Receita gasta com redução do IPI

By | 01/03/2022 5:20 pm

Cortes de impostos sem equilíbrio fiscal raramente se sustentam por muito tempo

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes – Adriano Machado/Reuters

Não há dúvida de que a carga tributária brasileira é elevada para um país de renda média, além de incidir em excesso sobre a produção e o consumo. Entretanto soluções aparentemente simples para o problema —como a redução geral do IPI recém-promovida pelo governo Jair Bolsonaro (PL)— podem ser, mais que ilusórias, temerárias.

O corte de 25% nas alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados, que só deixou de fora os que contêm tabaco, foi apresentado com a costumeira megalomania pelo ministro Paulo Guedes, da Economia, como o “início da reindustrialização” nacional.

Pode-se prever que a medida se tornará bandeira na campanha do presidente pela reeleição; agradará a uma parcela considerável do empresariado e será propagandeada como suposta evidência do avanço de uma agenda liberalizante.

A nova desoneração decerto se ampara no salto da arrecadação tributária observado a partir de 2021, que proporcionou o primeiro superávit primário (sem considerar os gastos com juros) do setor público em oito anos.

A maior parte dos especialistas, contudo, avalia que a melhora da receita se deveu principalmente aos impactos da expansão da economia e da escalada da inflação, que deverão refluir. Para este 2022 de eleições e aumento de gastos, projeta-se retorno ao déficit.

É nesse contexto que o corte do IPI produzirá uma renúncia fiscal estimada em quase R$ 20 bilhões, repartida entre União, estados e municípios —ao fim e ao cabo, com aumento da dívida pública.

Como de hábito, os defensores da medida argumentam que ela produzirá um estímulo à atividade econômica capaz de compensar seus custos. Trata-se de uma tese antiga e tentadora.

Falta considerar, todavia, que o desequilíbrio orçamentário do governo pressiona a inflação, eleva os juros e mina a confiança dos empresários. Tudo isso está em curso, e as projeções para o crescimento do PIB continuam sombrias, mesmo com a indicação de mais estímulos, como a liberação de recursos do Fundo de Garantia.

É estreita a margem para redução imediata de uma carga tributária que consome cerca de um terço da renda nacional. Cumpre, sim, tornar a cobrança de impostos mais simples e justa, com menor incidência sobre o consumo; essa é tarefa para uma reforma ampla, que infelizmente o atual governo não tem capacidade de liderar.

 

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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