A recuperação insegura ainda reflete os efeitos econômicos do atraso das vacinas e da política deficiente de imunização

By | 22/03/2022 5:18 am

O custo do atraso das vacinas

Com crescimento de 4,9% nos 12 meses até janeiro, a economia brasileira continua em lenta recuperação, marcada por avanços, tropeços e menor dinamismo que na fase anterior à covid-19. Passada a pior fase da pandemia, a cura permanece incompleta. A instabilidade ficou clara, mais uma vez, na virada do ano.

No trimestre móvel terminado em janeiro, a atividade foi 1% superior à do período de agosto a outubro. Mas o fôlego foi curto e em janeiro houve queda mensal de 1,4%. No primeiro mês de 2022, a agropecuária produziu 1,2% menos que em dezembro, a produção da indústria geral cresceu apenas 0,1% e a do setor de serviços encolheu 1,4%. O consumo das famílias, importante motor dos negócios, foi 1,3% menor que no mês anterior, já descontados os fatores sazonais. Os números são do Monitor do PIB-FGV, a mais detalhada prévia mensal do Produto Interno Bruto (PIB). As contas oficiais são publicadas trimestralmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Resultados já medíocres no período pré-pandemia tornaram-se piores depois do surto de covid-19, segundo o responsável pelo Monitor, economista Claudio Considera. O recuo do consumo familiar de bens e serviços mostra com clareza, de acordo com o pesquisador, os efeitos do atraso da compra de vacinas e, depois, da falta de um programa de vacinação.

Entre janeiro de 2019 e fevereiro de 2020 o consumo das famílias cresceu 2,3% trimestralmente. Entre março de 2020 e janeiro de 2022, houve em média queda trimestral de 1%. As compras de bens duráveis aumentaram trimestralmente 5,1% no primeiro período e caíram 0,1% no segundo. Os gastos com serviços, especialmente afetados pelo distanciamento social, avançaram 2,6% na primeira fase e apenas 0,8% na outra, também segundo o critério da média trimestral. O distanciamento poderia ter sido mais breve, com uma vacinação mais pronta e mais ampla.

O ritmo da atividade mudou sensivelmente entre os dois períodos, passando de um crescimento trimestral de 1,1%, em média, para um aumento de apenas 0,4%. Em 2017, primeiro ano depois da recessão de 2015-2016, o PIB cresceu 1,3%. A expansão chegou a 2% em 2018 e recuou para 1,1% em 2019, início do mandato do presidente Jair Bolsonaro. Com a pandemia, o PIB diminuiu 3,9% em 2020.

A reação de 4,6% em 2021 mais que compensou a perda do ano anterior, mas a economia ficou apenas 0,5% acima do nível de 2019. A maior parte dos dados indica o retorno a uma normalidade medíocre ou menos que medíocre. Especialmente preocupante, nesse quadro, é o enfraquecimento da indústria de transformação, situada, no fim do ano passado, bem abaixo dos patamares de 2017 e 2018.

Diante da evidente desindustrialização do País, o ministro da Economia, Paulo Guedes, contentou-se, até agora, com o anúncio de reduções do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), como se esse tributo fosse a causa única, ou talvez principal, da estagnação da indústria e de seu baixo poder de competição. Iniciativas como essa, muito limitadas, mostram a distância entre as decisões da equipe econômica e os problemas da economia real, isto é, do sistema produtivo tal como as pessoas informadas o percebem no dia a dia.

Tributos são problemas importantes, de fato, mas principalmente por serem incompatíveis com objetivos de eficiência e competitividade. Não há como cuidar adequadamente dessas questões sem pensar na funcionalidade dos impostos, nas condições de financiamento, nos custos da modernização e nos vínculos internacionais. Política industrial envolve estratégia comercial, programas de infraestrutura e planos educacionais. Envolve, enfim, preocupações e formas de trabalho muito distantes daquelas observadas no País nos últimos três anos.

O PIB deve crescer 0,5% neste ano e 1,3% no próximo, segundo projeção do mercado. São números compatíveis com os padrões observados principalmente a partir de 2019, quando a lenta recuperação iniciada em 2017 foi interrompida por um presidente ignorante das necessidades e das potencialidades do País.

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About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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