Alckmin é o troféu do ex-presidente para conversar com líderes de MDB, PSD e Centrão, mas a grande novidade é a aproximação com o PSDB
Como todos os caminhos levavam a Roma, o PT quer fazer crer que todas as articulações levam a um apoio ao ex-presidente Lula. Lula está sedimentando a esquerda e ampliando seus horizontes à direita, é verdade. Mas que todos os partidos estejam indo em fila, bovinamente, para apoiá-lo no primeiro turno, é exagero.
Geraldo Alckmin, tucano desde criancinha, é o troféu de Lula para conversar com líderes de MDB, PSD e Centrão, incluindo o PP do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, que é do Nordeste, onde Lula e o PT são campeões de votos. Mas a grande novidade é a aproximação de Lula com tucanos históricos.
Essas conversas com o arquirrival PT, com José Dirceu na jogada, podem estar por trás do jantar desta semana de quatro ex-presidentes do PSDB em busca de alternativas à candidatura de João Doria: Pimenta da Veiga e Aécio Neves (MG), Tasso Jereissati (CE) e José Aníbal (SP). Tasso considera apoiar Lula desde a vitória de Doria nas prévias. Zé Aníbal é o mais radical contra esse apoio.
Sem consenso, eles têm canais com Lula, Gilberto Kassab, Sérgio Moro, Simone Tebet, Michel Temer, ACM Neto… em busca de uma tábua de salvação, já que Doria combina baixa intenção de votos e alta rejeição, o PSDB está mais rachado do que nunca e a única hipótese descartada é Jair Bolsonaro, “o inimigo”.
Tucanos históricos com Lula no primeiro turno? É esquecer a história e a origem de toma lá, dá cá, Centrão, mensalão, petrolão, Lava Jato e, no fim da linha, Bolsonaro: a incapacidade de PT e PSDB selarem em 1994 uma aliança mais do que natural na época. Com o fracasso, seguiu-se um quarto de século de guerra, muitas vezes suja, entre líderes e entre eleitores.
Enquanto o PSDB se debate em crises existenciais, o MDB do Nordeste já está com Lula, o Centrão só disfarça e Kassab acaba de assumir em público o que já se sabia desde o lançamento do nome do senador Rodrigo Pacheco: o PSD está com um pé no barco lulista.
À esquerda, o PT está para fechar uma federação partidária com PV e PCdoB e conversa com, Lula PSOL (que nasceu de dissidência petista), mas enfrenta muitas resistências no PSB, que é o que interessa. Além das disputas estaduais, há outro fator: setores do PSB em SP, ES, RS e DF preferem Ciro Gomes (PDT).
Moral da história: perspectiva de poder atrai, mas desconfiança afasta e não falta quem concorde com Ciro ao lançar sua candidatura: “Para ele, Lula, o Brasil é um objeto, e, se ele não estiver na eleição, nada presta para o Brasil”. Lula e o PT não quiseram e não querem aliados e alternância, só súditos e eterno protagonismo.
Nossa opinião
Como aconteceu na eleição que o levou ao primeiro mandato presidencial, Lula teve que ampliar sua base para ganhar aquela eleição. Só com o PT ele nunca teria sido eleito. Foi buscar no centro, o vice José Alencar, com o que “amansou” os empresários temerosos de um governo petista. Agora ele foi buscar o ex-peessedebista Alckmim e ao mesmo tempo vem conversando com lideranças até do Centrao. Primeiro para garantir a sua eleição, quem sabe, já no primeiro turno. E por outro lado para garantir a governabilidade, pois dificilmente, só com a esquerda, conseguirá governar o país. (LGLM)