O presidente Jair Bolsonaro está no seu inferno astral, ou com tensão pré-eleitoral, empilhando notícias negativas, uma em cima da outra, o tempo todo. É aquela história: o candidato à reeleição tem vitrine, caneta, verbas, cargos e puxa-sacos, mas também é vidraça. Tem de responder pelo que acontece.
Não bastassem inflação, gasolina, diesel, gás e 33 milhões de famintos, temos o assassinato de Dom Phillips e Bruno Araújo Pereira jogando luzes na implicância de Bolsonaro com indígenas e o ex-ministro Milton Ribeiro preso pela PF. Além de revelar que o presidente pôs os dois pastores vigaristas no MEC e lhe passou informação privilegiada sobre a busca e apreensão.
O governo sabia que Pedro Guimarães tivera problemas num banco privado por assediar as moças e que, já em 2019, ele pulou numa funcionária em plena garagem da CEF. A preocupação do Planalto não foi com o fato, foi saber se havia algum vídeo ou testemunha. Fazer pode, mas sem deixar rastros…
Aliás, a deputada bolsonarista Carla Zambelli – uma mulher – repete o mantra de que “não há provas”, “é só cortina de fumaça”, assumindo a versão do próprio Guimarães na carta de demissão, em que ele se diz alvo de “perversidades”, “situação cruel” e “rancor contra o governo”. Coitadinho.
Como nos casos de Abdelmassih e de João de Deus, a lista de vítimas de Guimarães tende a aumentar depois de a primeira quebrar o silêncio. E Bolsonaro vai mal no eleitorado feminino, quis Michelle Bolsonaro na campanha, é pressionado para pôr a ministra Tereza Cristina como vice e nomeou Daniella Marques na CEF. Nada, porém, apaga o assédio cafajeste de Guimarães a funcionárias da Caixa e a condenação de Bolsonaro por machismo contra a jornalista Patrícia Campos Mello.
Por essas e outras, governistas criam o pacotaço da reeleição: cheque em branco de R$ 40 bilhões para Bolsonaro comprar votos, contrariando a lei eleitoral e explodindo de vez o teto de gastos. Se não resolver, o plano C já está pronto, “just in case”. Ao repórter Felipe Frazão, o 01, senador Flávio Bolsonaro, disse que é “impossível” conter um levante de bolsonaristas se o pai perder: “Como a gente tem controle sobre isso?”, indaga. Mais do que lavar as mãos, soa como autorização.