É a menor diferença entre os rivais desde maio de 2021; Ciro e Tebet empacam e empatam
A mais recente pesquisa do Datafolha sobre a disputa pelo Palácio do Planalto mostra um cenário estável, com Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liderando a corrida de primeiro turno com 45%, ante 34% de Jair Bolsonaro (PL).
O presidente, contudo, oscilou positivamente dois pontos, dentro da margem de erro, e nominalmente esta é a menor distância entre eles desde maio de 2021. Realizado na quinta (8) e nesta sexta (9), o levantamento assim pôde medir o impacto imediato das grandes manifestações comandadas pelo presidente por ocasião do 7 de Setembro, na quarta.
Bolsonaro participou de comícios paralelos a eventos oficiais para o mesmo público em Brasília e no Rio, e em São Paulo houve concentração na avenida Paulista. Durante e após os atos, em que o presidente evitou criticar o sistema eleitoral e estimulou o golpismo explícito para os apoiadores, seus aliados montaram uma grande rede de distribuição de mensagens dando a ideia de que haveria uma “virada” em curso.
O Datafolha ouviu 2.676 pessoas em 191 cidades, em trabalho encomendado pela Folha e pela TV Globo sob o número BR-07422/2022 no Tribunal Superior Eleitoral.
Na pesquisa anterior, realizada na semana passada, Lula tinha os mesmos 45% e Bolsonaro, 32% De lá para cá, seguiram nas mesmas posições também Ciro Gomes (PDT), que oscilou negativamente de 9% para 7%, e Simone Tebet (MDB), que empacou nos 5%. Assim, ambos agora estão empatados tecnicamente.
Um possível apoio a mais a Bolsonaro pode ter vindo de eleitores do pedetista, dado que os brancos e nulos ficaram em 4% e os indecisos oscilaram para 3%.
O desempenho dos candidatos do pelotão inferior na corrida vem sepultando as chances de Lula vencer no primeiro turno, alimentadas pelo próprio ex-presidente, que disse nesta semana que “falta só um tiquinho”, num apelo ao voto útil do eleitorado do pedetista e da senadora.
Lula manteve os 48% de votos válidos, excluindo nulos e brancos, que é a forma com que a Justiça Eleitoral fecha as contas do pleito. Se alguém tiver 50% mais um voto, está eleito em primeiro turno. Com a margem de erro, o petista ainda pode estar próximo da metade necessária, mas a tendência é de queda: em maio, tinha 54%. Bolsonaro oscilou de 34% para 36% da semana passada para cá.
Ao contrário do impacto mais imediato de um acontecimento como o 7 de Setembro, segue a ser visto o efeito esperado pela campanha bolsonarista do Auxílio Brasil. O programa de transferência de renda que substituiu o Bolsa Família já teve sua primeira parcela toda paga em agosto, e até aqui não alterou significativamente o voto dos mais pobres.
Entre quem ganha até 2 salários mínimos, 50% da amostra deste levantamento, Bolsonaro ficou estável, com 26%, enquanto Lula tem 54%. A ajuda de R$ 600 chega a 20 milhões de famílias, e a maioria de quem o recebe direta ou indiretamente diz votar no petista (56%, ante 28% do presidente).
A expectativa do Planalto era de ver a iniciativa reverberando mesmo entre os mais pobres que não a utilizam. Para esses, e para segmentos intermediários de renda, a melhoria do cenário econômico e a queda no preço dos combustíveis operada pela intervenção de Bolsonaro na Petrobras pareciam uma aposta mais certa.
Tanto foi assim que o presidente havia subido entre aqueles que ganham de 2 a 5 mínimos, que somam 36% da amostra. Só que o efeito só durou até a pesquisa passada, quando a sua vantagem sobre Lula caiu de 13 para 3 pontos. Agora, ficou estável em um empate técnico: 41% para Bolsonaro, 37% para o antecessor.
O ex-presidente também vai bem melhor entre os menos instruídos, marcando 56% a 26% ante Bolsonaro, e nordestinos (60% a 23%).
O atual presidente tem vantagem entre quem ganha de 5 a 10 mínimos (8% da amostra), pontuando 49%, com Lula marcando 34%. Entre os mais ricos, que ganham mais de 10 mínimos mensais e compõem 4% do eleitorado, Bolsonaro vence com 42%, ante 29% do petista.
No embate pelo volumoso segmento feminino, 52% da amostra, as tiradas machistas do presidente no 7 de Setembro, quando puxou o coro de “imbrochável” e comparou sua mulher, Michelle, à de Lula e de outros, não mudaram o quadro. O petista oscilou de 48% para 46%, e Bolsonaro, de 28% para 29%.
No corte religioso, Bolsonaro manteve sua dianteira entre os 27% de evangélicos dessa pesquisa, pontuando 51% ante 28% do petista. Este lidera entre os mais numerosos, mas menos vocais politicamente, católicos (52% da amostra): tem 54%, enquanto o presidente marca 27%.
Uma mudança relevante se viu no Sudeste, região mais populosa do país, com 43% dos eleitores. Ali, a subida de Bolsonaro, que reduzira da pesquisa de agosto para a da semana passada a diferença para Lula pela metade, parou. Os números agora são estáveis: 41% para o ex-presidente, 36% para o atual.
Para Ciro e Simone, cuja oscilação positiva na pesquisa passada gerou ânimo nas suas campanhas, a pesquisa não trouxe boas notícias.
Por fim, em torno do traço do levantamento, estão Soraya Thronicke (UB), com 1%, e Felipe D’Ávila (Novo), Vera (PSTU), Leo Péricles (UP), Sofia Manzano (PCB), Constituinte Eymael (DC) e Padre Kelmon (PTB), todos sem pontuar. Pablo Marçal (Pros), que teve a candidatura impugnada e vai recorrer, também não chegou a 1%.