Reajuste da gasolina agrava mal-estar econômico e suscita oportunismo político
O reajuste dos combustíveis causa indignação geral. É compreensível. A inflação está em alta agressiva desde o início de 2021 e em mais de 10% ao ano. O poder de compra do salário médio ainda é inferior ao registrado em fins de 2019. No ano passado, a renda per capita era similar à do distante 2010.
Programas de governo, leis e discussões deveriam ser condizentes com a gravidade da situação. É o que caberia exigir em particular da cúpula política, governante ou não. Entretanto o problema tem sido tratado com demagogia desinformada da esquerda à direita.
A começar por Jair Bolsonaro (PL), incapaz de se comportar como chefe de Estado. Segundo o presidente, a Petrobras, maior estatal do país, “não tem qualquer sensibilidade com a população”. Seu principal adversário na campanha à reeleição, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), não ficou atrás, prometendo “abrasileirar o preço da gasolina”.
Há nas reações oportunismo político e, possivelmente, um tanto de convicções equivocadas que contribuíram para a deterioração econômica dos últimos anos.
Tal controle teria custos, imediatos ou em prazo mais longo. O lucro da Petrobras diminuiria, reduzindo a receita também do governo, que recebe um terço dos dividendos da companhia.
Tabelamentos inibem investimentos em aumento da capacidade produtiva, em eficiência ou em produtos alternativos, tanto os da Petrobras como de investidores privados, não apenas em energia.
Um eventual subsídio beneficiaria qualquer consumidor direto ou indireto de combustíveis. O governo faria mais dívida, pagando mais juros. É preciso debater, em caso de intervenção estatal, que alternativas serão socialmente mais efetivas, o que os críticos dos preços não parecem considerar.
No Brasil, o choque internacional de preços foi amplificado pela aguda desvalorização do real na epidemia. Endividamento público, desgoverno e prostração econômica contribuíram para tal quadro, e a guerra elevou a inflação.
Entretanto não será possível superar a crise com medidas que agravarão o problema maior da falta de crescimento. Há paliativos que podem atenuar a agrura dos mais pobres, mas mágicas com preços apenas vão piorar a situação.