Leite indica a empresários que será candidato à Presidência da República
Governador do Rio Grande do Sul fala em ‘disposição’ para apresentar projeto alternativo ao País; derrotado nas prévias tucanas, gaúcho tem convite para se filiar ao PSD
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), admitiu ontem a possibilidade de ser candidato à Presidência e antecipou um movimento que pode aprofundar o racha nas fileiras tucanas. Com convite para deixar o PSDB e se filiar ao PSD do ex-ministro Gilberto Kassab, Leite afirmou a empresários que tem “disposição” de apresentar um projeto alternativo e chegou a recorrer a uma imagem popular ao dizer que um “cavalo encilhado não passa duas vezes”. A ideia do governador é anunciar a mudança de partido em março.
A saída do PSDB vem sendo avaliada por Leite desde o fim de novembro, quando ele perdeu as prévias para o governador de São Paulo, João Doria, escolhido como pré-candidato da sigla à sucessão do presidente Jair olsonaro (PL). De uns tempos para cá, no entanto, as negociações nesse sentido avançaram, tanto que seus apoiadores já começaram a manter conversas sobre a confecção de um programa de governo com economistas como Persio Arida e Arminio Fraga.
Em reunião na Câmara de Indústria, Comércio e Serviços de Caxias do Sul (CIC), na manhã de ontem, o governador gaúcho falou em “passar o bastão” no Estado e indicou que deve renunciar ao mandato em março. Na prática, ele descartou a disputa pela reeleição, embora há uma semana tenha admitido essa hipótese.
O tom do discurso foi de despedida. “De fato, estou sendo provocado novamente sobre o cenário nacional. Olha, passar um cavalo encilhado já não é fácil; passar dois, não dá para a gente desprezar”, disse Leite, numa referência aos convites que têm recebido para concorrer à Presidência.
Foi nesse momento que ele vestiu o figurino da chamada terceira via, mostrando-se disposto a romper a polarização entre Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), hoje líder nas pesquisas de intenção de voto. “Me causa especial preocupação que, no cenário nacional, se insista numa fórmula de enfrentamento em todas as candidaturas que estão postas. Existem dois campos políticos bem marcados que polarizam fortemente esta disputa eleitoral”, afirmou o governador para a plateia de empresários. “Se for, de fato, algo consistente, e que a gente tenha apoio para isso, eu tenho coragem, vontade e disposição de poder apresentar algum caminho alternativo.”
Braço direito de Leite, o secretário de Apoio à Gestão Administrativa e Política do governo gaúcho, Agostinho Meirelles, vai se filiar ao PSD na próxima quarta-feira. Alguns apoiadores do governador, porém, desconfiam das intenções de Kassab, sob a alegação de que ele pode apoiar Lula.
Aos empresários, Leite fez um balanço de sua gestão e defendeu o equilíbrio fiscal. “Como é, possivelmente, uma das minhas últimas falas aqui como governador, não sei se até o final do ano ou se até logo mais, em março, (…), eu quero fazer uma prestação de contas”, disse o tucano, dirigindo-se ao vice-governador Ranolfo Vieira Júnior (PSDB). “Fiquem sempre atentos às medidas populistas, demagógicas que governos tentem fazer no Rio Grande do Sul”, destacou.
O movimento de Leite contraria a cúpula do PSDB, que está negociando uma candidatura única com o MDB e o União Brasil. A senadora Simone Tebet (MS), pré-candidata do MDB, é vista por parte do grupo como possível nome para vice. Kassab, por sua vez, também avalia que a senadora pode compor a chapa com Leite. O ex-ministro conversou com o governador sobre o assunto na última segunda-feira.
Pacheco
Em outubro passado, Kassab anunciou que o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (MG), deveria ser o candidato do PSD ao Planalto. De lá para cá, no entanto, nada andou. Pacheco avisou a aliados que desistirá de entrar no páreo. A partir daí, Kassab procurou Leite. “Ele tem condições, pré-requisitos para ser candidato, é jovem, respeitado e já mostrou que tem vontade de ser presidente da República”, afirmou Kassab, no último dia 9.
A ala do PSDB que apoia o governador gaúcho, porém, acha que o partido deve trocar de candidato. Para tanto, precisaria reunir apoio para barrar o nome de Doria na convenção tucana, em julho, sob o argumento de que ele não cresce nas pesquisas. Rival de Doria, o deputado Aécio Neves (MG) tenta convencer o gaúcho a permanecer no PSDB e ajudar a fortalecer a oposição ao governador de São Paulo.
Para lembrar:
Gaúcho perdeu disputa interna para Doria
Prévias: Em setembro do ano passado, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, lançou, em Brasília, sua campanha para as prévias presidenciais do PSDB pregando a construção de um modelo de pacificação política do País.
‘Frente’ anti-Doria: Em outubro, Leite recebeu apoio do senador Tasso Jereissati (CE), que desistiu das prévias, e tentou montar uma “frente” contra seu principal adversário interno, o governador de São Paulo, João Doria.
Derrota: Leite foi derrotado nas prévias por Doria em novembro. O governador de São Paulo obteve 53,99% dos votos, ante 44,66% do governador gaúcho. Após a derrota, Leite disse que permaneceria no PSDB.
Convite: No início deste mês, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, afirmou que Leite poderia ser candidato ao Planalto pelo partido, caso o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, decidisse não concorrer.
Disputa: Ontem, Leite indicou que considera ser candidato à Presidência. Convidado para se filiar ao PSD, ele disse a empresários que tem “disposição” de apresentar um projeto alternativo para o País.