A escalada do presidente Jair Bolsonaro contra as eleições surtiu efeito, isolando completamente o bolsonarismo do restante do País. A reação da sociedade em defesa da democracia é cada vez mais unânime, como se pôde constatar pelo apoio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) ao movimento em defesa do regime democrático e da Justiça Eleitoral organizado na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
A adesão da Fiesp ao ato em defesa da democracia, que será realizado no dia 11 de agosto, explicita pontos importantes. Em primeiro lugar, reitera o caráter plenamente apartidário da resistência democrática. Afinal, ninguém pode acusar a Fiesp de ser petista ou de favorecer a candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva. Ao anunciar sua ideia de participar do ato em defesa da democracia no Largo de São Francisco, em reunião com a diretoria da entidade na segunda-feira passada, o presidente da Fiesp, Josué Gomes da Silva, foi fortemente aplaudido. As palmas não eram a favor de determinado candidato. Eram o reconhecimento de que o momento do País demanda posicionamento firme e incondicional a favor do regime democrático.
O apoio da Fiesp ao movimento em defesa da democracia revela também que, com sua loucura de atacar as eleições, o bolsonarismo está rompendo a polarização. A sociedade pode ter muitas divisões a respeito de diversos temas, mas não está dividida em relação à defesa da democracia e ao respeito do resultado das eleições. Após a reunião com os embaixadores estrangeiros, em que acusou a democracia brasileira de não ser confiável, Jair Bolsonaro ficou inteiramente a pé. O resultado de seu golpismo é o isolamento. A sociedade está do lado da democracia e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
A contundente reação em defesa do regime democrático revela ainda outro aspecto fundamental. O ataque de Jair Bolsonaro às urnas eletrônicas não afronta apenas a integridade eleitoral – o que, por si só, é muito grave: inconstitucional, a ação é suscetível de ser enquadrada como crime de responsabilidade e como abuso de poder político e de autoridade. A escalada bolsonarista contra a democracia tem uma outra dimensão, explicitada pelo apoio da Fiesp ao movimento do Largo de São Francisco. Difundir desconfiança contra o TSE, criar confusão e instabilidade institucional, suscitar dúvidas se o resultado das eleições será respeitado, difamar a democracia nacional perante embaixadores estrangeiros – tudo isso causa danos diretos e imediatos ao País.
A defesa da democracia – o que inclui respeitar a legislação eleitoral e o Judiciário – não é uma defesa abstrata de ideias. É defesa imediata do interesse nacional. É defesa da paz e da ordem social, de forma a permitir que a população viva, trabalhe e descanse em tranquilidade. É defesa das condições mínimas para que o País possa se desenvolver social e economicamente. Não há ambiente de negócios que resista, não há possibilidade de o País superar a atual crise social e econômica com um presidente da República provocando a animosidade da população contra as eleições e contra as instituições democráticas.
Posicionar-se em defesa da democracia – como fizeram a Fiesp e tantas outras entidades, bem como inúmeras lideranças civis e políticas, professores, empresários, profissionais liberais, funcionários públicos, estudantes – não é uma escolha político-partidária. É uma escolha a favor do Brasil.
A reunião do dia 18 de julho com os embaixadores estrangeiros causou e continuará a causar, por muito tempo, perplexidade. Não é trivial entender como Jair Bolsonaro pôde aviltar de forma tão brutal o País e suas instituições. No entanto, aquela sinistra reunião é, ao mesmo tempo, a perfeita síntese do bolsonarismo. Não podia ser diferente. Os métodos de Jair Bolsonaro – seja ameaçar explodir bomba em quartel, seja ameaçar não respeitar as eleições – sempre foram opostos aos interesses nacionais. Felizmente, o País começa a se dar conta. Não é possível ficar indiferente. É preciso resistir.