Bolsonaro não foi muito criativo. O empenho em atacar a imprensa, por exemplo, é parte de um fenômeno mais amplo do desgaste da mídia profissional em seu papel tradicional como guardiã da veracidade objetiva dos fatos. Daí o destaque alcançado por fake news, e a presença desproporcional no debate público brasileiro de celebridades projetadas por redes sociais.
Bolsonaro também nada exibiu de original na sanha de demonização do adversário político, uma marca sobretudo petista no período pós-ditadura militar. Usou as mesmas ferramentas profissionais e os métodos de seus adversários, embora a belicosidade e a boçalidade bolsonaristas tenham “estilo” próprio. É um populista autoritário de feições convencionais, sem preocupação em manter coerência entre palavras e ações, ou cumprir promessas eleitorais.
Mas trouxe duas relevantes contribuições originais à obra destrutiva. A primeira foi o emporcalhamento da credibilidade das Forças Armadas. Conscientes disso ou não, ao emprestarem ao governo Bolsonaro o prestígio pacientemente reconquistado, os comandantes militares margearam o abismo da aventura política e danificaram a imagem da própria instituição. Não adianta reiterar que generais fardados ou de pijama, dentro ou fora do governo, são indivíduos falando em nome próprio, que não representam as Forças Armadas. O público não faz essa distinção.
A segunda “contribuição” foi o emporcalhamento da imagem externa do Brasil. Bolsonaro já trilhava esse caminho subordinando-se a Trump e nas posturas públicas em relação a meio ambiente, entre outras. Mas não há memória de um chefe de Estado que tivesse convocado ao palácio onde mora embaixadores do mundo inteiro para falar mal do próprio país. Bolsonaro garantiu lugar original na história. l