A reunião de ontem de dezenas de embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada foi mais um espetáculo lamentável e constrangedor protagonizado por um presidente da República que não tem a menor noção do seu papel e das suas responsabilidades, como já tinha demonstrado em inúmeras oportunidades, sobretudo na pandemia de covid. O presidente que combateu até máscaras e vacinas é o que tenta vender ao mundo que o Brasil é uma republiqueta de bananas.
Não é minimamente razoável que o próprio presidente se encarregue de dizer que o Brasil não presta, as instituições são uma farsa, os ministros do Supremo e da Justiça Eleitoral são desqualificados e as eleições são fraudulentas. E se o ex-presidente Lula vencer? E se o próprio Bolsonaro vencer? Como o mundo vai olhar o futuro governo?
Ao saírem do encontro em silêncio, sem aplausos, sem esconder o espanto, os embaixadores trocaram impressões intensamente entre eles e, se era para convencer alguém de alguma coisa, Jair Bolsonaro só conseguiu comprovar o que boa parte deles já achava: que a coisa vai muito mal. Um deles, que nunca acreditou em golpes, passou a acreditar.
A confusão começou já na distribuição dos convites, que prestigiou umas embaixadas e escanteou outras, sem qualquer explicação sobre critérios. Até sexta-feira, a informação da Presidência era de que nem todas seriam incluídas, o que misturou dois sentimentos entre elas: constrangimento, mas também alívio. Só na véspera do evento, em plena noite de domingo – o que não é nada usual – foram disparados mais convites, ainda assim não para todas.
No evento, embaixadores, sobretudo europeus, se sentiram “usados e meros figurantes”, como definiu um deles: o palco do presidente foi montado para o público interno. Não houve uma única novidade, desde os ataques aos ministros Alexandre de Moraes, Edson Fachin e Luís Roberto Barroso até as fake news sobre “fraudes” em 2018. Se a eleição foi fraudada, ele foi o maior beneficiado e não poderia nem estar ali, com a multidão de embaixadores.
As embaixadas estão despachando notas para seus governos para relatar o encontro e o espanto. Agora, é esperar a rebordosa: uma onda de manifestações das grandes democracias para defender o Brasil dos ataques de Jair Bolsonaro, como os EUA já têm feito. A grande ameaça à democracia, à eleição e à imagem do País não é a urna eletrônica, é o presidente da República.