O Congresso aprovou a inclusão da Dra. Nise no Livro de Heróis e Heroínas da Pátria, mas Bolsonaro vetou, alegando que não é possível avaliar “a envergadura” do trabalho dela, e bolsonaristas da Câmara já articulam trocar a Dra. Nise por Olavo de Carvalho, o canastrão rejeitado pela própria filha que xingava até nossos generais aos palavrões. Isso, sim, é uma loucura!
A Dra. Nise, um marco no tratamento psiquiátrico, substituiu crueldade por humanidade, eliminou eletrochoque, lobotomia e confinamento e, em troca, pôs pintura, música e convívio com animais. Reconhecida mundo afora, mereceu dois filmes, O Coração da Loucura, de Roberto Berliner, e Olhar de Nise, de Jorge Oliveira, que comentou o veto: “É lamentável o Brasil conviver com tal ignorância”.
E o governo que põe no Ministério da Educação Vélez Rodríguez, Abraham Weintraub, Milton Ribeiro e um que fraudava currículo ataca Paulo Freire, autor de Pedagogia do Oprimido, defensor de justiça, inclusão e generosidade pela educação, ensinando os cidadãos a pensar; a aprender a aprender.
Enquanto no Brasil bolsonaristas ameaçam destruir o monumento de Paulo Freire no MEC, o maior educador brasileiro merece estátuas numa praça em Estocolmo, na Suécia, e na Universidade de Cambridge, na Inglaterra, por sua “tolerância e diálogo”. Como é o mundo…
Já o físico Ricardo Galvão foi demitido do Inpe por dados sobre o desmatamento da Amazônia depois sobejamente comprovados. Membro da Academia Brasileira de Ciências, o primeiro dos dez cientistas mais importantes da revista Nature em 2019 e premiado pela Associação Americana para o Avanço da Ciência, ele não serve para Bolsonaro.
Na música, Bolsonaro se recusou a assinar o Prêmio Camões (Brasil-Portugal) que Chico Buarque ganhou. No teatro, Roberto Alvim, que veio a ser secretário de Cultura, chamou a nossa Fernanda Montenegro de “sórdida” e “mentirosa”, anunciando “profundo desprezo” pela classe artística.
É nesse ambiente, com ódio, civis armados e policiais fora de controle, que geramos o George Floyd brasileiro: um homem com distúrbios mentais trancado no porta-malas de um camburão e assassinado com gás pela polícia. O que diria a Dra. Nise da Silveira?
Nossa opinião
Para se entender a importância da Dra. Nise da Silveira para a psiquiatria, antes da atuação dela, os doentes mentais eram tratados com choques elétricos e com a retirada de uma parte do cérebro, na chamada lobotomia, tratamento desumano hoje substituído pela utilização de medicamentos, terapias ocupacionais e a convivência na própria família, Seguindo a linha de tratamento, da dra. Nise, os doentes mentais, hoje, não ficam mais trancados em celas como se fossem criminosos, a não ser quando são violentos ou cometeram delitos. Os manicômios e hospitais psiquiátricos, onde os doentes mentais eram abandonados pelas famílias e a sociedade, foram praticamente extintos. Será que Bolsonaro está saudoso deste tempo, para execrar a memória da Dra. Nise Silveira? (LGLM)