Na esteira de novas ameaças do presidente Bolsonaro às urnas eletrônicas, nomes como Walter Schalka, Fábio Barbosa e José Olympio Pereira fazem declarações em defesa da democracia
Empresários e executivos reafirmaram nesta sexta-feira, 22, dias depois dos recentes ataques do presidente Jair Bolsonaro às urnas eletrônicas, o seu compromisso com o sistema eleitoral e com o respeito às decisões democráticas no Brasil. Segundo apurou o Estadão, um documento relativo ao tema, a ser assinado por economistas e por personalidades do setor produtivo, está sendo preparado. O objetivo, segundo fontes, é ter um texto com “amplo apoio”.
Por ora, empresários vieram a público para lembrar o seu apoio a um manifesto de 2021. Lançado no ano passado, e já assinado por mais de 250 personalidades do mundo empresarial, o documento com o título “O Brasil terá eleições e seus resultados serão respeitados” voltou à tona nesta semana. Empresários que são símbolos do alto escalão econômico e que assinaram o texto no ano passado reafirmaram o compromisso com seu conteúdo.
O manifesto voltou à pauta por meio de uma mensagem publicada na rede social LinkedIn pelo presidente do grupo Natura & Co., Fábio Barbosa. O executivo, conhecido por seu compromisso com causas ambientais, compartilhou uma foto com a frase “Eleições serão respeitadas”, e escreveu: “Há cerca de um ano, estive muito envolvido nas discussões desde o princípio e fui uma das primeiras pessoas que assinaram o Manifesto – ‘Eleições serão respeitadas’. Agora que as eleições estão se aproximando, é ainda mais necessário reafirmar o nosso compromisso com a democracia no Brasil. Defender a democracia é papel de todo cidadão”.
“É muito bom ver que vários movimentos da sociedade estão acontecendo, naturalmente, sempre em defesa da democracia e da credibilidade do processo se votação. Não vamos esmorecer”, disse Barbosa ao Estadão, no fim da tarde desta sexta-feira.
O Estadão conversou com outros executivos que assinaram o manifesto de 2021 e que também reafirmaram seu apoio ao documento na esteira do evento promovido pelo presidente Jair Bolsonaro com embaixadores em Brasília em que o presidente colocou em dúvida o sistema eleitoral brasileiro, mesmo sem apresentar provas.
“A estabilidade institucional é um dos pilares que fazem do Brasil um destino atraente para o investimento estrangeiro. Colocá-la em risco é comprometer o nosso futuro como nação”, disse José Olympio Pereira, ex-presidente do banco Credit Suisse no Brasil e um dos nomes por trás da Bienal de São Paulo.
“A democracia é a base da nossa Constituição e é fundamental para construirmos uma sociedade mais justa para todos os(as) brasileiros(as)”, disse Walter Schalka, presidente da Suzano.
Amplo apoio
A busca por uma frente ampla de apoio no meio empresarial tem razão de ser: no ano passado, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) acabou retirando seu apoio ao documento, inicialmente gestado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban). O manifesto de apoio à democracia acabou perdendo força, até porque seu conteúdo gerou uma rusga na Febraban. Um dos principais críticos ao texto foi Pedro Guimarães, ex-presidente da Caixa, que recentemente deixou o cargo após denúncias de assédio sexual.
Com a mudança de gestão da Fiesp, na presidência de Josué Gomes da Silva, espera-se que, agora, a entidade assine o documento. Segundo uma fonte, a ideia é fazer um texto ponderado, mas com defesa firme ao sistema eleitoral e democrático. O tom seria parecido com a mensagem que Fábio Barbosa publicou no LinkedIn nesta sexta-feira.
O documento do ano passado contou com assinaturas de nomes como Affonso Celso Pastore, Alexandre Schwarstsman, Ana Maria Diniz, Armínio Fraga, Roberto Setubal (Itaú Unibanco), Frederico Trajano (Magazine Luiza), Guilherme Leal (Natura), José Gallo (Renner), Candido Bracher (Itaú Unibanco) e Luis Stuhlberger (fundo Verde), entre outros.
“O princípio chave de uma democracia saudável é a realização de eleições e a aceitação de seus resultados por todos os envolvidos. A Justiça Eleitoral brasileira é uma das mais modernas e respeitadas do mundo. Confiamos nela e no atual sistema de votação eletrônico. A sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias”, diz o documento.