Novo presidente da Fiesp rejeita envolvimento partidárioe defende ações para reconstrução de uma indústria dinâmica
Bolsonaro será lembrado nos livros de história, disse o empresário, por seus ataques ao Congresso, ao Judiciário e à imprensa. Não eliminou, porém, a hipótese de uma reeleição, e disse torcer, nesse caso, por um novo comportamento. Seja quem for o eleito neste ano, “o Brasil não vai acabar”, comentou o novo dirigente da Fiesp.
Filho do falecido vice-presidente José Alencar, companheiro de governo de Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou uma distinção essencial entre ele e seu pai quanto ao relacionamento com o poder. “Eu ia a Brasília como empresário”, disse Josué Gomes da Silva em resposta a um jornalista.
Como empresário e líder de uma entidade empresarial, um de seus objetivos, explicou o presidente da Fiesp, é reverter a trajetória da indústria nas últimas décadas, quando o setor perdeu dinamismo e participação na economia nacional. É preciso, acrescentou, debater a reindustrialização do País.
Ao defender a reindustrialização, Gomes da Silva identifica um retrocesso histórico, a perda de avanços econômicos acumulados em muitas décadas de esforço do governo e do setor privado. Essa percepção é obviamente distante das preocupações declaradas até hoje pelo atual presidente da República e por seus auxiliares econômicos.
Gomes da Silva envolve o governo, corretamente, ao defender um esforço de reconstrução da indústria, especialmente do ramo de transformação. Mas praticamente se limita a defender um corte de impostos por meio de uma reforma tributária. É um erro, segundo ele, confundir diminuição de tributos com perda de arrecadação. Essa observação pode ser verdadeira, mas convém discutir o assunto com cautela e a partir de uma perspectiva ampla.
A tributação brasileira é claramente disfuncional. Onera a produção de forma desproporcional, dificulta o investimento, reduz a competitividade e é regressiva, isto é, socialmente injusta. Mas é preciso discutir a reforma do sistema de forma ampla, evitando a mera adição de remendos. As propostas do Executivo federal são obviamente pobres e denotam uma espantosa limitação de ideias sobre o funcionamento da economia real e as necessidades do setor produtivo.
Mas é preciso ir além das questões tributárias. A estagnação da indústria está associada também a outros fatores, como a pobreza das políticas de tecnologia, formação de mão de obra, financiamento, infraestrutura, simplificação de procedimentos burocráticos, fortalecimento da segurança jurídica e competitividade. Também é preciso repensar o alcance e os propósitos da proteção comercial, além de impor um novo dinamismo às ações de integração nas cadeias globais de produção e de comércio e de investimento.
Qualquer política séria de reindustrialização – e de revigoramento da economia – deverá envolver o exame de todas essas questões, negligenciadas ou tratadas erradamente há décadas. Nada se fará com mágicas e nenhum grande problema se resolverá em prazo muito curto, especialmente se o Brasil continuar sujeito à incerteza fiscal e a pressões inflacionárias mais fortes que as observadas em outros países. Com seu discurso realista, o novo presidente da Fiesp dá sinais de estar preparado para inserir seus objetivos setoriais nesse quadro complexo. Pode-se discutir a reindustrialização como parte de uma ampla reabilitação da economia nacional. Será o debate mais frutífero, mas isso dependerá também da qualidade do governo instalado em 2023.