Bolsonaro fala uma coisa, o Itamaraty faz outra. Neutralidade ou equilíbrio?

By | 01/03/2022 8:52 am

O presidente anunciou ‘solidariedade’ à Rússia e ‘neutralidade’, mas o Brasil votou contra o país na ONU

Imagem Eliane CantanhêdeO mundo acompanha, estupefato, a dicotomia insana do Brasil diante da invasão russa na Ucrânia, que terá drásticas consequências por toda a parte. O presidente Jair Bolsonaro diz uma coisa, o Itamaraty faz outra. Ele anuncia “solidariedade” à Rússia e “neutralidade”, mas o Brasil votou contra a Rússia na ONU e o chanceler Carlos França corrigiu ontem na GloboNews: a posição do Brasil “é de equilíbrio, não de neutralidade”.

Uma vez negacionista, sempre negacionista, e o Brasil tem o azar, ou a imprudência, de ter um presidente que deu de ombros para a pandemia, as vacinas, as enchentes na Bahia, a Amazônia em chamas, a Educação e a Cultura e agora trata de forma rasa, com uma ligeireza espantosa, uma guerra que atinge todo o mundo e terá altos custos para os brasileiros.

Bolsonaro fala uma coisa, o Itamaraty faz outra. Neutralidade ou equilíbrio?
Eliane Cantanhêde: ‘O problema? Quem define a política externa é o presidente’.  Foto: Gabriela Biló/Estadão

Assim como o ex-chanceler Celso Amorim, do PT, classifica a reação do Brasil à guerra como “esquizofrênica”, o ex-embaixador em Washington Rubens Barbosa, da era tucana, define como “dicotomia”. Apesar das sabidas divergências entre eles, ambos estranham as manifestações de Bolsonaro, mas concordam com as notas oficiais e votos do Itamaraty na ONU.

Bolsonaro não diz coisa com coisa, mas o Itamaraty pediu em nota o fim das “hostilidades” e a missão brasileira na ONU votou a favor da resolução do Conselho de Segurança que condenava a ação russa – derrubada pelo veto da própria Rússia. Neste domingo, 28, a missão ratificou na assembleia emergencial o respeito ao direito internacional, à integridade territorial e à soberania da Ucrânia, com cessar-fogo imediato.

Por outro lado, o Brasil discorda do envio de armas pelos europeus e americanos à Ucrânia e das sanções econômicas e diplomáticas que atingem a Rússia em várias frentes. Isso não é neutralidade, é, repetindo o chanceler França, uma “posição de equilíbrio”.

Enquanto o antecessor Ernesto Araújo era mais realista do que o próprio rei, radicalizando e amplificando os erros de Bolsonaro, França tenta amenizar, convencer, dar alguma racionalidade à “esquizofrenia” ou “dicotomia”. E tem aliados no Planalto, como o almirante da ativa Flávio Rocha, da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), que se encarrega de “tourear” o chefe contra as maluquices.

Assim, o presidente da Ucrânia agradece ao Brasil pelo voto na ONU, mas o representante do País aqui, Anatoliy Tkach, diz que Bolsonaro “está mal informado”. O problema? Quem define a política externa é o presidente. Que, assim como foi grosseiro com a primeira-dama da França, a ex-presidente do Chile e o atual presidente da Argentina, chama Zelenski de “comediante”, por sua profissão. Oremos!

*COMENTARISTA DA RÁDIO ELDORADO, DA RÁDIO JORNAL (PE) E DO TELEJORNAL GLOBONEWS EM PAUTA

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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