Bolsonaro é o candidato do Centrão. Lira e sua turma são os grandes beneficiários do bolsonarismo que, sem realizações e sem propostas, usa a agressividade para distrair o eleitor
Apesar do discurso de que seu partido “é o Brasil” e que seu propósito no Palácio do Planalto é enfrentar e renovar o sistema político, a legenda de Jair Bolsonaro é o PL. O fiador de sua candidatura é o deputado Arthur Lira (PP-AL). A realidade está à vista de todos. Jair Bolsonaro é comparsa da mesma turma que, com o PT, assaltou o País com o mensalão e o petrolão – e que agora usufrui do dinheiro do contribuinte por meio do orçamento secreto e de amplo controle da máquina do Estado.
Na convenção, o enésimo ataque golpista de Bolsonaro ao Judiciário prestou-se a desviar a atenção do fato, incontornável, de que o político “outsider” que prometera acabar com a corrupção abraçou com gosto a turma fisiológica e, pior, permitiu a institucionalização de suas práticas nefastas. Os ataques contra o Supremo Tribunal Federal, as insinuações contra as urnas eletrônicas, o uso político das Forças Armadas – Jair Bolsonaro fala em “Exército que está do nosso lado” – e a convocação para o enfrentamento às instituições no 7 de Setembro são a tentativa de obnubilar o que realmente importa ao eleitor: o presidente não apenas entregará um País muito pior do que recebeu, como não tem nenhuma proposta de governo para os próximos quatro anos.
A convenção do PL foi a oficialização de uma candidatura absolutamente desprovida de conteúdo. Com pouco a apresentar sobre seu desastroso governo, o presidente da República convocou sua mulher, Michelle, para que atestasse sua qualidade de “escolhido de Deus”. Nessa condição mística, como se sabe, Bolsonaro se desobriga de governar e de se responsabilizar por seus atos. Faz o que lhe dá na veneta porque, afinal, é guiado por inspiração divina, razão pela qual seus atos e palavras prescindem de respeito às obrigações mundanas do exercício da Presidência – transparência, cuidado com a imagem do Brasil, defesa dos interesses da população e obediência à Constituição e às regras do jogo democrático. Não há governo nem proposta de governo. Mas ele “tem um coração puro, limpo, além de ser lindo”, assegurou Michelle Bolsonaro.
Aquele que almeja um segundo mandato não se deu ao trabalho de anunciar o que pretende fazer se for reeleito. Em mais de uma hora de discurso, além de garantir luta sem quartel contra o “comunismo”, limitou-se a prometer a extensão do Auxílio Emergencial de R$ 600, cuja aprovação requereu atropelar leis fiscais e regras constitucionais na desesperada tentativa de lhe trazer alguns votos entre os eleitores mais pobres.
Com razão, pode-se pensar: o discurso de Jair Bolsonaro é frágil e vazio, só engana quem quiser ser enganado. No entanto, não é um problema de mero convencimento. Há um explícito descumprimento da lei. Por exemplo, é crime de responsabilidade, previsto na Lei 1.079/1950 (Lei do Impeachment), “provocar animosidade entre as classes armadas ou contra elas, ou delas contra as instituições civis”. A convocação de Jair Bolsonaro para o 7 de Setembro não é simples ato de uma campanha política capenga. É o presidente da República instigando a animosidade da população – e, de forma muito especial, de policiais e militares – contra as instituições civis.
O desespero de Jair Bolsonaro é grande. O presidente escala sua campanha de agressividade contra o Judiciário e o sistema eleitoral, correndo até mesmo o risco de ter sua candidatura barrada, porque precisa esconder a real situação do País depois de sua gestão, a ausência de propostas para os próximos quatro anos e os verdadeiros interessados em sua reeleição – aqueles que de fato se beneficiaram com Bolsonaro no Palácio do Planalto e querem continuar se beneficiando. Não é por outro motivo que Arthur Lira, o dedicado bolsonarista que preside a Câmara, literalmente vestiu a camisa.