Na Rússia e Hungria, prevaleceram os interesses políticos de Jair Bolsonaro, não do Brasil

By | 18/02/2022 6:59 am

Não faz sentido Bolsonaro dizer que é ‘solidário’ a Putin, que chamou de ‘amigo’ e ‘pessoa que busca a paz’, quando o russo se une à China e confronta o Ocidente, em particular os EUA, ao ameaçar invadir a Ucrânia

(Eliane Cantanhêde, colunista dO Estadão, 18 de fevereiro de 2022)

Imagem Eliane CantanhêdeO presidente Jair Bolsonaro apresentou “solidariedade” ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, e chamou de “irmão” o primeiro-ministro da Hungria, Viktor Orbán. São manifestações sem conexão com a diplomacia e os interesses do Brasil e só satisfazem a vontade dele de brincar de líder da extrema direita internacional.

Não faz sentido Bolsonaro dizer que é “solidário” a Putin, que chamou de “amigo” e “pessoa que busca a paz”, quando o russo se une à China e confronta o Ocidente, em particular os EUA, ao ameaçar invadir a Ucrânia. Soa como se o Brasil se posicionasse a favor de Moscou, contra Washington.

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Presidente Jair Bolsonaro apresentou ‘solidariedade’ ao presidente da Rússia, Vladimir Putin. Foto: Oficial Kremlin/PR

Também é de um voluntarismo quase infantil Bolsonaro se identificar com Orbán e citar um lema integralista, “Deus, pátria e família”, ao qual acrescentou “liberdade”. Que Deus, que pátria, que família e que liberdade?

Até adversários apoiaram a ida à Rússia, lembrando que os dois países têm interesses comuns, assento nos Brics e todos os ex-presidentes, desde Fernando Henrique, foram a Moscou. E o Brasil não poderia ceder à pressão americana para cancelar a viagem.

A mala, porém, volta vazia. Na Rússia, agricultura, fertilizantes e comércio, que seriam centrais, ficaram em segundo plano. Na Hungria, “anunciaram” a venda de dois aviões da Embraer, firmada em 2020. Logo, o foco não é nos resultados, mas nos motivos da ida.

A comitiva enxugou por exigência da Rússia, mas teve os generais Braga Netto (Defesa), Augusto Heleno (GSI), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo) e Laerte Souza Santos (Estado-Maior Conjunto), os comandantes do Exército, Marinha e Aeronáutica e o almirante Flávio Rocha (SAE).

Para quê? Os russos são tradicionais fornecedores de equipamentos militares para a América Latina, mas nossas Forças Armadas já executam um ambicioso plano de renovação de equipamentos, definidos, aliás, na era PT. Não é hora de ir às compras. Sobram acordos de cooperação em defesa. Logo com a Rússia…

Também foi Carlos Bolsonaro, o 02, craque num outro tipo de guerra: da internet. A Rússia é especialista em guerra cibernética e integrou o exército de fake news de Donald Trump contra Hillary Clinton. Trump, Putin, Orbán, Bolsonaro… Mistura azeda que está no forno para produzir a nova extrema direita internacional.

De um embaixador: “O objetivo real da viagem foi a cooperação cibernética da Rússia para a campanha digital do presidente. O resto qualquer ministro resolveria”. Quem foi a Moscou não foi o presidente do Brasil, foi Jair Bolsonaro. Que voltou a manipular as Forças Armadas a seu bel-prazer.

*COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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