Bolsonaro desonra o Brasil
Novo ataque de Bolsonaro ao sistema eleitoral é gravíssimo. MP, Judiciário, partidos e sociedade precisam mostrar que o Brasil, apesar de Bolsonaro, não é uma republiqueta
Com a reunião de segunda-feira, Jair Bolsonaro ratificou que não tem nenhum limite. Se chegar à conclusão de que avacalhar o País perante toda a comunidade internacional pode render-lhe algum benefício – eleitoral, golpista ou o que quer que seja –, ele o faz sem pestanejar. Não há razão pública, ou consideração sobre a imagem do País, capaz de detê-lo. Não há nem sequer resquício de vergonha pessoal. Se seus devaneios lhe ordenam que convoque embaixadores estrangeiros e lhes comunique que a eleição pela qual se elegeu foi uma fraude – e, por tabela, que a próxima também será –, Jair Bolsonaro cumpre sem pestanejar. Perante tal desfaçatez, é insuficiente afirmar que não há respeito ao cargo. Bolsonaro demonstra que, a despeito de bradar que o Brasil está “acima de tudo”, não tem o menor apreço pelo País.
Na reunião com embaixadores estrangeiros, Jair Bolsonaro traçou uma linha no chão. Não é possível ficar indiferente a tão explícito ato de desprezo pelo País. Não é possível alegar que são apenas maus modos, excessiva espontaneidade ou imponderável recusa a seguir protocolos. Há um presidente da República que ataca e desonra o próprio País. É assim que Jair Bolsonaro protege a soberania nacional? É assim que cria as condições para o desenvolvimento da economia nacional? É assim que defende os interesses nacionais perante a comunidade internacional?
Já na segunda-feira, a Justiça Eleitoral rebateu, uma a uma, todas as falsas alegações apresentadas por Jair Bolsonaro aos embaixadores. Segundo o serviço de notícias americano Bloomberg, os questionamentos do presidente Bolsonaro eram todos “velhas e refutadas teorias da conspiração”. “É muito grave acusação de fraude, de má-fé, a uma instituição mais uma vez sem apresentar prova alguma”, disse o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin.
De fato, na fala de Jair Bolsonaro não houve nada de novo. Nada do que disse aos embaixadores era apto a levantar alguma suspeita sobre o sistema eleitoral brasileiro. No entanto, a absoluta falta de fundamento e credibilidade não retira a gravidade das palavras de Jair Bolsonaro, que merecem cabal reprovação. Afinal, ao difundir mundo afora falsidades sobre as urnas eletrônicas, Jair Bolsonaro questiona a legitimidade de todo o regime democrático brasileiro, bem como de todos os eleitos, inclusive seus filhos.
Além de defender a segurança das urnas e a lisura do processo eleitoral, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), fez importante constatação: “Esses questionamentos (de Bolsonaro) são ruins para o Brasil sob todos os aspectos”. A atitude de Jair Bolsonaro contra as urnas – cada dia fica mais evidente que é uma campanha anti-Brasil – não gera nada de bom.
Inexplicavelmente, tendo em vista o seu cargo e, compreensivelmente, tendo em vista seu histórico público, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), preferiu o silêncio depois da reunião do dia 18. É com essa conivência que Jair Bolsonaro se sente seguro para continuar cometendo impunemente crimes de responsabilidade contra o exercício dos direitos políticos.
Mas, como falou Edson Fachin, “é hora de dar um basta à desinformação e ao populismo autoritário”. Ministério Público (MP), Judiciário, partidos políticos, parlamentares e sociedade civil podem e devem reagir. Ao contrário do que disse Bolsonaro, o Brasil não é uma republiqueta.