PEC dos Combustíveis: BC alerta que proposta pode aumentar os preços em vez de diminuir a inflação

By | 08/02/2022 4:03 pm

Em ata, Copom ainda reafirmou a projeção de que o IPCA deve ficar acima do teto de 5% este ano

(Thaís Barcellos e Eduardo Rodrigues, nO Estadão, 08 de fevereiro de 2022)

Enquanto o governo e o Congresso Nacional se debruçam sobre diversos textos possíveis para uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que reduza os impostos sobre combustíveis e energia, o Banco Central alertou nesta terça-feira, 8, que o tiro pode sair pela culatra. Na ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o colegiado chama a atenção para medidas que na verdade podem contribuir para deteriorar o cenário fiscal, levando a um aumento das projeções de inflação logo à frente.

“O Comitê nota que mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva”, destacou o BC.

Gasolina / Posto de Combustível
Preços em posto; Banco Central alertou que PEC dos Combustíveis pode aumentar os preços em vez de diminuir a inflação Foto: Dida Sampaio/Estadão – 10/9/2021

Hoje, há três propostas com mais força. A do Senado, além de reduzir os tributos sobre combustíveis, cria um vale diesel para caminhoneiros, dá subsídio para tarifas de ônibus e amplia o vale gás. O impacto total, segundo integrantes da equipe econômica, supera R$ 100 bilhões. O custo da proposta da Câmara, que prevê a redução de impostos sobre combustíveis em 2022 e 2023 é a metade, R$ 50 bilhões. Já a equipe econômica defende apenas a desoneração sobre o diesel, com impacto entre R$ 17 bilhões e R$ 18 bilhões.

Na semana passada, o Copom elevou a Selic em 1,50 ponto porcentual, de 9,25% para 10,75% ao ano. Na ata de hoje, o comitê fez um parágrafo maior sobre os riscos fiscais, reforçando que a incerteza em relação ao futuro do arcabouço atual continua elevando prêmios de risco e elevando o risco de uma desancoragem das expectativas de inflação.

“O Copom reitera que o processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para o crescimento sustentável da economia. Esmorecimento no esforço de reformas estruturais e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”, repetiu o colegiado.

Novo estouro da meta

Assim como no comunicado após a decisão da semana passada, a ata volta a dizer que o Copom acredita que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), inflação oficial do País, deve ficar acima do teto de 5% neste ano, o que representará, se confirmado, o estouro da meta de inflação pelo segundo ano consecutivo.

Pelas projeções do BC, a inflação deverá fechar o ano em 5,4%. Economistas do mercado financeiro estimam inflação ainda maior este ano, em 5,44%. O objetivo a ser perseguido pelo Banco Central este ano é de 3,50%, com tolerância de 2,0% a 5,0%.

Mesmo assim, o Copom também indicou que o próximo aumento da taxa básica de juros, em meados do mês de março, será menor. “Em relação aos seus próximos passos, o Comitê antevê como mais adequada, neste momento, a redução do ritmo de ajuste da taxa básica de juros”, afirmou o colegiado na ata.

Na reunião da semana passada, o aumento foi de 1,5 ponto percentual, para 10,75% ao ano. Para o próximo encontro, em meados de março, a previsão do mercado financeiro, até o momento, é de que a elevação da taxa Selic será de um ponto percentual, para 11,75% ao ano.

Segundo o BC, políticas fiscais que impliquem impulso adicional da demanda agregada ou piorem a trajetória fiscal futura podem impactar negativamente preços de ativos importantes e elevar os prêmios de risco do país.

“O Comitê avalia que a incerteza em relação ao arcabouço fiscal segue mantendo elevado o risco de desancoragem das expectativas de inflação e, portanto, a assimetria altista no balanço de riscos. Isso implica maior probabilidade de trajetórias para inflação acima do projetado de acordo com o cenário de referência”, repetiu a ata, como no comunicado.

Mesmo assim, o BC manteve seu balanço de riscos com fatores em ambas as direções. O Copom voltou a citar que uma possível reversão, ainda que parcial, do aumento nos preços das commodities internacionais (produtos básicos, como petróleo e minério de ferro) em moeda local “produziria trajetória de inflação abaixo do cenário de referência”, de 5,4% em 2022 e 3,2% em 2023.

Redução do ritmo não significa fim das altas

A ata do Copom não poupou recados e mostrou que o colegiado não está pronto para parar o aumento da Selic. A ata corrigiu o tom do comunicado da decisão deste mês e mostrou que a intenção de tirar o pé do acelerador no processo de alta da Selic não significa o fim do ciclo no próximo encontro, nos dias 15 e 16 de março.

O documento do BC deixou claro que a intenção do colegiado em reduzir o ritmo de ajuste monetário a partir de março não significa encerrar o ciclo de aumento de juros no próximo encontro. A diretoria do BC citou explicitamente “ajustes adicionais”, sem revelar, entretanto, a magnitude desses movimentos à frente.

O BC deixou uma margem para lidar com as incertezas do cenário e por isso não se comprometeu a um movimento específico. É bom lembrar que o atual ciclo em nenhum momento foi suave, já começando com altas de 0,75 p.p, seguidas por elevações de 1 p.p. até chegar ao ritmo atual de 1,50 p.p..

Ao mesmo tempo, a ata sinalizou que o mercado segue atrás da curva desenhada pelos modelos do BC, que pode estar mirando uma taxa terminal de juros mais elevada do que a das projeções que compõem o cenário básico utilizado pelo Copom – pelas quais a Selic sobe para 12% a.a. no primeiro semestre de 2022, termina o ano em 11,75% a.a. e reduz-se para 8,00% a.a. em 2023.

“Vale notar que os cenários considerados, consistentes com a convergência da inflação para suas metas, pressupunham trajetória da taxa de juros superior às utilizadas no cenário de referência”, detalhou o documento.

Por fim, o BC retomou a cruzada fiscal ao alertar que ainda que sejam adotadas medidas benéficas para a inflação no curto prazo, esse artificialismo pode renovar as desconfianças do mercado sobre o compromisso de ajuste das contas públicas, levando a um aumento da inflação no curto prazo. A ata não precisou mencionar, mas o recado dado diz respeito à PEC dos Combustíveis que, a depender dos diversos formatos debatidos entre governo e Congresso, pode ser tornar a nova “bomba fiscal” brasileira, nas palavras do próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, em entrevista ao Estadão publicada hoje.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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