula do PT pelo que chamam de “salto alto” na campanha do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em conversas reservadas, a avaliação de uma ala do partido é a de que a disputa de outubro não será um “mar de rosas”, mas, mesmo assim, a folga de Lula sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL), nas pesquisas de intenção de voto, está levando os petistas a cantar vitória antes da hora.
Levantamento do Instituto de Pesquisa e Pós Graduação (Ipespe), de 14 de janeiro, aponta que Lula tem 44% das intenções de voto, ante 24% de Bolsonaro — resultado idêntico ao demonstrado na pesquisa de dezembro. Desconsiderando a margem de erro – de 3,2 pontos porcentuais para mais ou para menos –, o ex-presidente tem a soma exata dos adversários na pesquisa estimulada. São eles: Sérgio Moro (9%), Ciro Gomes (7%), João Doria (2%), Simone Tebet (1%), Rodrigo Pacheco (1%) e Luiz Felipe d’Ávila (1%), além de Bolsonaro.
Na avaliação de dirigentes do PSB, a “dureza” com que o PT tem tratado o partido nas negociações para a formação de uma federação e nas candidaturas aos governos dos Estados, como São Paulo, Espírito Santo e Rio Grande do Sul, é um reflexo da euforia dos petistas. Há pesquisas que indicam que Lula poderia, inclusive, vencer no primeiro turno, o que, na análise do PSB, “é uma ilusão”.
A eleição de outubro, para o comando do PSB, pode ser a mais dura desde a redemocratização. Líderes do partido lembram que adversários do petista, como Bolsonaro e o ex-juiz e ex-ministro da Justiça Sérgio Moro, vão calibrar seus discursos com o envolvimento do PT em casos de corrupção, como o mensalão e a Operação Lava Jato, o que pode diminuir a distância de Lula para os outros candidatos. Adicionam a esse caldeirão o fato de Bolsonaro ter a máquina estatal nas mãos e citam as eleições americanas.
Em janeiro do ano passado, seguidores do então presidente Donald Trump, de quem Bolsonaro é admirador declarado, invadiram o Capitólio. Na ocasião, autoridades americanas prenderam mais de 700 pessoas pelo ataque fomentado por Trump e seus aliados com alegações, sem fundamento, de fraude eleitoral.
Aliança
Para a cúpula do PSB, o cenário da corrida ao Planalto só começará a ficar mais claro a partir de abril, com o fechamento da janela partidária e a formação de federações. Este tipo de associação será uma das novidades das disputas de 2022. As federações foram criadas pelo Congresso, em setembro do ano passado, e regulamentadas por uma resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), publicada em 14 de dezembro, sob a relatoria do ministro Luís Roberto Barroso, presidente da Corte.
Até agora, PT, PSB, PC do B e PV fizeram duas reuniões para discutir como seria a estrutura de uma federação entre os quatro partidos. O Estadão apurou que o PT e o PC do B apresentaram duas propostas de estatuto para a federação. A única que se manteve na mesa foi a dos petistas.
Pela proposta do PT, aceita pelo PC do B, o comando da federação teria 50 cadeiras e seria dividido de forma proporcional ao tamanho dos partidos na Câmara. Hoje, o PT tem 53 deputados federais; o PSB, 30; PC do B, 8 e PV, 4. Na assembleia federativa, os petistas teriam direito a 27 cadeiras, o PSB ficaria com 15 e as outras duas siglas com quatro cada uma.
O PSB não aceitou a proposta, alegando que há um desequilíbrio na distribuição das vagas. Os dirigentes do partido concordam que os petistas tenham direito a mais vagas, mas gostariam de ter ao menos 18 cadeiras.
A direção da federação será a responsável por decisões importantes, como as candidaturas de cada pleito. As regras da associação partidária estabelecem que só pode haver um candidato desse bloco para cada eleição presidencial, para o governo de cada Estado e, ainda, para as disputas das prefeituras. Caberia à assembleia da federação escolher quem poderia concorrer em cada eleição.
Outro entrave que surgiu na discussão dos quatro partidos foi a eleição municipal de 2024. O PSB propôs que os prefeitos em mandato tenham a prioridade da reeleição. Outros candidatos só poderiam tentar a vaga se aquele que estivesse no cargo desistisse da disputa. Os petistas ficaram de estudar a ideia. Um novo encontro dos dirigentes das siglas está previsto para a próxima quarta-feira, 9. Segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as federações partidárias deverão ter o registro deferido pela Corte até o dia 2 de abril, seis meses antes das eleições.
Caso a federação não seja fechada pelos partidos, uma saída é formar apenas uma aliança nacional. Este cenário permitiria que cada sigla lançasse seus próprios candidatos nos Estados e facilitaria o diálogo entre o PT e o PSB em São Paulo, onde os petistas querem o ex-prefeito Fernando Haddad na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes e os socialistas estão com o ex-governador Márcio França.
Apesar dos entraves na discussão sobre a federação, o PSB está decidido a apoiar a candidatura do ex-presidente Lula em outubro. O partido tem externado sua preocupação com “métodos autoritários” do governo Bolsonaro e entende que as eleições não serão da esquerda contra a direita, mas da “democracia versus autoritarismo”.