Líderes de partidos do chamado centrão querem divisão de filiações por bancadas robustas no Congresso
A articulação de Jair Bolsonaro (PL) e de Valdemar Costa Neto, que comanda a legenda do presidente, para gerar uma filiação em massa ao partido ampliou uma crise com o Republicanos e ameaça apoio à campanha de reeleição.
Segundo interlocutores, Bolsonaro está obcecado com a ideia de lançar candidatos com o mesmo número de urna que ele, 22 do PL, que também coincide com o ano em que busca sua recondução. Ele quer gerar uma “onda 22”.
No entanto o movimento desagrada aliados, em especial o Republicanos. Hoje só mais duas legendas, além desta, estão com o chefe do Executivo: PL e PP, essa última do ministro Ciro Nogueira e do deputado Artur Lira, presidente da Câmara.
O presidente do Republicanos, Marcos Pereira, passou a cobrar de forma mais enfática uma melhor distribuição de filiados entre os partidos da base, em especial os chamados “puxadores de voto” do bolsonarismo.
Mais ainda, a aliados o dirigente também se queixa do que seria uma investida de Bolsonaro para levar deputados do seu partido para o PL durante a janela partidária.
O presidente havia dito que ajudaria as demais siglas que o sustentam a crescer. “Pode ter certeza que nenhum partido será esquecido por nós. Não temos aqui a virtude de sermos o único certo, queremos, sim, compor nos estados”, afirmou Bolsonaro em dezembro, quando se filiou ao PL.
Na prática, porém, líderes partidários dizem que os principais nomes do bolsonarismo estão indo para o PL.
Com alto desempenho eleitoral, esses congressistas costumam ser visados por partidos, uma vez que conseguem ajudar outros devido ao quociente eleitoral.
E a prioridade das legendas, em especial as do centrão, é sempre ampliar a bancada, principalmente da Câmara, o que garante maior fatia do fundo partidário nos quatro anos seguintes.
Segundo relatos, o presidente do PL também tem buscado, de forma enfática, filiar os campeões de apoio nas urnas. Há quatro anos, Hélio Lopes (PSL) foi campeão de votos no Rio de Janeiro. A expectativa é que se filie ao PL.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) é um dos principais cortejados pelos três partidos do centrão. Em 2018, Eduardo foi o deputado federal mais votado do país, sendo escolhido por mais de 1,8 milhão de eleitores em São Paulo.
O PP negociou a filiação do filho de Bolsonaro. Ele deve, contudo, acabar migrando para o partido do pai.
De acordo com quem acompanhou as conversas, Valdemar insistiu que o clã todo acompanhasse o pai no seu partido. O dirigente espera eleger ao menos 60 deputados neste ano, na onda do bolsonarismo.
Outro nome em disputa é o de Carla Zambelli (PSL-SP). Ainda que a deputada não tenha sido tão bem votada na última disputa (foram 76 mil votos), a expectativa de aliados é que neste ano ela tenha um desempenho muito superior.
Dos deputados aliados do presidente, Zambelli ainda é uma das mais próximas. Em 2018, ela disputou voto com Joice Hasselmann, hoje no PSDB. A deputada foi a segunda mais votada, com mais de 1 milhão de votos.
O desgaste do rompimento com o bolsonarismo, contudo, tende a baixar o patamar de Joice. Muitos dos seus votos podem acabar indo para a ex-colega de partido.
“Essa decisão [de filiação] está na mão do presidente. Teve pedido de alguns partidos, e o que ele julgar que seja melhor, a gente vai fazer. Sou soldada mesmo. Até o final do mês devo decidir”, disse à Folha Zambelli.
Ela tem tido conversas mais próximas com o PL e o PP, segundo relatos.
Outros bolsonaristas famosos devem acabar no PL. Uma delas é a ex-secretária de Gestão do Trabalho e da Educação do Ministério da Saúde, Mayra Pinheiro, conhecida como “Capitã Cloroquina”. Ela se filiou ao partido de Valdemar e deve disputar uma vaga na Câmara.
Interlocutores do presidente sabem da importância de equilibrar os aliados entre as três legendas para garantir que estejam todas satisfeitas e unidas durante a campanha.
Bolsonaro está atrás do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nas pesquisas e não pode arriscar perder apoios pelo caminho. Portanto, no entorno do chefe do Executivo, a distribuição dos campeões de voto entre Republicanos e PP é uma grande preocupação.
No caso da distribuição do espólio do bolsonarismo nas siglas do centrão, há também um fator que pode contribuir que nem todos migrem para o PL: componente regional.
O Republicanos vai filiar o vice-presidente Hamilton Mourão, hoje no PRTB, e lançá-lo a senador pelo Rio Grande do Sul. Ainda que a expectativa do desempenho eleitoral do general seja alta, sua entrada no partido não é suficiente para apaziguar os ânimos da legenda aliada do Planalto.
Segundo interlocutores, sua filiação estava sendo negociada muito antes de qualquer demanda por mais puxadores de voto.
Ainda que uma ala desses partidos aliados de Bolsonaro se queixe de que o PL esteja levando todos os potenciais puxadores de voto, dirigentes do PP dizem acreditar que não necessariamente ficar sem esses deputados é negativo.
A avaliação é que a entrada desses deputados, em especial os que racharam o PSL, pode trazer instabilidade para o partido. Sem eles, os movimentos da legenda ficam mais coesos e as orientações partidárias são mais seguidas.
No Congresso, a coesão de uma bancada partidária é um dos principais atributos de partidos, em especial do centrão. Ela simboliza quantos votos uma legenda pode garantir em uma determinada votação, após negociar com o Legislativo e o Executivo.
Em diferentes momentos, votações importantes racharam o PSL —uma parte dos congressistas não seguia a orientação determinada pelo partido.
Esse será, na avaliação de dirigentes do centrão, um dos principais desafios de Valdemar. Hoje o PL é unido em torno do seu presidente e cumpre todos os acordos firmados por ele.
Com a nova leva de congressistas, com DNA bem diferente do partido, se não for habilidoso, o dirigente pode perder o controle das decisões da sigla. A expectativa é que ao menos 20 deputados migrem para o partido já na janela partidária.