PEC passou a ser pacote de benesses, populismo eleitoral descarado (com comentário)

By | 01/07/2022 7:07 am

Classe política se cala para o mais novo golpe às instituições feito por este governo

De nada serve uma regra que regule o comportamento político se os agentes públicos se unem para esfraquecer o sistema de pesoas e contrapesos que eles criaram

(Laura Karpuska, nO Estadão, Professora do Insper, Ph.D. em Economia pela Universidade de Nova York em Stony Brook, em 01 de julho de 2022, seguido de comentário nosso)

Desde que assumiu a Presidência, Jair Bolsonaro trabalha para minar a confiança nas instituições brasileiras. Seu foco nunca foi fazer reformas econômicas de natureza liberal, nem mesmo defender uma pauta conservadora nos costumes. Bolsonaro governa pelo caos, usando-o como estratégia de manutenção do poder e de apropriação do Estado por pequenos grupos de interesse.

Congresso Nacional

‘Projeto bolsonarista de avariar as instituições brasileiras conta, hoje, com o apoio de quase toda a classe política, que se cala convenientemente para o mais novo golpe às instituições praticado por este governo’  Foto: Arquivo/Agência Brasil

 

O foco desta coluna era elencar o risco de Bolsonaro acelerar o derretimento institucional para tentar, a qualquer custo, ganhar as eleições. A pauta do Senado desta semana serviu como exemplo prático disso, mostrando que o governo Bolsonaro não está sozinho nesta empreitada. Enquanto escrevo, o Senado vota uma Proposta de Emenda à Constituição que coloca o País em “estado de emergência” por conta dos aumentos do petróleo. Inicialmente, a proposta previa compensar Estados que decidissem zerar o ICMS dos combustíveis.

A PEC, no entanto, passou a ser um pacote de benesses do governo, um populismo eleitoral descarado. O projeto prevê aumento e expansão do Auxílio Brasil, bolsa-caminhoneiro, vale-gás, subsídio a transporte coletivo e compensação para o setor de etanol. Tudo isso a um custo de quase R$ 40 bilhões este ano. Parte desses gastos pode não vir a ser temporária. Isto é particularmente arriscado porque não houve discussão técnica que embasasse essas decisões orçamentárias. Há, portanto, aumento do risco fiscal de médio e longo prazos.

Apesar do alto custo fiscal, o maior dano é institucional. Os valores seriam liberados a despeito do calendário eleitoral e das regras de contenção de despesas ditadas pela regra de ouro e pelo teto de gastos. É um dano permanente para o sistema de pesos e contrapesos do orçamento público, já tão machucado com despesas do relator e afins.

Há dúvidas sobre a constitucionalidade da PEC. Infelizmente, isso não foi suficiente para fazer com que senadores, mesmo da oposição, fossem contrários à proposta. É com essa conveniência política que vemos nossas instituições cada vez mais enfraquecidas. De nada serve uma regra que regule o comportamento político se os agentes públicos se unem para enfraquecer o sistema de pesos e contrapesos que eles criaram.

O projeto bolsonarista de avariar as instituições brasileiras conta, hoje, com o apoio de quase toda a classe política, que se cala convenientemente para o mais novo golpe às instituições praticado por este governo.

Nossa opinião

  • O projeto é tão eleitoreiro, forjado na agonia dos desesperados que só vale durante as eleições. O povo depois que se lasque! (LGLM)

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Category: Destaques

About Luiz Gonzaga Lima de Morais

Formado em Jornalismo pelo Universidade Católica de Pernambuco, em 1978, e em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, em 1989. Faz radiojornalismo desde março de 1980, com um programa semanal na Rádio Espinharas FM 97.9 MHz (antiga AM 1400 KHz), na cidade de Patos (PB), a REVISTA DA SEMANA. Manteve, de 2015 a 2017, na TV Sol, canal fechado de televisão na cidade de Patos, que faz parte do conteúdo da televisão por assinatura da Sol TV, o SALA DE CONVERSA, um programa de entrevistas e debates. As entrevistas podem ser vistas no site www.revistadasemana.com, menu SALA DE CONVERSA. Bancário aposentado do Banco do Brasil e Auditor Fiscal do Trabalho aposentado.

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