Arma sem paradeiro

By | 01/03/2022 4:37 pm

Política de Bolsonaro combina estímulo à aquisição com negligência no controle

editoriais@grupofolha.com.br, em 28.fev.2022

 

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O presidente Jair Bolsonaro defende o porte de armas em post no Instagram – Reprodução – 3.mar.21/Instagram
Em três anos de governo, Jair Bolsonaro (PL) expandiu a circulação de armas no país, com decretos de flexibilização que enfraqueceram o Estatuto do Desarmamento.

Dados do Anuário de Segurança Pública apontam que em dezembro de 2020 havia 2,1 milhões de armamentos legais nas mãos de particulares, ou quase 1 para cada 100 brasileiros —aí incluídos caçadores, atiradores e colecionadores, além de artigos em nome de empresas e para uso pessoal de policiais, bombeiros e militares.

Apenas no sistema da Polícia Federal, o número de registros dobrou em relação ao verificado em 2017, atingindo 1,2 milhão.

Produtos legais tornam-se com facilidade ilegais nas mãos de criminosos, multiplicando a capacidade de impulsionar a violência.

Em termos de controle, o governo Bolsonaro tem feito o oposto do que especialistas recomendam: afrouxa-se no país o rastreamento de armas e munições.

Documentos obtidos pela Folha evidenciam que o Exército e o Ministério da Justiça mantêm sem avanço a integração entre os sistemas dos dois órgãos.

Em abril de 2020, Bolsonaro revogou três portarias do Comando Logístico do Exército que estabeleceriam regras para monitoramento e identificação de armamentos. Desde então, papéis entregues ao Tribunal de Contas da União revelam que não houve até janeiro deste ano nenhum novo andamento.

O sistema do Exército (Sisnar), se operante, poderia compartilhar dados relativos ao registro de caçadores, atiradores, colecionadores, militares e policiais com o sistema ligado ao Ministério da Justiça (Sinesp), acessado por policiais.

A Força tampouco deu seguimento à integração entre os dados do cadastro atualizado de armas registradas, o Sigma, e o Sinesp.

O que se vê, na prática, é uma política de permissividade armamentista, na qual o estímulo à aquisição privada —por meio de decretos de legalidade mais que duvidosa— se reforça com a negligência da fiscalização pública.

Tal estratégia não se baseia em metas e resultados de segurança pública, apenas em ideologia.

 

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Category: Nacionais

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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