Bolsonaristas não se incomodam em quebrar o país, querem é ganhar a eleição!

By | 12/02/2022 8:10 am

Economia a serviço da eleição

Flávio Bolsonaro lembra a Guedes que estamos ‘em ano eleitoral’, num recado nada sutil de que o que importa éganhar a eleição, e não equilibrar as contas públicas

Com um histórico mal explicado de compra de imóveis em dinheiro vivo e uso de verbas de gabinete quando era deputado estadual, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) expôs com exatidão a visão de sua família sobre a administração pública. Escolhido para coordenar a campanha de Jair Bolsonaro, Flávio deixou claro, em entrevista ao jornal O Globo, que não vê qualquer problema na instrumentalização da política econômica para impulsionar a candidatura do pai. Se ainda havia dúvidas sobre o papel do ministro Paulo Guedes nessa conjuntura, não há mais. Pela reeleição, vale tudo, inclusive arrebentar o pouco que resta da credibilidade fiscal do País. “Ele (Guedes) tem o senso de responsabilidade de buscar o meio-termo para que a política econômica não degringole o Brasil de vez, a médio e longo prazo, mas sabe da importância, em ano eleitoral, de ter um remédio mais amargo para segurar a inflação, reduzir o preço do dólar e gerar mais emprego”, disse o senador.

Criativo o entendimento de Flávio sobre o que seria um “remédio amargo”, dado que o Banco Central, cuja solitária missão é justamente assegurar a estabilidade do poder de compra da moeda por meio do regime de metas de inflação, discorda veementemente dele. Na ata da última reunião que elevou os juros a 10,75%, o Comitê de Política Monetária (Copom) destacou que “mesmo políticas fiscais que tenham efeitos baixistas sobre a inflação no curto prazo podem causar deterioração nos prêmios de risco, aumento das expectativas de inflação e, consequentemente, um efeito altista na inflação prospectiva”. Foi um alerta sobre as discussões a respeito da desoneração de combustíveis, assunto que é uma obsessão de Bolsonaro e que Guedes passou a considerar um “mal menor”.

O preço da reeleição tem sido alto para a economia. A pretexto de abrir espaço para aumentar o valor do benefício do Auxílio Brasil, o governo destruiu o teto de gastos, permitiu o calote nas dívidas da União já reconhecidas pela Justiça e garantiu o pagamento de emendas bilionárias por meio do orçamento secreto. O Executivo, agora, dobra a aposta com a isenção tributária para o diesel e o reajuste para servidores, mas nem atendendo a interesses eleitoreiros e aniquilando sua biografia – palavras, frise-se, do próprio Guedes ao Estadão – o ministro pôde contar com alguma gratidão da família. “Eu não sei se ele seguiria no cargo em um segundo governo. Depende da disposição dele, que é cansativo. Você vê que o presidente Bolsonaro envelheceu muito, o Paulo Guedes também. É muito desgastante”, avaliou o senador.

Para bom entendedor, meia palavra basta, mas o presidente Jair Bolsonaro reiterou a concepção real que tem sobre o correto uso de recursos públicos – e, também, sobre o ministro: “Logicamente todo mundo briga com o Paulo Guedes, todo mundo quer dinheiro, é natural. Qual o político que não quer dinheiro? Se o deputado aqui não quiser dinheiro tá errado”, disse Bolsonaro, sem nem mesmo disfarçar que não está nem aí para a solidez fiscal e dos investimentos para promover o crescimento, reduzir o desemprego, diminuir a pobreza e acabar com a fome. Na mesma cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente admitiu, sem rodeios, que entende tanto de economia quanto Guedes entende de política. “Então nós somos um casal perfeito. Eu não entro na área dele e ele não dá peruada na minha área.”

Bem se vê por que a economia está no atoleiro em que se encontra. Afinal, para o presidente, seria estranho se os políticos não quisessem dinheiro – como se a missão pública dos representantes do povo fosse de fato apropriar-se de verbas para seus redutos eleitorais, e não articular projetos que atendam aos interesses nacionais.

Que Bolsonaro dinamitou as fronteiras entre o público e o privado e explorou instituições de Estado para atender aos interesses de sua holding familiar de políticos profissionais não é segredo para ninguém. Mas não deixa de ser estarrecedora a naturalidade com que a família Bolsonaro demonstra publicamente e sem rodeios que seus objetivos eleitorais valem mais do que o futuro do País.

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Category: Opinião

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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