Bolsonaro retoma investida golpista, no que parece mais um esforço para fugir de inquéritos na Justiça
Menos de uma semana depois de ter conspurcado a imagem do país diante de embaixadores estrangeiros, Jair Bolsonaro retomou o figurino golpista neste domingo (24), durante a convenção do PL que oficializou o presidente como candidato à reeleição.
Seu alvo, desta feita, não foram as urnas eletrônicas; em vez de investir contra o equipamento que tem facilitado a lisura das eleições nas últimas décadas, o presidente mirou o STF (Supremo Tribunal Federal), órgão encarregado de salvaguardar a Constituição.
“Esses poucos surdos de capa preta têm que entender o que é a voz do povo. Têm que entender que quem faz as leis é o Poder Executivo e o Legislativo”, afirmou Bolsonaro, como se ignorasse a função do STF no arranjo institucional brasileiro.
O chamado, ao qual não faltaram metáforas marciais, tem o condão de demonstrar força —e é possível que lunáticos e ingênuos o tomem pelo valor de face. Quem observar pouco além da superfície, contudo, já perceberá o quanto há de desespero nessa manobra.
Reiteradas pesquisas de opinião têm colocado Luiz Inácio Lula da Silva (PT) como o preferido dos eleitores, e o calendário de Bolsonaro para reverter essa vantagem torna-se menor a cada dia.
Para o presidente, não é somente a perspectiva de perder o poder que assoma no horizonte; ao lado dela crescem também os tentáculos da Justiça, de cujo alcance os Bolsonaros se habituaram a rir nos últimos anos.
Deve-se a cortesia ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e ao procurador-geral da República, Augusto Aras. Irmanando-se na omissão e na pusilanimidade, o primeiro barra os mais de 140 pedidos de impeachment, enquanto o segundo age antes como advogado do governo.
Fruto da conjuntura política e do desarranjo republicano provocado por Bolsonaro, a comodidade de não se ver devidamente investigado deve mudar em eventual derrota eleitoral. O presidente sabe que, sem o aparato de blindagem de que hoje dispõe, suas chances de prosperar na Justiça comum tendem a zero.
Felizmente, como parece demonstrar o exemplo dos EUA na investigação acerca da invasão do Capitólio, há como conter a semente da destruição plantada por populistas e devolver às instituições o vigor necessário para punir aqueles que se voltaram contra elas.